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CAMPO MINADO
Em SP, são 12 as propriedades tomadas; UDR vê "crime anunciado"
MST invade no Pontal; ação no país já atinge 67 fazendas
Georgiane Costa/ "Oeste Notícias"
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Trabalhadores sem terra acampados na fazenda Santa Terezinha, no Pontal do Paranapanema |
CRISTIANO MACHADO
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA,
EM PRESIDENTE PRUDENTE
Cerca de 900 integrantes do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram ontem e anteontem quatro
fazendas no Pontal do Paranapanema (extremo oeste de SP).
Com isso, são 12 as propriedades tomadas pelo MST em São
Paulo desde março, quando o
movimento iniciou onda de protestos no país. No total, 67 áreas já
foram invadidas em 14 Estados.
Pernambuco é o líder em incursões (28). Uma das ações ocorreu
ontem em Garanhuns, cidade natal do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. As invasões no Pontal foram as primeiras desde março na
região, considerada foco do conflito agrário em São Paulo. Uma
fazenda permanece tomada desde
17 de fevereiro em Sandovalina.
O presidente da UDR (União
Democrática Ruralista), Luiz Antônio Nabhan Garcia, 45, disse
ontem que as ações são "crimes
anunciados". "Essas foram as
promessas do Stedile [João Pedro
Stedile, líder do MST]. Disse que
iria infernizar e está infernizando.
Só não acredita quem não quer."
Líder nacional do MST, Stedile
anunciou em março a atual onda
de invasões e disse que o MST irá
"infernizar". Posteriormente, na
CPI da Terra, no Congresso, declarou ter sido "infeliz" ao usar o
termo "infernizar" e afirmou que
"azucrinar" seria mais correto.
Nabhan Garcia, que depõe hoje
na CPI, cobrou uma "ação mais
efetiva do governo federal para
conter as ações do MST". "Não
podemos viver mais neste estado
de pânico. O governo está ignorando isso. Fala que vai coibir as
ações violentas desse movimento,
mas só fala, não cumpre. Parece
estar de braços cruzados", disse.
O ruralista pretende pedir hoje
uma audiência com o ministro da
Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
Abril vermelho
A primeira invasão do "abril
vermelho" no Pontal ocorreu na
noite de domingo, em Santo
Anastácio. Cerca de 350 sem-terra
entraram na fazenda Santa Terezinha e acamparam a cem metros
da sede. Funcionários acompanham à distância a ação no interior da propriedade, de 3.773 ha,
que tem criação de gado de corte.
As demais invasões na região
ocorreram na manhã de ontem
em Presidente Epitácio, promovidas por um total de 650 sem-terra,
de acordo com a Polícia Militar.
Eles invadiram as fazendas Sul
Mineira e Tupiconã. Boletins de
ocorrência foram registrados.
Como a Tupiconã está dividida
em nome de dois donos, MST e
Itesp (Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo) consideram que houve duas invasões.
O coordenador regional do
MST Wésley Mauch, 28, disse que
as invasões "são uma forma de
pressionar o governo paulista a
cumprir a promessa de assentar
1.400 famílias no Pontal". Afirma
que as áreas são improdutivas e
devolutas (suspeitas de terem sido griladas). "Tivemos um longo
período de trégua à espera do assentamento das famílias, e o que
foi prometido não foi cumprido."
Segundo ele, novas invasões vão
ocorrer nesta semana na região.
Os sem-terra integram acampamento criado em 2003 por José
Rainha Jr., que não participou das
ações, mas esteve à tarde na fazenda Santa Terezinha. Ele se reuniu
com o prefeito da cidade, Reinaldo Jerônimo Peres (PSDB).
Dois dos quatro proprietários
que tiveram suas áreas invadidas
desde domingo prometem pedir
na Justiça a reintegração de posse.
Um deles, João Coelho Jr., um
dos donos da Tupiconã, acusou o
grupo de sem-terra de matar um
boi e derrubar eucaliptos no local.
Coelho Jr. se irritou com a acusação do MST de que a fazenda é
improdutiva. "Ela é muito produtiva. Produz mais que o MST em
todo o país." Segundo ele, a área é
usada para criação de gados de
corte e de leite e produz feno.
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