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Mercado paga mais a branco que a negro
DA SUCURSAL DO RIO
A melhoria da escolaridade da
população negra e parda no Brasil
não é suficiente para acabar com a
desigualdade racial no mercado
de trabalho. A Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, divulgada
ontem, mostra que negros e pardos têm renda média menor que a
dos brancos, mesmo quando são
comparados grupos com o mesmo nível de escolaridade.
Os números do IBGE mostram
que, quanto mais tempo uma pessoa estuda, maior é seu rendimento médio. Esse acréscimo na
renda, no entanto, acontece de
maneira diferenciada para brancos, negros e pardos.
Um negro ou pardo com até
quatro anos de estudos completos
(chegou, no máximo, à 4ª série)
recebe em média, por cada hora
de seu trabalho, R$ 1,50. Um trabalhador branco com essa mesma
escolaridade tem rendimento melhor: R$ 2,30 por hora trabalhada.
A diferença a favor dos brancos
aumenta em valores absolutos e
permanece praticamente inalterada em termos relativos quando
se compara a renda de trabalhadores com mais escolaridade.
Com nove a 11 anos de estudo, a
média de rendimento do negro
ou pardo é de R$ 3,10 para cada
hora de trabalho. Entre os brancos, esse rendimento é de R$ 4,40.
Entre os trabalhadores que conseguem, ao menos, estudar um
ano no ensino superior (12 anos
ou mais de estudo), negros e pardos ganham em média R$ 8,30
por cada hora do seu trabalho,
contra R$ 11,80 dos brancos.
Para o pesquisador do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) Sergei Soares, autor de
um estudo sobre desigualdade racial, os efeitos do preconceito não
começam no mercado de trabalho: "Um terço da discriminação
ocorre hoje, no mercado de trabalho, mas dois terços vêm do passado, quando houve discriminação na escola e contra as gerações
passadas".
O economista André Urani, do
Instituto de Estudos do Trabalho
e Sociedade, concorda: "Não basta dizer ao empregador que pare
de discriminar para que se chegue
à igualdade. O grosso do diferencial a favor dos brancos ainda se
deve ao fato de eles terem entrado
no mercado de trabalho em uma
condição melhor".
Para Urani, o preconceito no
mercado é mais evidente entre os
trabalhadores com menor escolaridade: "A qualidade da educação
no ensino superior pode variar
muito e isso pode interferir no
rendimento do trabalhador no
mercado. Entre os que não completaram quatro anos de estudo,
no entanto, faz pouca diferença.
Nesse caso, é inegável que o preconceito é a principal explicação".
Para o pesquisador Marcelo
Paixão, do Instituto de Economia
da UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro), a expectativa
que os próprios trabalhadores
têm do seu potencial também são
fatores que podem explicar essa
situação.
"Um negro com quatro anos de
estudo pode achar que não é capaz de trabalhar numa fábrica e
acaba procurando emprego como faxineiro, por achar que sua
cor pode ser mal vista ou mal aceita. É uma expectativa de preconceito", diz.
Como resultado da discriminação sofrida ao longo dos anos, a
Síntese mostra que, em 2001,
87,2% dos brasileiros que pertenciam ao 1% mais rico da população eram brancos. Entre os brasileiros incluídos entre os 10% mais
pobres, 67,3% deles eram negros
ou pardos. No total da população,
53,4% se declararam brancos,
5,6%, negros e 40,4%, pardos.
Gênero
O mercado de trabalho discrimina também as mulheres, que
na última década já passaram os
homens nos indicadores de escolaridade média. Essa melhor situação feminina na educação, no
entanto, ainda não se refletiu no
mercado. O rendimento médio
da população ocupada feminina
também é inferior ao da masculina, mesmo quando se comparam
grupos com mesma escolaridade.
Além de ganharem menos,
82,3% das mulheres em idade ativa (25 a 29 anos) têm ao menos
um filho, o que as obriga a uma
dupla jornada de trabalho.
No entanto, os pesquisadores
do IBGE afirmam que a desigualdade no rendimento das mulheres, em relação ao dos homens,
vem diminuindo nos últimos 30
anos, fato que não ocorre de maneira significativa na comparação
entre negros, pardos e brancos.
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