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BRASIL PROFUNDO
Pedido foi feito em ofício de dezembro ao ministro da Justiça
Para CPI, intervenção evitaria chacina
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A CPI do Garimpo, criada em
2003 pela Assembléia Legislativa
de Rondônia para investigar as
mortes e o garimpo clandestino
na terra indígena Roosevelt, em
Espigão d'Oeste (RO), pediu em
dezembro último, por meio de
ofício entregue nas mãos do ministro Márcio Thomaz Bastos
(Justiça), uma "intervenção federal" para impedir novas mortes.
A CPI queria a presença do
Exército na região, mas as tropas
nunca foram deslocadas. Na última quarta-feira, cerca de 30 índios da etnia cinta-larga atacaram
um grupo de garimpeiros e deixou pelo menos três deles mortos.
Vinte estão desaparecidos, de
acordo com os garimpeiros.
"[...] Nos dirigimos a Vossa Excelência para requerer a intervenção federal, inclusive com a presença do Exército, para garantir a
paz na região, impedindo mais
mortes e a extração ilegal de diamantes", afirmou o ofício, que
também antecipou: "Se o Exército
não for deslocado para a região,
com certeza haverá muito mais
mortes, daí o nosso apelo".
O presidente da CPI, Haroldo
Santos (PP-RO), disse que o governo prometeu agir, mas nada
foi feito. Ontem, ele voltou a pedir
uma ação do Exército.
No ofício de dezembro, a CPI
relata o quadro grave de insegurança na região e diz que isso só
seria superado se houvesse a "intervenção": "Intervenção, aliás,
senhor ministro, que solicitamos
a Vossa Excelência com o objetivo
principal, e urgente, de salvar vidas num momento no qual o conflito naquela área toma proporções alarmantes, não se sabendo
quantos foram mortos e quantos
podem ainda ser eliminados".
A assessoria do Ministério da
Justiça disse que o pedido da CPI
está sob análise desde dezembro,
porque "é complexo e envolve vários órgãos e instituições".
Ontem, o médico Nehil Lisboa
Filho concluiu os exames nos três
corpos encontrados na reserva e
trazidos a Ji-Paraná em helicóptero da Polícia Federal.
Dois dos corpos tinham cerca
de dez lesões profundas de armas
brancas (punhais, facas ou lanças)
no peito e na barriga, e o terceiro
recebeu um tiro no peito. Um dos
garimpeiros foi castrado. Devido
ao estado de decomposição do
corpo, a perícia não definiu se isso
ocorreu antes ou depois do assassinato. Dois dos garimpeiros tinham as mãos e os pés amarrados
com cordas de náilon, o que pode
significar que eles foram mortos
quando já estavam rendidos. Um
deles apresentava um sulco profundo no pescoço, o que pode indicar que foi enforcado.
Só um dos mortos havia sido
identificado até o final da tarde de
ontem. Trata-se do garimpeiro
Francisco das Chagas Saraiva, o
"Baiano Doido", que teve a tatuagem no tornozelo direito, a figura
de uma espada e um olho, reconhecida pela viúva, Maria Veras.
As circunstâncias do seqüestro
de Chagas, por índios cintas-largas no dia do conflito, haviam sido detalhadas na quinta-feira pelo garimpeiro Gerssi Mendes, em
depoimento prestado à Polícia Civil de Espigão d'Oeste.
Segundo Mendes, Saraiva corria
na mata ao seu lado, logo após o
início do ataque dos índios. O garimpeiro disse que o colega resolveu parar e escolheu entregar-se
aos índios para dialogar. Saraiva
teria dito a Mendes confiar que
seria solto pelos índios logo depois. Seu corpo foi achado mais
tarde pelo próprio colega.
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