São Paulo, sexta-feira, 13 de abril de 2007

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Coalizão vai além de 2010, diz Lula ao PMDB

Em jantar com partido, presidente afirma que circunstâncias históricas determinam posições ideológicas de políticos

Petista faz elogios a antigos adversários, prega projeto de longo prazo e declara que exercício da Presidência é o "ápice de um ser humano"


Alan Marques/Folha Imagem
Presidente Lula na saída de jantar na casa de Renan Calheiros


FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse anteontem, em jantar com o PMDB, que a posição ideológica de um político depende das circunstâncias e elogiou adversários históricos do PT. Disse ainda que o projeto da coalizão governista não termina em 2010 e que o "ápice de um ser humano" é a Presidência da República.
A Folha gravou o discurso feito por Lula no jantar, na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
"São as circunstâncias históricas que permitem que, em determinados momentos, a gente seja mais progressista, mais conservador, que a gente seja amarelo ou seja verde. Quem faz política não pode ser que nem a parede de uma hidrelétrica, "imexível" como diria o Magri [Antonio Rogério Magri, ministro do Trabalho no governo Collor]", disse Lula.
Ao exemplificar essas circunstâncias históricas, Lula se referiu aos ex-adversários Orestes Quércia e Jader Barbalho. "Qual é o cidadão que tinha pensamento progressista que, em 1974, não votou no Quércia para senador em São Paulo? Quem é o progressista deste país que, em 1978, não votava em Jader Barbalho para deputado federal no Estado do Pará?", perguntou.
Na campanha de 1994 à Presidência, Lula e Quércia protagonizaram bate-boca público. O peemedebista disse na ocasião que Lula nunca tinha dirigido nem um carrinho de pipoca. "Mas também nunca roubei a pipoca", respondeu o petista.
Já Jader foi obrigado a renunciar ao mandato de senador em 2001 em meio a denúncias de corrupção na Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia).
Ao elogiar e agradecer o apoio do senador e ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), Lula acabou fazendo um auto-elogio. "Se um dia vocês chegarem à Presidência da República, vão perceber que esse é o ápice de um ser humano. Não tem nada além disso."
O jantar, que contou com a presença de cerca de 180 pessoas, foi organizado para mostrar a unidade do PMDB.
Todo o discurso presidencial foi permeado pelo alerta da importância de construir uma aliança duradoura, baseada em projetos e programas.
"O nosso projeto não começa agora e não termina agora. O que vai acontecer com o Brasil a partir de 2010? A gente construiu um projeto de nação que tem que ter candidato a presidente, a vice-presidente, a governador, a deputado federal, a senador. Nós precisamos parar de ter medo de dizer essas coisas. Temos que continuar construindo um projeto que dê ao Brasil no século 21 aquilo que o Brasil jogou fora no século 20. E não foram poucas as oportunidades", disse ele.
Lula ressaltou que estava à vontade para falar porque não pode mais ser candidato à reeleição. "Não estou pensando no próximo mandato, estou pensando no que o meu neto vai colher neste país."
Depois de anunciar na entrada que vai chamar a oposição para conversar, Lula bateu em seus adversários durante o discurso a portas fechadas, dizendo que a eleição em segundo turno foi uma "lavada de alma".
"Durante um ano e meio infernizaram a minha vida e da minha família. Tentaram criar todas as infâmias que já se criou, e não só eu fui vítima delas. Getúlio [Vargas] foi vítima delas, Juscelino [Kubitschek], Sarney, porque João Goulart caiu por causa delas, porque Getúlio se matou por causa delas", afirmou Lula.

Ouça o discurso de Lula em jantar com PMDB

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