São Paulo, terça-feira, 13 de abril de 2004

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CAMPO MINADO

Em SP, são 12 as propriedades tomadas; UDR vê "crime anunciado"

MST invade no Pontal; ação no país já atinge 67 fazendas

Georgiane Costa/ "Oeste Notícias"
Trabalhadores sem terra acampados na fazenda Santa Terezinha, no Pontal do Paranapanema


CRISTIANO MACHADO
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA,
EM PRESIDENTE PRUDENTE

Cerca de 900 integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram ontem e anteontem quatro fazendas no Pontal do Paranapanema (extremo oeste de SP).
Com isso, são 12 as propriedades tomadas pelo MST em São Paulo desde março, quando o movimento iniciou onda de protestos no país. No total, 67 áreas já foram invadidas em 14 Estados. Pernambuco é o líder em incursões (28). Uma das ações ocorreu ontem em Garanhuns, cidade natal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As invasões no Pontal foram as primeiras desde março na região, considerada foco do conflito agrário em São Paulo. Uma fazenda permanece tomada desde 17 de fevereiro em Sandovalina.
O presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Luiz Antônio Nabhan Garcia, 45, disse ontem que as ações são "crimes anunciados". "Essas foram as promessas do Stedile [João Pedro Stedile, líder do MST]. Disse que iria infernizar e está infernizando. Só não acredita quem não quer."
Líder nacional do MST, Stedile anunciou em março a atual onda de invasões e disse que o MST irá "infernizar". Posteriormente, na CPI da Terra, no Congresso, declarou ter sido "infeliz" ao usar o termo "infernizar" e afirmou que "azucrinar" seria mais correto.
Nabhan Garcia, que depõe hoje na CPI, cobrou uma "ação mais efetiva do governo federal para conter as ações do MST". "Não podemos viver mais neste estado de pânico. O governo está ignorando isso. Fala que vai coibir as ações violentas desse movimento, mas só fala, não cumpre. Parece estar de braços cruzados", disse.
O ruralista pretende pedir hoje uma audiência com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

Abril vermelho
A primeira invasão do "abril vermelho" no Pontal ocorreu na noite de domingo, em Santo Anastácio. Cerca de 350 sem-terra entraram na fazenda Santa Terezinha e acamparam a cem metros da sede. Funcionários acompanham à distância a ação no interior da propriedade, de 3.773 ha, que tem criação de gado de corte.
As demais invasões na região ocorreram na manhã de ontem em Presidente Epitácio, promovidas por um total de 650 sem-terra, de acordo com a Polícia Militar. Eles invadiram as fazendas Sul Mineira e Tupiconã. Boletins de ocorrência foram registrados.
Como a Tupiconã está dividida em nome de dois donos, MST e Itesp (Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo) consideram que houve duas invasões.
O coordenador regional do MST Wésley Mauch, 28, disse que as invasões "são uma forma de pressionar o governo paulista a cumprir a promessa de assentar 1.400 famílias no Pontal". Afirma que as áreas são improdutivas e devolutas (suspeitas de terem sido griladas). "Tivemos um longo período de trégua à espera do assentamento das famílias, e o que foi prometido não foi cumprido." Segundo ele, novas invasões vão ocorrer nesta semana na região.
Os sem-terra integram acampamento criado em 2003 por José Rainha Jr., que não participou das ações, mas esteve à tarde na fazenda Santa Terezinha. Ele se reuniu com o prefeito da cidade, Reinaldo Jerônimo Peres (PSDB).
Dois dos quatro proprietários que tiveram suas áreas invadidas desde domingo prometem pedir na Justiça a reintegração de posse.
Um deles, João Coelho Jr., um dos donos da Tupiconã, acusou o grupo de sem-terra de matar um boi e derrubar eucaliptos no local. Coelho Jr. se irritou com a acusação do MST de que a fazenda é improdutiva. "Ela é muito produtiva. Produz mais que o MST em todo o país." Segundo ele, a área é usada para criação de gados de corte e de leite e produz feno.


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