São Paulo, sábado, 13 de maio de 2006

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Compra de 17 milhões de fraldas é investigada

SERGIO TORRES
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

O mesmo modelo de fralda geriátrica comprado pelo governo Rosinha Matheus (PMDB) neste ano por R$ 0,88 a unidade foi adquirido no ano passado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) por apenas R$ 0,27. Ou seja, o Estado do Rio pagou mais do triplo, 226% a mais do que o governo federal, por um mesmo produto.
O TCE (Tribunal de Contas do Estado) investiga se houve superfaturamento na compra de um lote de 17 milhões de fraldas pelo Instituto Vital Brazil, do Estado. O produto é vendido pela Aloés Indústria e Comércio Limitada.
Preside a Aloés o pastor Altomir Régis da Cunha, vice-presidente da Adhonep (Associação dos Homens de Negócio do Evangelho Pleno), entidade evangélica a que é ligado o marido de Rosinha, Anthony Garotinho, pré-candidato à Presidência pelo PMDB.

Pregão presencial
Segundo o contrato firmado em 30 de janeiro, a Aloés tem direito a receber R$ 10,54 milhões do governo pela venda de 17 milhões de fraldas para adultos. A escolha da empresa se deu por meio do modelo de licitação chamado de pregão presencial. Outras duas empresas participaram. Segundo o processo em análise pelo TCE, a Aloés foi escolhida por ter apresentado o menor preço.
As fraldas são vendidas nas 18 farmácias populares que o governo Rosinha criou no Estado. O pacote com quatro fraldas custa R$ 1 no balcão. Levantamento feito pela Folha indica que o produto é o mais procurado nas farmácias populares, que só vendem remédios e fraldas a idosos e deficientes, sempre por R$ 1.
Funcionários de duas farmácias ouvidos pela Folha disseram que o produto está em falta. O motivo seria "problema de fabricação", conforme explicação apresentada à clientela. Em razão disso, foi estabelecido o limite de 24 pacotes mensais para cada cliente -cada pacote contém quatro fraldas.
Em 18 de abril de 2004, a Fiocruz realizou o pregão presencial para a aquisição de 349.200 fraldas, das quais 67.500 para adultos de 40 kg a 70 kg, os mesmo usuários das fraldas adquiridas pelo Estado quase um ano depois e em quantidades muito maiores.
A empresa contratada pela Fiocruz foi a Medstory Comércio de Produtos Hospitalares Limitada, de São Paulo. A Fiocruz não revelou quantas firmas concorreram -afirmou apenas que as fraldas foram destinadas ao Instituto Fernandes Figueira, unidade materno-infantil da fundação.
A diretora de administração da Fiocruz, Cristiane Sendim, não comentou a diferença de preços das fraldas. Ela afirmou apenas considerar que, nos pregões presenciais, onde o valor mais baixo deve ser o escolhido, é fundamental ter técnicos capacitados a atuar como pregoeiros.

Outro lado
A Folha tentou ouvir a Aloés e seu presidente sobre a compra das fraldas, mas a empresa não se manifestou. No Instituto Vital Brazil, em Niterói (15 km do Rio), funcionários informaram que não havia ninguém autorizado a prestar informações.


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