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Contador diz ter discutido pagamento com ministro
Polícia não investigou declarações sobre envio do dinheiro a um paraíso fiscal
Ministro da Justiça volta a negar ter recebido recursos no exterior em 93 e afirma que somente fez remessas para a Suíça a partir de 1994
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O contador Carlos Roberto
Alves, ex-diretor financeiro da
agropecuária Ermovale, de Ibaté (SP), afirmou à Polícia Federal em 2003 que tratou com o
então advogado dos donos da
empresa, Márcio Thomaz Bastos, hoje ministro da Justiça, o
pagamento de US$ 4 milhões
como honorários advocatícios.
A conversa teria ocorrido em
meados de 1993 no escritório
do advogado na avenida Liberdade, no centro de São Paulo.
Dias depois do suposto encontro, a agropecuária tomou um
empréstimo de US$ 4 milhões
no banco Excel, em São Paulo, e
remeteu o dinheiro ao paraíso
fiscal de Liechtenstein, na Europa, onde foram adquiridas
ações da empresa offshore
Piermont Corporation, cujos
donos são desconhecidos.
O depoimento integra o inquérito aberto pela Polícia Federal em 2003 e arquivado no
STF (Supremo Tribunal Federal) em 2004. Em cinco entrevistas à Folha na semana passada, o dono da agropecuária,
Ivo Morganti Júnior, e sua
mãe, Maria Dirce Morganti, revelaram que a remessa ao exterior destinou-se ao pagamento
dos honorários de Bastos.
O advogado defendeu ambos
da acusação de terem participado do homicídio do pai de
Júnior, Ivo Morganti, em fevereiro de 1982. O filho foi absolvido, e a viúva, indultada.
Thomaz Bastos também
atuou, segundo o contador, nos
processos judiciais que buscaram reintegrar à família o patrimônio bloqueado à época
pela Justiça, avaliado em US$
150 milhões, segundo ele.
Segundo Ivo Morganti Jr., a
conta bancária que recebeu o
dinheiro foi indicada por Bastos e a operação foi realizada
pelo Excel. No inquérito, ele
não havia declarado que o destino final do dinheiro era Bastos: dissera que a remessa ao
exterior foi uma forma de investimento para proteção do
patrimônio da empresa.
Segundo o delegado da PF
que conduziu o inquérito,
Moacir Moliterno, hoje chefe
da Interpol, as declarações de
Morganti são "um fato novo",
que poderiam levar a Procuradoria da República a pedir um
novo interrogatório de Morganti e uma reabertura das investigações. O ministro voltou
a negar ontem, por meio de sua
assessoria, ter recebido recursos no ano de 1993. Reconhece
apenas remessas para a Suíça a
partir de novembro de 1994.
No depoimento à PF, o contador Carlos Roberto Alves
afirmou que "comentava-se"
na empresa, à época da operação financeira, que o total dos
honorários de Bastos correspondiam a 20% do total do patrimônio recuperado, ou aproximadamente US$ 30 milhões.
Num primeiro momento, segundo Alves, o advogado recebeu como pagamento dos honorários parte da fazenda Tamanduá, pertencente à agropecuária. Segundo o contador, a
escritura da propriedade registrava US$ 3 milhões, mas o preço real era de US$ 12 milhões.
Morganti Jr. apontou o mesmo
valor ao depor à PF: "Essa fazenda valeria aproximadamente US$ 12 milhões da época".
Segundo o contador, Morganti Jr. decidiu então recomprar a parte da fazenda entregue ao advogado. Segundo o
contador, seu encontro no escritório de Bastos serviu para
discutir os detalhes do pagamento. "O advogado Márcio
aceitava esse pagamento em
parcelas, com valor inicial de
US$ 4 milhões e o restante em
parcelas", disse ele à PF.
Alves disse ter comentado
detalhes da operação com seu
amigo, o vendedor de imóveis
Carlos Umberto Pereira. Em
depoimento, o vendedor disse
ter ouvido de Alves que o destino real do dinheiro foi registrado num cartório do Uruguai,
numa declaração assinada pelo
contador. A PF não pediu ao
Uruguai nenhuma busca oficial
para localizar o documento.
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