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Presidência compra 595 marmitas com cartão corporativo no Pará
Despesa, no valor de R$ 3.808, feita em viagem de Lula em 2004, foi classificada pelo governo como "sigilosa" e está sendo analisada pelo TCU e pela CPI
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Presidência usou cartão
corporativo para comprar 595
marmitas e o mesmo número
de refrigerantes durante uma
viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Pará, em fevereiro de 2004, na qual 40 auxiliares de apoio acompanharam a comitiva, que passou cerca de quatro horas no Estado e
chegou após o almoço.
A despesa foi classificada como "sigilosa" e está sob análise
da CPI dos Cartões e entre documentos requisitados pelo
TCU (Tribunal de Contas da
União) para auditoria.
A compra foi feita no restaurante Sinhá Norte Comércio e
Representação, que vende comida popular, por um dos ecônomos (servidor que cuida dos
gastos) que serve ao presidente,
Clever Pereira Fialho. O custo
foi de R$ 3.808. Cada marmita
custou R$ 5 e os refrigerantes,
R$ 1,40, segundo a nota fiscal
1.142, a que a Folha teve acesso.
Na viagem, o ecônomo pagou
R$ 8.155 no hotel Hilton por
hospedagem de assessores. Notas indicam que 40 funcionários acompanharam Lula. Há
despesa de R$ 259 com refeição de 37 motoristas no hotel
no dia 26, mesma data em que
as marmitas foram compradas.
Francielle Sebonatto, que informou ser dona do restaurante, contou que marmitas foram
levadas ao evento pela equipe
de Lula e que foi informada de
que eram para a comitiva.
O pedido, disse Franciele, foi
para que se colocasse comida
simples como arroz, feijão, bife
e salada. A comida, disse, foi
servida na hora do almoço.
Ela disse que, após ser questionada pela Folha, a Presidência a procurou querendo saber
se a nota não era fria. "Me ligaram para ver a veracidade, se a
gente é um restaurante."
A Folha questionou por três
dias a Casa Civil para que informasse o motivo da compra de
595 marmitas e qual a comitiva
que acompanhou Lula. Após
três dias de contato, a assessoria da Casa Civil informou que
o órgão não iria se pronunciar.
O único compromisso de Lula em Belém naquele 26 de fevereiro de 2004 foi uma visita à
bacia de Tucunduba. Ficou cerca de quatro horas na cidade,
depois foi para a Venezuela, para reunião do G15.
Seu discurso estava marcado
para as 15h30, mas, segundo
jornais locais, só começou às
18h. Lula teria desembarcado
às 15h50. Antes de ir para o palanque, visitou as obras. Apesar
do atraso, centenas de pessoas
participaram do evento.
Lula estava acompanhado
dos então ministros José Dirceu (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Previdência), Ciro Gomes (Integração Nacional) e dos atuais Marina Silva (Meio
Ambiente) e Celso Amorim
(Relações Exteriores).
O gasto chamou a atenção de
oposicionistas, que acusam o
governo de ter oferecido "bolsa
marmita" para manter o público no ato. "Se foram compradas
595 refeições num dia, se demonstra um gasto injustificado
e que demandará investigação
de TCU e CPI", disse o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP),
sub-relator de sistematização
da CPI. Para o deputado Vic Pires Franco (DEM-PA), não é
possível que a comitiva reúna
595 pessoas nem que quentinhas a R$ 5 tenham sido servidas aos ministros.
Governistas defendem o gasto. "O presidente fez uma visita
ao Complexo do Alemão, no
Rio, imagine a logística que isso
envolve", comparou o relator,
deputado Luiz Sérgio (PT-RJ).
A CGU entende que o cartão
não pode ser usado para pagar
refeição a terceiros, mas não
comenta o caso por se tratar de
despesa da Presidência, que
tem órgão de controle interno.
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