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Opinião
Papa comove multidões
Bento 16 mostra sintonia com jovens, ao apresentar aspirações e preocupações
DOM JOÃO CARLOS PETRINI
ESPECIAL PARA A FOLHA
FORAM IMPONENTES
os encontros do papa
com os jovens no Pacaembu e a celebração no Campo de Marte com uma multidão
extraordinária, não somente
por causa do número de participantes, mas pela intensidade
da participação, da expectativa
e da receptividade à figura do
papa e às suas palavras. Uma
das coisas mais impressionantes foi o diálogo que se estabeleceu entre os jovens e o papa não
somente porque Bento 16 ouviu muito jovem falar, cantar,
dançar, mas pela forma de
aplaudir, aclamar e silenciar
nos momentos oportunos, manifestando não somente afeto e
estima pelo sucessor de Pedro,
mas aprovação, concordância
pelas coisas que ele falava. A
mesma capacidade de dialogar
se repetiu no Campo de Marte.
Manifestou-se uma sintonia
entre os jovens, ao apresentar
suas aspirações e suas preocupações, e as palavras do papa,
tendo em comum uma postura
positiva diante dos problemas
percebidos.
O papa não falou aos jovens
como um vovô complacente
com as travessuras dos netos
para conquistar seus aplausos
nem como um velho saudoso
do passado, que chama a atenção para os preceitos que devem ser observados. Pelo contrário, apresentou aos jovens o
caminho da fé em Jesus Cristo
como um grande ideal, como
um caminho de grandeza e de
realização humana, que torna
possível, para quem o abraça,
viver intensamente e com significado todas as circunstâncias de sua vida. Falou de como
fazer para conseguir a vida
eterna, esclarecendo logo que
se referia não à vida depois da
morte, mas à existência humana no presente e no seu desenvolvimento futuro.
O papa sabe quanto é intenso
o desejo que os jovens têm no
coração de viver com satisfação
e o leva a sério, indicando a
comunhão com Cristo e com
os irmãos como meta ideal e como caminho cotidiano para
conseguir aquela felicidade que
dura no tempo e que não desaparece diante das provações
pelas quais inevitavelmente deverão passar.
Particularmente importante
para entender o pensamento
do papa foi o seu convite aos jovens para que cresçam na capacidade da amar, reconhecendo
o amor-paixão (Eros), experimentado como desejo de posse
da pessoa amada, para chegar,
através de um processo de amadurecimento e de purificação, a
compreender o amor como
dom de si mesmo para o bem da
outra pessoa, até mesmo com
sacrifício próprio. Afinal, esta é
a qualidade de amor que Jesus
tem para conosco e o tipo de
amor que pode durar toda a vida e dar fundamento estável a
uma família.
Ele indicou passos para concretizar no dia a dia esse ideal,
de modo que sintam o gosto de
estudar, amar e constituir uma
família, trabalhar, gerar filhos e
educá-los, construindo comunidades de vida fraterna, ambientes de solidariedade, uma
sociedade justa, na paz.
O papa quis encontrar também os jovens em recuperação
de dependências químicas, na
Fazenda da Esperança, em
Guaratinguetá. Ele sabe que
muitos jovens, movidos pela
busca da felicidade, caem em
armadilhas tremendas, que
ameaçam a saúde, a paz da família e da sociedade, a integridade física, a possibilidade de
crescer e desenvolver os próprios talentos e de contribuir
na construção de uma sociedade melhor.
Mas é comovente a paternidade com a qual o papa convida
esses jovens, e quantos porventura entraram por esses caminhos, a recomeçar uma nova vida, a reacender a esperança, reconstruir o próprio presente e,
ainda mais, o próprio futuro,
confiando na graça de Jesus, na
sua presença amorosa e
apoiando-se nos irmãos que
podem ajudá-los.
No Campo de Marte se fez visível o povo de Deus, o povo que
tem no Evangelho o seu ponto
de referência para viver o cotidiano com energia, com esperança, com uma extraordinária
capacidade de trabalhar para
cuidar de suas famílias, para
perdoar-se e construir relacionamentos de fraternidade, para
difundir um clima de solidariedade e de paz mesmo nos contextos da maior violência.
O clima de festa e, ao mesmo
tempo, de seriedade na atenção
e na escuta do papa que se observava no Pacaembu e no
Campo de Marte, revelava a
consciência do drama que as
pessoas vivem e, simultaneamente, a esperança de que a vitória de Cristo sobre a morte
atua e tudo encaminha para um
destino bom.
DOM JOÃO CARLOS PETRINI
é bispo auxiliar de Salvador e
doutor em Ciências Sociais
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