São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Petistas descartam autonomia do BC na 2ª gestão Lula

Programa do partido para a reeleição marca distância de idéias liberais defendidas pelo ex-ministro Antonio Palocci

PT critica eliminação do déficit público, tese apoiada pelo ex-ministro; presidente já negocia apoio para nova agenda de reformas


FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva será um tiro no "paloccismo", sem espaço para teses como autonomia do Banco Central ou déficit zero. As primeiras pistas sobre o documento, a ser divulgado em 15 de julho, foram dadas ontem em Brasília. Permanecem os compromissos com a estabilidade e o superávit primário, mas o PT marca distância de medidas "liberais" defendidas pelo ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda) ou seu fiel discípulo ainda no governo, Paulo Bernardo (Planejamento). A autonomia do BC ficaria descartada até 2010. "Isso seria retirar o controle democrático da sociedade", disse o presidente do PT, Ricardo Berzoini. Os defensores da medida afirmam que ajudaria na queda dos juros, livrando a instituição de pressões. Outra tese que tem a simpatia de Palocci e Bernardo, a eliminação total do déficit público, também foi bombardeada pelos petistas. Segundo Berzoini e o coordenador-geral do documento, Marco Aurélio Garcia, a proposta é sinônimo de corte nos programas sociais. Uma meta alternativa, segundo Berzoini, seria manter a taxa de juros real [descontada a inflação] entre 7,5% e 8% ao ano, com superávit primário de 4,25%. Hoje, o juro real está um pouco acima dos 10%. Ao comentar promessa tucana de reduzir despesas, Garcia atacou o corte de gastos e a redução de impostos, embora reconheça o peso da carga tributária. "Corte de custeio significa diminuição dos gastos sociais, dificultar o funcionamento da máquina do Estado." Também tem chance nula de entrar no programa de governo outra idéia cara aos economistas liberais, com a qual já flertaram Palocci e o próprio Lula: a desvinculação entre o aumento do salário mínimo e das aposentadorias. O objetivo seria ter mais espaço para reajustar o mínimo, sem o risco de criar um rombo na Previdência. Para Berzoini, há alarmismo com as contas da Previdência. "É equivocada a tese do rombo explosivo. Os que dizem isso são os que querem cortar o pagamento a 7 milhões de famílias que recebem aposentadoria rural", disse.

Reformas
O presidente licenciado da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), anunciou ontem que não disputará mais o governo de Pernambuco e que apoiará Humberto Costa, do PT. Segundo o parlamentar, em encontro na semana passada, Lula disse que precisará de seu apoio na Câmara, caso consiga se reeleger. O presidente negocia diretamente com parlamentares pensando em apoios futuros para aprovar uma nova agenda de reformas, incluindo as da Previdência e tributária. No final deste mês, a CNI vai elaborar uma agenda fundamental para o próximo governo, que inclui "as reformas tributária, trabalhista - acoplada à sindical-, e um novo ciclo de reforma da Previdência", além da definição do papel das agências reguladoras.


Colaborou MALU DELGADO , da Reportagem Local

Texto Anterior: Heloísa Helena condena invasão da Câmara pelo MSLT
Próximo Texto: Análise: Taxa de juros esperada nunca foi atingida
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.