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QUESTÃO AGRÁRIA
Dos 145 réus, 3 serão julgados dia 20 e só 2 foram condenados
124 PMs são absolvidos
no julgamento de Carajás
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
O julgamento do massacre de
Eldorado do Carajás (sul do Pará), onde morreram 19 sem-terra
durante confronto com a Polícia
Militar em 17 de abril de 1996,
chegou praticamente ao fim ontem com a absolvição do grosso
da tropa envolvida -124 PMs.
Outros três serão julgados em
separado no dia 20 e devem ter o
mesmo veredicto. Com isso, só
dois PMs receberam sentenças.
Com 120 horas em cinco sessões
separadas, o julgamento foi o
maior da história do Brasil em número de réus -145 ao todo.
Em 10 mil páginas de processo e
passados seis anos e 56 dias do dia
do confronto, o Ministério Público do Pará não conseguiu provas
para individualizar as culpas. Defendeu então a tese de co-autoria
em todas as mortes.
A tese foi rechaçada pelos jurados. Ontem, a maioria do júri absolveu os policiais por 5 votos a 2.
Dos 18 julgados nas quatro sessões anteriores, 16 foram absolvidos. O coronel Mário Pantoja, que
comandou a tropa de Marabá, foi
condenado a 228 anos de prisão.
O major José Maria Oliveira pegou 158 anos.
Pantoja e Oliveira estão recorrendo em liberdade por serem
réus primários. A legislação brasileira não permite que uma pessoa
permaneça mais de 30 anos presa.
Estava previsto para ontem o
julgamento de 127 PMs, mas a
Justiça desmembrou o júri de três
deles para o próximo dia 20. O nome de Jailton Oliveira da Silva foi
grafado errado no processo, Lindon Johnson Lima está foragido e
teve a prisão decretada, e Genedir
Chagas Freitas não compareceu,
alegando problemas de saúde.
Ao todo foram absolvidos 143
policiais e dois foram condenados, somando 145 militares. No
dia do confronto, as duas tropas
tinham 155 policiais. Dos 10 restantes, 6 morreram, 3 foram retirados do processo porque não estavam no local do confronto e 1
alegou insanidade mental e
aguardará decisão judicial.
Dirigentes do MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) no Pará ameaçam iniciar
uma onda de invasões nas próximas semanas em represália.
Representantes de direitos humanos que acompanharam o julgamento ficaram revoltados. "Como pode: morreram 19 pessoas,
os mandantes foram condenados,
mas os executores, absolvidos?",
questionou a subprocuradora da
República e procuradora federal
dos Direitos do Cidadão, Maria
Eliane Menezes de Faria.
A procuradora encaminhará
um relatório para a OEA (Organização dos Estados Americanos),
criticando o julgamento.
O Ministério Público vai recorrer, pedindo a anulação do julgamento. Os advogados de defesa
sustentaram a tese de que, sem
provas concretas, não havia como
imputar o crime a todos.
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