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ENTREVISTA/LAWRENCE PIH
Presidente do grupo Moinho rebate críticas de que mudança seria "golpe" e afirma que petista não é Chávez
3º mandato para Lula é democrático se sociedade quiser, diz empresário
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário Lawrence Pih,
65, presidente do grupo Moinho Pacífico, é favorável a um
terceiro mandato para que o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva possa prolongar o resgate
da população carente. "O projeto dele não está completo, e a
sociedade está satisfeita com
seu governo", diz.
Articulador de apoio empresarial nas últimas campanhas
do PT, Pih diz que "Lula, com
certeza, não é Chávez", não
imita a Venezuela. Para ele, os
empresários não dizem abertamente que apoiariam um terceiro mandato, mas "acham
que não seria ruim continuarem as coisas como estão".
FOLHA - O sr. é favorável ao terceiro mandato para o presidente Lula?
LAWRENCE PIH - Na conjuntura
atual, seria bom para o país. Pelo menos para que o programa
do presidente seja prolongado:
distribuição de renda, resgate
da população mais carente do
país, universo importante que
o governo conseguiu. O país está crescendo num ritmo maior.
FOLHA - Como o sr. vê as críticas ao
terceiro mandato?
PIH - Algumas pessoas dizem
que seria um golpe. É um processo democrático. Até sugeriram um plebiscito. Se houver
consulta à sociedade e a sociedade aprovar, seria a vontade
da maioria. Se a sociedade
aprova que o presidente Lula
merece um terceiro mandato,
porque o projeto dele não está
completo, e a sociedade está satisfeita com a forma de governo
que Lula vem conduzindo o
país durante oito anos, é democracia, meu Deus.
FOLHA - O governo está articulando o terceiro mandato?
PIH - Não. Quando a economia
vai bem, quando a popularidade do presidente está alta, o assunto vem à tona. Por que o ex-presidente FHC e seu governo
articularam o segundo mandato? Porque a popularidade dele
permitia, e não houve consulta
à sociedade. O Legislativo tomou para si a responsabilidade
e com gestões pouco elogiosas,
como as acusações de compra
de voto para mudar a Constituição. Essa conversa de golpe é
uma questão de conveniência.
FOLHA - Essa vontade resulta de
projetos como o Bolsa Família ou é
disseminada em toda a sociedade?
PIH - O Bolsa Família tem um
aspecto importante, o crescimento econômico também.
Hoje a população sente que está melhor do que oito anos
atrás. Você não pode dizer que
o governo usou o Bolsa Família
para tentar cooptar o eleitor. O
eleitor se sente bem ou não.
FOLHA - Os programas seriam relegados com a alternância de poder?
PIH - É possível que tenham
menos ênfase. Eu me lembro
de governos anteriores que defendiam a tese de crescer o bolo
antes de distribuir. Se um outro
governo for um pouco mais ortodoxo, haverá menos ênfase.
Para o governo Lula, resgatar
essa população carente é uma
questão muito cara.
FOLHA - A quem interessa agora o
debate sobre o terceiro mandato?
PIH - Naturalmente, vejo o governo, o partido do presidente e
a base aliada querendo manter
as coisas como estão: se manter
no poder. A oposição tem a
obrigação de tentar obter o poder. O PT não quis ser oposição
eternamente. Até usou de estratégias que não usava no passado para chegar ao poder.
FOLHA - O deputado Devanir Ribeiro fala pelo amigo presidente?
PIH - Não acho. Fala por segmentos do partido e pela base
aliada. Agora, tem que convencer o presidente de que esse seria um caminho. No passado, o
presidente disse que era contra
o terceiro mandato.
FOLHA - O presidente é sincero
quando diz que não pretende patrocinar mudanças na Constituição?
PIH - Sim. Ele vê com bons
olhos o projeto de o governo
continuar. Acredito que ele não
tem sede de poder. Uma das
acusações é a de que o governo
está tentando imitar o modelo
da Venezuela. Lula, com certeza, não é Chávez.
FOLHA - O sr. viu espontaneidade
no vice-presidente José Alencar ao
defender o terceiro mandato?
PIH - Vi. O vice critica o Banco
Central, fala com sinceridade.
É espontâneo, expressa sua
opinião, não a do governo.
FOLHA - A idéia do terceiro mandato atende à falta de candidatos fortes no PT para suceder Lula?
PIH - Acho que não existe candidato forte em lugar nenhum
do Brasil para suceder Lula, seja de oposição, seja do governo.
FOLHA - Ao divulgar o PAC ao lado
da "mãe do PAC", Lula não estaria
fazendo campanha eleitoral?
PIH - É interessante. Se não tivesse o PAC, diriam que o governo é inerte, não investe, não
se preocupa com infra-estrutura. Quando faz, criticam porque
é "eleitoreiro". Sempre haverá
motivo para criticar.
FOLHA - A ministra Dilma Rousseff
seria uma boa candidata?
PIH - A ministra é muito competente. Não tem carisma como o Lula. Ela não tem tanto
talento político, mas com certeza seria uma grande executiva.
FOLHA - Empresários querem o terceiro mandato? O sr. é voz isolada?
PIH - Muitos estão tendo resultados expressivos, estão vendo
a estabilidade econômica e que
o governo conduz com seriedade a economia. Acham que não
seria ruim continuar as coisas
como estão. Não dizem que
apoiariam um terceiro mandato, mas veriam com bons olhos
que as coisas fiquem como estão. Não têm do que reclamar.
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