São Paulo, terça-feira, 13 de abril de 2010

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Dilma nega que tenha criticado exilados

Petista disse no sábado que não foge quando a situação fica difícil; fala foi vista como crítica a Serra, que saiu do país durante ditadura

Pré-candidata caracterizou como má-fé a interpretação dada a seu discurso; "de onde tiraram que fugir da luta é se exilar?", questionou

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, respondeu ontem via Twitter as críticas de que seu discurso no sábado, em São Bernardo do Campo, teria sido um ataque a quem se exilou fora do país durante a ditadura militar.
"De onde tiraram que fugir da luta é se exilar? O exílio significou a diferença entre a vida e a morte para os exilados brasileiros. Grandes amigos meus, corajosos e valorosos, só tiveram uma saída na ditadura, se exilar", escreveu ela, que caracterizou como "má-fé" a interpretação dada a seu discurso.
No evento de sábado, com o presidente Lula, Dilma afirmou: "Eu não fujo da situação quando ela fica difícil. Eu não tenho medo da luta". Citou ter sido "maltratada" e ter apanhado no passado -durante a ditadura, Dilma foi torturada. "Em cada época da minha vida eu fiz o que fiz porque acreditei no que fazia", disse na ocasião.
A fala foi vista como uma crítica ao seu opositor, o pré-candidato ao Planalto, José Serra (PSDB), que durante a ditadura se exilou no Chile. Dilma permaneceu no Brasil durante o regime militar, indo para a clandestinidade.
A resposta da pré-candidata foi decidida durante reunião com seu núcleo de pré-campanha, em Brasília, antes que ela embarcasse para Fortaleza. De acordo com participantes do encontro, a ex-ministra afirmou que nunca poderia ter se referido a exilados, já que isso abrangeria a situação de vários de seus atuais aliados.
No final do dia, em nota, a assessoria de sua campanha afirmou que a leitura feita do discurso de sábado foi "totalmente equivocada".
A fala causou polêmica entre aliados e oposicionistas do governo. Senadores da oposição e da base aliada também rebateram ontem a declaração.
Segundo o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), "cada um fez o que pôde. Uns optaram pelo caminho bravo, mas insensato de imaginar que, empunhando armas, iriam derrotar o Exército regular. Outros, que tiveram que se exilar, exerceram uma militância indormida para desacreditar a ditadura brasileira perante os países que eles visitaram".
O tucano afirmou que a própria petista, "que teve coragem de empunhar armas sacrificando sua juventude", não se apresentou espontaneamente ao DOI-Codi. "Ela foi apanhada, presa. Se ela soubesse que seria pega, teria fugido."
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que considerou a fala da pré-candidata do PT uma "falta de respeito a Miguel Arraes, Leonel Brizola, Carlos Prestes e tantos outros, que, por não terem aderido às armas, não tinham quem os protegesse". "Se for assim, Lênin também foi um fujão. Ele ficou anos no exílio. Marx também. Muitos líderes da África do Sul passaram pelo exílio."
Petistas ouvidos pela Folha citaram os ataques "velados" à participação de Dilma na luta contra a ditadura feitos pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra, em discurso no sábado. Guerra afirmou que Serra foi "corajoso, não se curvou frente ao autoritarismo do regime militar, não sucumbiu à insensatez de atos irresponsáveis".
O presidente do PT, José Eduardo Dutra, afirmou que a interpretação foi uma forma de a oposição "transformar em polêmica o que não existe". "[Na ditadura] Não houve melhor nem pior", disse.
O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), afirmou ontem que a declaração de Dilma sofreu uma interpretação maldosa de alguns e errônea da imprensa. "Tenho certeza absoluta que ela não quis afetar o Serra. Ela estava falando dela mesma, que ela não foge da luta. Até porque ela tem vários amigos que foram exilados e contribuíram muito para o Brasil", disse. (ANA FLOR, NOELI MENEZES E MARIA CLARA CABRAL)



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