São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 2005

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MUSA DO "MENSALÃO"

Ex-secretária de Valério diz ter sido sondada pelo PSDB para concorrer a uma vaga na Câmara e que gostou da idéia

Karina diz que pode se candidatar a deputada federal

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Depois de ter ido à CPI dos Correios, em meio à crise política, depor como testemunha sobre o suposto pagamento de "mensalão" a parlamentares, a secretária Fernanda Karina Somaggio decidiu ser candidata a deputada federal pelo PSDB nas eleições de 2006.
Ex-secretária do publicitário Marcos Valério de Souza na agência SMPB, Karina diz em entrevista à Folha que tomou a decisão com base na notoriedade que ganhou nas ruas de Belo Horizonte com sua exposição no episódio.
Na entrevista abaixo, Karina diz que as investigações ainda não chegaram à pessoa-chave do suposto esquema do "mensalão". "O Marcos Valério é um intermediário. O sócio dele, Cristiano de Mello Paz, veio de família rica, é de alto relacionamento, e não foi investigado até agora."
A assessoria do empresário Cristiano Paz, presidente da agência SMPB Comunicação, disse ontem que, por ser publicitário, ele tem relações profissionais com diversas pessoas, inclusive com políticos de Belo Horizonte.
A secretária está sendo processada por Valério por tentativa de extorsão. O processo é anterior às primeiras denúncias sobre a suposta existência do esquema de "mensalão".
Karina, que se declara admiradora da senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), afirma que sua agenda -em poder da Polícia Federal e da CPI dos Correios- já revelou muita coisa, mas que as agendas de outras secretárias podem revelar muito mais.
 

Folha - O que mudou na sua rotina após sua ida à CPI dos Correios?
Fernanda Karina Somaggio -
Eu moro no mesmo endereço. A minha vida está uma bagunça. É complicado porque tenho uma filha e não posso sair de casa, não posso ficar andando na rua pela segurança. No momento estou em férias do trabalho.

Folha - Como suas revelações na CPI refletiram na convivência com sua filha e com seu marido?
Karina -
Eu e meu marido explicamos à ela que quando eu trabalhava com o Marcos Valério eu vi algumas coisas que eram importantes, não falei de "mensalão" e muito dinheiro, ela não iria entender. Estou em paz com minha família, não tenho meu coração contrito nem a cabeça pesada.

Folha - Como a sra. avalia as atuais investigações do escândalo do "mensalão"?
Karina
Eu espero, sinceramente, que as pessoas envolvidas com tudo isso que está acontecendo sejam punidas. Tem pessoas que não foram investigadas. O Marcos Valério é um intermediário, um operador. O sócio dele, Cristiano de Mello Paz, veio de família rica, é de alto relacionamento, e ainda não foi investigado.

Folha - Na SMPB, qual era o relacionamento do Cristiano de Mello Paz na SMPB com pessoas do governo federal?
Karina -
O Cristiano conhece várias pessoas, como o ministro [Walfrido] Mares Guia [Turismo]. Tem muita amizade com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves [PSDB], mas com o Mares Guia ele conversava sempre.

Folha - O que a sra. sabe sobre o relacionamento do Cristiano com o Mares Guia?
Karina -
Eles nunca conversavam na empresa. O Cristiano tem uma fazenda e ele [Mares Guia] sempre ia para lá.

Folha - E qual era a freqüência da troca de telefonemas entre os dois?
Karina -
Eram muitos telefonemas, todos os dias. Eu não sabia o que eles tratavam, mas ele [Cristiano] sempre dizia que era amigo íntimo do Mares Guia.

Folha - A sra. chegou a anotar na sua agenda alguma reunião entre os dois?
Karina -
Não, eu não era a secretária dele, a secretária dele [Cristiano] é a Adriana Fantini Boato. A agenda dela pode revelar isso.

Folha - Mas a Adriana Boato não é só secretária, ela aparece como sócia de uma empresa.
Karina -
Ela é uma das sócias da empresa 2S Participações. O outro sócio é o chefe dos motoboys da SMPB, Orlando Martins.

Folha - A sra. tornou-se uma figura popular, cumprimentada pelas pessoas na rua. Já tem pretensões políticas?
Karina -
Fui sondada pelo PSDB e tenho coragem de me candidatar, sim. Gosto muito do que a Heloísa Helena [senadora do PSOL-AL] faz e gostaria de ser deputada federal. Eu amo política, sempre gostei, mas sempre fui petista, voto no Lula desde os 16 anos. Quando ele ganhou achei o máximo. "Agora vai ter uma pessoa que foi da gente", pensei.

Folha - Mas, se a sra. tem simpatia pelo PT, escolheria o PDSB?
Karina -
Nunca fui tucana, mas acho que tem que ser um partido que tenha visibilidade política, não quero ficar lá [no Congresso] com um monte de gente que está lá e não serve pra nada.


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