|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GOVERNO
Clóvis Carvalho foi a Fernando de Noronha; deputado pede ressarcimento
Ministro usou avião da FAB
para viajar no Carnaval
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
O Palácio do Planalto confirmou
que o chefe da Casa Civil, Clóvis
Carvalho, viajou em avião da FAB
no Carnaval para a ilha de Fernando de Noronha (PE). Mas, segundo
o governo, não houve ilegalidade.
A admissão aconteceu na noite
de quinta-feira, após a Folha ter
tentado obter, sem êxito, durante a
semana, alguém que confirmasse
ou desmentisse a notícia, publicada na edição da revista "Veja" que
foi às bancas no domingo.
O deputado Arlindo Chinaglia
(PT-SP) entrou com ação popular
contra Carvalho, com o fim de que
o dinheiro gasto na viagem seja devolvido aos cofres públicos.
Até o fechamento desta edição,
Clóvis Carvalho continuava sem se
manifestar sobre o assunto.
De acordo com a assessoria de
imprensa da Presidência da República, que reconheceu a ocorrência
da viagem, a legislação que regula
o Grupo de Transporte Especial
(GTE) da Força Aérea Brasileira
(FAB) não proíbe a utilização de
aviões por ministros para passeio.
O GTE foi criado pelo decreto
presidencial 40.626 de 27 de dezembro de 1956 e efetivado por
portaria do Ministério da Aeronáutica de 9 de agosto de 1957.
De fato, nenhum desses documentos, nem o regimento interno
do GTE, proíbe o uso de aviões por
seus usuários (presidente, vice e
ministros de Estado) em passeio.
Mas uma lei anterior (a de número 1.081, de 13 de abril de 1950), que
dispõe sobre o uso de carros oficiais (e, segundo Chinaglia, por
analogia, de outros meios de transporte oficiais), estabelece em seu
artigo quarto, que é "rigorosamente proibido" usá-los "no transporte de família do servidor do Estado" (alínea b) e "em passeio, excursão..." (alínea c).
"Extrema necessidade"
Além disso, em outubro de 1998,
o então ministro da Aeronáutica,
Lélio Viana Lôbo, mandou nota a
todos os ministros pedindo-lhes
que, em virtude das reduções orçamentárias impostas após a crise
russa, os aviões do GTE só fossem
requisitados, "em caso de extrema
necessidade", em missões oficiais.
Em janeiro, o ministro da Aeronáutica, Walter Werner Brauer,
em termos anda mais enfáticos, reforçou o pedido anterior, sugerindo que, até em missões oficiais,
quando possível, os ministros preferissem usar vôos de carreira.
A frota do GTE é composta por
dois Boeing 737-200, um Boeing
707 e dois helicópteros que servem
o presidente e 10 Learjet e 8 HS-125
que servem o vice-presidente e os
ministros de Estado.
No total, 40 autoridades podem
requisitar os serviços do GTE, que
poderá voar 6.400 horas em 1999,
de acordo com o Orçamento da
FAB, 43% a menos do que pudera
em 1998.
O vôo de Clóvis Carvalho, conhecido em Brasília por cobrar com
dureza de seus colegas ministros
medidas de contenção de gastos e
demonstrações de austeridade,
durou cerca de 12 horas.
Segundo o Centro de Comunicação Social do Ministério da Aeronáutica, não cabe à FAB avaliar a
natureza da missão requisitada
por um ministro. Ela atende a todos os pedidos na medida da disponibilidade atual de aeronaves.
O deputado Chinaglia disse ontem à Folha que, "como não lhe
restou alternativa senão confirmar
o fato, o governo busca desculpa
em lei que não dá sustentação para
alguém usar avião público para
passar férias com a família."
Ele disse estar seguro de que vencerá a ação popular e que, apesar
da quantia em questão ser "insignificante" (R$ 12 mil, pelos seus
cálculos), seu êxito "terá importante efeito demonstrativo para
que as autoridades deixem de usar
recursos públicos de maneira ilegal e, a meu ver, imoral."
Para o deputado, a atitude de
Carvalho "é ainda mais ofensiva
porque ele não tem se furtado a defender ajustes nas contas públicas
mediante supressão de direitos de
servidores públicos e aposentados
da Previdência Social."
Colaborou
Denise Madueño, da Sucursal de
Brasília
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Auxiliar perdeu cargo nos EUA Índice
|