São Paulo, quarta-feira, 13 de maio de 2009

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Festa de sindicato vira ato de apoio a Dilma

Apesar de homenagens à ministra, sindicalista causou constrangimentos ao defender 3º mandato para Lula, convidado de honra

Ministra, durante discurso, citou o nome de muitos dos presentes ao evento e falou da importância do sindicato na luta contra a ditadura


JOSÉ ALBERTO BOMBIG
FERNANDO BARROS DE MELLO

DA REPORTAGEM LOCAL

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC transformou ontem à noite, em São Bernardo do Campo (SP), sua festa de aniversário em um evento de "apoio e solidariedade" à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), que luta contra um câncer e é pré-candidata do PT a presidente na eleição de 2010.
Não faltou, no entanto, uma defesa explícita de um terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que constrangeu a ministra e uma parte da plateia.
Lula chegou à comemoração dos 50 anos da entidade, que ele presidiu de 1975 a 1981, acompanhado da primeira-dama, Marisa Letícia, e da ministra da Casa Civil. No ápice da homenagem a Dilma, a plateia saudou a petista incluindo seu nome no jingle da campanha de Lula em 1989: "Olê, olê, olê, olá/Dilma, Dilma lá". Também explodiram gritos de "2010, se Deus quiser" e "está eleita".

Terceiro mandato
Um dos componentes da mesa, Paulo Vidal, antecessor de Lula no comando do sindicato até 1975, entretanto, passou ao largo da homenagem e, ao discursar, defendeu um terceiro mandato para o petista.
"Imaginar pura e simplesmente que politicamente seria importante cumprir as normas constitucionais e tirar o Lula da Presidência, eu acho que todos nós temos que repensar isso", afirmou ele, que, logo em seguida se desculpou: "A companheira Dilma que me perdoe".
A plateia não se manifestou, e Lula fechou a cara. Mais tarde, o presidente chamou o sindicalista para uma conversa reservada, que terminou com uma troca de afagos e sorrisos. Antes disso, ao ser apresentada oficialmente, Dilma foi saudada com entusiasmo pelas 500 pessoas que lotavam o salão principal do sindicato, ofuscando a entrada do próprio Lula.

Ditadura
Em seguida, após a exibição de um vídeo que contou parte da história do sindicado com ênfase no período da ditadura (1964-1985), Dilma foi presenteada com um buquê de flores.
Houve mais aplausos e gritos de "tá eleita!". A ministra agradeceu apenas com sorrisos.
O presidente do sindicato, Sérgio Nobre, retomou o tema da luta contra o câncer. Disse que Dilma era uma guerreira e que da sua vitória dependia a continuidade do processo histórico iniciado no sindicato e levado até o poder por Lula.
"Um guerreiro reconhece o outro quando o vê. A gente sabe que você é guerreira e estamos juntos na sua luta para superar todos os problemas porque a continuidade dessa história depende muito de você", disse ele.
Em seu discurso, que durou cerca de 15 minutos, a chefe da Casa Civil não comentou a homenagem. Pausadamente, citou o nome de muitos dos presentes e se concentrou na importância do sindicato no combate à ditadura.
"O vídeo foi muito forte, ele mostra a história do nosso país e a gente tem sempre que saber de onde nós viemos. E nós viemos de um conjunto de lutas que o Brasil viveu. No ABC, as forças democráticas começaram a devorar a ditadura", afirmou Dilma, que atuou em organizações de esquerda e foi presa pelos militares. A partir de 1978, o Sindicato do ABC promoveu as maiores greves no país desde o golpe de 1964.
Em seu discurso, Lula exaltou o passado de militante da ministra. Segundo ele, Dilma era "uma menina de 20 anos" quando foi presa e torturada por "acreditar em utopias".


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