São Paulo, domingo, 13 de maio de 2001

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MEMÓRIA VIVA

Marechal fascinou seguidor

DA SUCURSAL DO RIO

Com 92 anos, Jorge Torres Gonçalves desce as escadas do Templo da Humanidade com a agilidade de um jovem. Depois de participar do culto, ele completa o ritual indo até à biblioteca da igreja, nos porões do prédio, onde toma um café com os confrades.
Sempre disposto a conversar e dono de uma memória invejável, Gonçalves lembra os dias em que conheceu o marechal Cândido Rondon, um dos mais ilustres fiéis da Igreja Positivista do Brasil.
"Em 1930, eu ainda morava em Porto Alegre, quando Rondon ficou detido por lá, a mando dos getulistas. Eu fiquei fascinado diante do homem que já era conhecido no mundo todo por proteger os índios brasileiros", conta Gonçalves.
Rondon era amigo de seu pai, Carlos Torres Gonçalves, membro do grupo que construiu uma capela da Igreja Positivista na capital gaúcha.
"Passei minha vida ligado ao positivismo, para onde fui trazido por minha família e onde continuo com a mesma energia dos primeiros anos", afirma Gonçalves.

Budismo
"Meu pai já frequentava esse templo em 1905. Ele me contava que ficavam pessoas para fora, tanto eram os interessados em ouvir as palavras de Teixeira Mendes e Miguel Lemos", conta o velho positivista diante de Fernando Barreto, 52, um budista que frequenta o Templo da Humanidade.
"A primeira vez que vim aqui, fui trazido por um amigo marxista. Isso foi em 1966. É interessante conhecer outra religião que não é centrada na figura de um deus", compara Barreto, que é vendedor e se assemelha com o músico Raul Seixas, ícone da geração que, há 30 anos, buscava uma vida alternativa.
Gonçalves se apressa em lembrar que Buda é uma das figuras históricas que Augusto Comte "identificou como um dos homens que contribuíram para o progresso da civilização".
"O positivismo e o budismo têm essa crença comum no progresso humano. É uma visão otimista do processo histórico que me agrada", declara Fernando Barreto.

Calendário
A reverência dos positivistas a Buda aparece no calendário especial elaborado por Comte, que inicia-se em 1789, ano da Revolução Francesa.
O dia 14 de janeiro do calendário corrente corresponde ao dia 14 de Moisés, na datação positivista, na qual um ano é composto por 13 meses de 28 dias, mais um dia especial festivo.
Meses e dias recebem nomes para homenagear personalidades da história. (ACF)


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