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Constantino recebe R$ 1,9 mi na sua conta após "emprestar" a Roriz
Promotores suspeitam que depósito, 112 dias depois de suposta partilha, tenha objetivo de defender ex-senador
Amigo de Constantino diz
que ele entregou cheque de
R$ 2,23 milhões ao então
senador, mas acreditava
que ele não iria descontá-lo
ANDRÉA MICHAEL
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um depósito recente de
R$ 1,93 milhão na conta corrente do empresário Nenê
Constantino, presidente do
Conselho de Administração da
Gol, levou promotores do Ministério Público do Distrito Federal a suspeitar que o empresário esteja participando da
montagem de uma farsa com o
objetivo de corroborar a versão
apresentada pelo ex-senador
Joaquim Roriz (PMDB-DF)
para explicar a partilha de um
cheque de R$ 2,23 milhões.
Gravado pela Polícia Civil do
Distrito Federal em 13 de março discutindo a divisão do dinheiro, Roriz renunciou ao
mandato no último dia 4 de julho mesmo afirmando que só ficou com R$ 300 mil do cheque,
a título de empréstimo, tendo
devolvido o troco de R$ 1,93
milhão a Constantino.
O fato é que o depósito do R$
1,93 milhão -que supostamente seria o "troco" do empréstimo- só ocorreu no dia 3 deste
mês, ou seja, quase quatro meses depois de Nenê Constantino ter recebido, segundo afirma, a diferença de Roriz.
Versão do amigo
Um amigo de Constantino,
mediante autorização do empresário e sob a condição de
que não tivesse seu nome divulgado, disse em conversa gravada com a Folha que Constantino decidiu depositar em conta
bancária o dinheiro por uma
questão de "segurança".
Até então, segundo a versão
de Constantino ao amigo, o dinheiro estaria em sua própria
casa, o que teria passado a ser
uma ameaça quando se tornou
público o episódio em que aliados de Roriz descontam o cheque de R$ 2,23 milhões.
Em 12 de março, véspera do
dia no qual o cheque do Banco
do Brasil foi sacado no BRB
(Banco de Brasília), Roriz teria
ido à casa de Constantino e pedido um empréstimo de R$
300 mil para pagar "uma dívida
premente".
Ainda segundo essa versão,
Constantino teria repassado o
cheque, que estava nominal a
ele, na expectativa de que Roriz
não conseguisse descontá-lo
-segundo a versão contada pelo amigo do empresário.
Ainda segundo seu amigo,
Constantino teria sabido que o
desconto do cheque foi feito no
BRB pela imprensa no mês de
junho, quando se tornou público um diálogo, gravado pela Polícia Civil do Distrito Federal,
em que Roriz combina com o
então presidente do BRB Tarcísio Franklin Moura -que ficou no cargo até abril- a logística para dividir o dinheiro.
Nos diálogos, Roriz e Moura
decidem que a partilha será feita no "escritório do Nenê".
Por meio da Operação Aquarela, o Ministério Público do
DF investiga um esquema milionário de fraudes praticadas
por meio do BRB, com desvio
de dinheiro público, também
na gestão de Moura. O episódio
levou à renúncia de Roriz ao
cargo de senador.
Troco
O "troco" do cheque teria sido entregue a Constantino,
sempre segundo a versão contada por seu amigo, pelo ex-chefe de gabinete de Roriz no
Senado, Valério Neves, em duas
sacolas. Desde então, ainda segundo o amigo de Constantino
relatou à Folha, o dinheiro teria ficado na casa do empresário, à espera de que alguma autoridade exigisse sua apresentação, o que não aconteceu.
O depósito foi feito em uma
conta aberta especialmente para esse fim e na qual o montante permanecerá em aplicação
financeira já firmada pelo prazo de um ano.
Segundo o relato do amigo,
ele costumava guardar em casa
entre R$ 2,5 milhões e R$ 3 milhões para pagar despesas e investimentos -o que deixou de
fazer nos últimos dias por
questão de segurança, passando a usar agora conta bancária.
O dinheiro teria origem legal e
estaria declarado ao fisco.
Ele também negou qualquer
vinculação entre o dinheiro repassado por Constantino a Roriz e a negociação de compra e
venda em Brasília de um terreno de 80 mil metros quadrados, na qual construtoras ligadas a Constantino tiveram lucro de 129% em um ano, o que
em valores absolutos corresponde a R$ 72 milhões.
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