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MEMÓRIA VIVA
Marechal fascinou seguidor
DA SUCURSAL DO RIO
Com 92 anos, Jorge Torres
Gonçalves desce as escadas do
Templo da Humanidade com a
agilidade de um jovem. Depois
de participar do culto, ele completa o ritual indo até à biblioteca da igreja, nos porões do prédio, onde toma um café com os
confrades.
Sempre disposto a conversar e
dono de uma memória invejável, Gonçalves lembra os dias
em que conheceu o marechal
Cândido Rondon, um dos mais
ilustres fiéis da Igreja Positivista
do Brasil.
"Em 1930, eu ainda morava
em Porto Alegre, quando Rondon ficou detido por lá, a mando dos getulistas. Eu fiquei fascinado diante do homem que já
era conhecido no mundo todo
por proteger os índios brasileiros", conta Gonçalves.
Rondon era amigo de seu pai,
Carlos Torres Gonçalves, membro do grupo que construiu
uma capela da Igreja Positivista
na capital gaúcha.
"Passei minha vida ligado ao
positivismo, para onde fui trazido por minha família e onde
continuo com a mesma energia
dos primeiros anos", afirma
Gonçalves.
Budismo
"Meu pai já frequentava esse
templo em 1905. Ele me contava
que ficavam pessoas para fora,
tanto eram os interessados em
ouvir as palavras de Teixeira
Mendes e Miguel Lemos", conta
o velho positivista diante de Fernando Barreto, 52, um budista
que frequenta o Templo da Humanidade.
"A primeira vez que vim aqui,
fui trazido por um amigo marxista. Isso foi em 1966. É interessante conhecer outra religião
que não é centrada na figura de
um deus", compara Barreto,
que é vendedor e se assemelha
com o músico Raul Seixas, ícone
da geração que, há 30 anos, buscava uma vida alternativa.
Gonçalves se apressa em lembrar que Buda é uma das figuras
históricas que Augusto Comte
"identificou como um dos homens que contribuíram para o
progresso da civilização".
"O positivismo e o budismo
têm essa crença comum no progresso humano. É uma visão
otimista do processo histórico
que me agrada", declara Fernando Barreto.
Calendário
A reverência dos positivistas a
Buda aparece no calendário especial elaborado por Comte,
que inicia-se em 1789, ano da
Revolução Francesa.
O dia 14 de janeiro do calendário corrente corresponde ao dia
14 de Moisés, na datação positivista, na qual um ano é composto por 13 meses de 28 dias, mais
um dia especial festivo.
Meses e dias recebem nomes
para homenagear personalidades da história.
(ACF)
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