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Negros ainda são vítimas de escravidão
De cada 4 trabalhadores libertados no país, 3 são pretos ou pardos, diz estudo de economista da UFRJ
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Passados 122 anos desde a
Lei Áurea, 3 em cada 4 trabalhadores libertados de situações análogas à escravidão hoje
são pretos ou pardos.
É o que mostra um estudo do
economista Marcelo Paixão, da
Universidade Federal do Rio de
Janeiro, feito a partir do cadastro de beneficiados pelo Bolsa
Família incluídos no programa
após ações de fiscalização que
flagraram trabalhadores em situações que, para a ONU, são
consideradas formas contemporâneas de escravidão.
São pessoas trabalhando em
situações degradantes, com
jornada exaustiva, dívidas com
o empregador -que o impedem de largar o posto- e correndo riscos de serem mortas.
Paixão, que publica anualmente um Relatório de Desigualdades Raciais (ed. Garamond), diz que foi a primeira
vez em que conseguiu investigar a cor ou raça desses trabalhadores, graças à inclusão do
grupo no Bolsa Família.
Os autodeclarados pretos e
pardos -que Paixão soma em
seu estudo, classificando como
negros- representavam 73%
desse grupo, apesar de serem
51% da população total do Brasil. Tal como nas pesquisas do
IBGE, é o próprio entrevistado
que, a partir de cinco opções
(branco, preto, pardo, amarelo
ou indígena) define sua cor.
Para o economista, "a cor do
escravo de ontem se reproduz
nos dias de hoje. Os negros e índios, escravos do passado, continuam sendo alvo de situações
em que são obrigados a trabalhar sem direito ao próprio salário. É como se a escravidão se
mantivesse como memória".
Pretos e pardos são maioria
entre a população mais pobre.
Segundo o IBGE, entre os brasileiros que se encontravam
entre os 10% mais pobres, 74%
se diziam pretos ou pardos.
Para Paixão, ainda que hoje a
cor não seja o único fator a determinar que um trabalhador
esteja numa condição análoga à
escravidão, o dado sugere que
ser preto ou pardo eleva consideravalmente a probabilidade.
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