São Paulo, quinta-feira, 13 de maio de 2004

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Com a palavra, Lula

Lula vai recuar ou não? O Jornal Nacional jogou forte pelo recuo, em suas manchetes, pela ordem:
- A expulsão do jornalista é notícia no mundo todo como atentado contra a liberdade de expressão.
- O governo é criticado por entidades da sociedade civil, por políticos da oposição e também pelos aliados.
- Líderes dos partidos vão pedir ao presidente que reveja sua posição.
Com a palavra, Lula.
 
O "NYT" convocou Warren Hoge, um sereno e respeitável veterano de sua Redação e de Brasil, onde foi correspondente, para a nova reportagem em que busca dar ordem à repercussão do episódio. Não deixa de ser, à maneira do vetusto jornal, uma bandeira branca.
O texto entrou no ar ontem à noite, no site, relatando a reação da sociedade civil e de políticos brasileiros como FHC, que antes se colocavam ao lado de Lula na crítica ao jornal.
A nova reportagem destaca que "o líder brasileiro reafirmou o plano de expelir o jornalista do "Times'".
 
O jornal "La Nacion" foi longe no perfil do correspondente do "NYT" no Brasil, Larry Rohter, ameaçado de expulsão por Lula e que estaria na Argentina.
Relacionou em texto separado as "polêmicas" que Rohter teria acumulado durante a passagem pela Argentina:
- Em 2002, acusou Carlos Menem de ter recebido suborno de US$ 10 milhões de um agente iraniano para esconder suposta vinculação do Irã ao atentado contra a (sede da organização judaica) Amia.
Meses depois, "nova polêmica reportagem de Rohter relatava que os habitantes da Patagônia queriam um país independente" da Argentina.
E Mônica Bergamo, na Folha, citou que Rohter tinha de FHC "uma imagem bem diferente daquela que divulgou de Lula", mencionando reportagem de 2002 com "os maiores elogios" ao tucano.
Na internet, outras polêmicas surgem em torno de textos de Rohter, inclusive reportagem a respeito do venezuelano Hugo Chávez.
 
O mesmo site do "NYT" trazia pouco antes um despacho da agência Reuters, com o subtítulo "complô dos EUA?" e o relato de "conversas em Brasília de que o governo americano está por trás" de Rohter.
Citava para tanto declaração do líder tucano Arthur Virgílio, de que diante da reportagem "a política externa dos EUA" é que parecia bêbada.
 
Larry Rohter não tirou a sua reportagem do nada.
Brasília e os seus "bastidores" foram a fonte. Bastidores que continuam como antes.
Claudio Humberto insistia, ontem, na denúncia de compra de copos para bebida alcoólica pelo Palácio da Alvorada. E para quem queria saber como foi a decisão de expulsar o jornalista havia duas versões em torno do ministro Luiz Gushiken. Para Ancelmo Góis:
- Foi Gushiken, sempre ele, quem patrocinou a idéia.
Já para Ricardo Noblat:
- Gushiken foi voto vencido.

"ESSA GENTE"


A Fox News bem que se esforçou, mas as cenas da decapitação não foram o bastante para responder às outras imagens -da tortura de iraquianos por americanos. Há dias que a CNN, o "NYT" e outros expõem a controvérsia no governo americano, sobre a oportunidade de veicular as novas fotos.
Senadores viram ontem as imagens e até os partidários de George W. Bush saíram descrevendo como muito piores do que esperavam. O site Drudge Report destacou a declaração de um dos parlamentares republicanos:
- Não sei como essa gente foi parar no nosso Exército.
 
E tinha mais. A CBS anteontem entrevistou a soldado que protagonizou toda a primeira série de fotos (imagem acima) e que, na TV, responsabilizou seus superiores.
A mesma CBS voltou à carga ontem, no "60 Minutes II", com o "vídeo caseiro feito por um soldado na prisão de Abu Ghraib". Num "diário visual", não tinha cenas de "abuso", segundo a CBS, mas o próprio soldado dizia:
- Eu odeio aqui. Eu quero ir para casa. Quero voltar a ser civil. Nós atiramos em dois prisioneiros hoje.
 
A revista on-line Salon trouxe o comentário de que, com câmeras hoje à disposição de "virtualmente todos os soldados", "tudo mudou" na cobertura da guerra:
- O que é irônico sobre as fotos que estamos vendo é que os jornalistas não tiveram nada a ver com elas.

Sazonal
Míriam Leitão, falando no Bom Dia Brasil, informou que vêm aí notícias econômicas para o período eleitoral:
- O país está crescendo. E nos próximos meses devem sair bons números para a economia, como a queda do desemprego, que sazonalmente ocorre no fim do segundo trimestre.

Recuperação 1
O "Financial Times" destacou, em título e longa reportagem, que os dados sobre a indústria "se somam às evidências de crescimento do Brasil".
Uma segunda reportagem do "FT", também em sua edição de ontem, detalhou que agora é "o Brasil corporativo que começa a se recuperar".

Recuperação 2
O "Wall Street Journal" vê também ele boas notícias para as corporações latino-americanas, destacando a boa recepção às ofertas de ações por empresas como a Natura.

Brasil no Iraque
Em meio ao choque verbal de Brasil e EUA no caso "NYT", a BBC deu que o governo Lula foi "convidado para a reconstrução do Iraque". As empresas daqui poderiam participar em serviços e infra-estrutura.

Bom dia
Enquanto o "WSJ" trazia novo editorial contra os subsídios agrícolas, o Bom Dia São Paulo, da Globo, noticiava que "o bom desempenho do setor agrícola brasileiro tem chamado atenção de empresários da Europa e até da Ásia".
E seguia uns dinamarqueses pelo interior paulista.

Quase humilde
Em mais uma de suas palestras concorridas, agora aos donos de supermercados, FHC criticou, sem citar nomes, os políticos que "vendem ilusões", como destacou a CBN.
Mais importante, admitiu que ele próprio vendeu as suas, em campanha. Mas foi a pedido dos marqueteiros.


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