São Paulo, sexta-feira, 13 de julho de 2007

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Constantino recebe R$ 1,9 mi na sua conta após "emprestar" a Roriz

Promotores suspeitam que depósito, 112 dias depois de suposta partilha, tenha objetivo de defender ex-senador

Amigo de Constantino diz que ele entregou cheque de R$ 2,23 milhões ao então senador, mas acreditava que ele não iria descontá-lo

ANDRÉA MICHAEL
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um depósito recente de R$ 1,93 milhão na conta corrente do empresário Nenê Constantino, presidente do Conselho de Administração da Gol, levou promotores do Ministério Público do Distrito Federal a suspeitar que o empresário esteja participando da montagem de uma farsa com o objetivo de corroborar a versão apresentada pelo ex-senador Joaquim Roriz (PMDB-DF) para explicar a partilha de um cheque de R$ 2,23 milhões.
Gravado pela Polícia Civil do Distrito Federal em 13 de março discutindo a divisão do dinheiro, Roriz renunciou ao mandato no último dia 4 de julho mesmo afirmando que só ficou com R$ 300 mil do cheque, a título de empréstimo, tendo devolvido o troco de R$ 1,93 milhão a Constantino.
O fato é que o depósito do R$ 1,93 milhão -que supostamente seria o "troco" do empréstimo- só ocorreu no dia 3 deste mês, ou seja, quase quatro meses depois de Nenê Constantino ter recebido, segundo afirma, a diferença de Roriz.

Versão do amigo
Um amigo de Constantino, mediante autorização do empresário e sob a condição de que não tivesse seu nome divulgado, disse em conversa gravada com a Folha que Constantino decidiu depositar em conta bancária o dinheiro por uma questão de "segurança".
Até então, segundo a versão de Constantino ao amigo, o dinheiro estaria em sua própria casa, o que teria passado a ser uma ameaça quando se tornou público o episódio em que aliados de Roriz descontam o cheque de R$ 2,23 milhões.
Em 12 de março, véspera do dia no qual o cheque do Banco do Brasil foi sacado no BRB (Banco de Brasília), Roriz teria ido à casa de Constantino e pedido um empréstimo de R$ 300 mil para pagar "uma dívida premente".
Ainda segundo essa versão, Constantino teria repassado o cheque, que estava nominal a ele, na expectativa de que Roriz não conseguisse descontá-lo -segundo a versão contada pelo amigo do empresário.
Ainda segundo seu amigo, Constantino teria sabido que o desconto do cheque foi feito no BRB pela imprensa no mês de junho, quando se tornou público um diálogo, gravado pela Polícia Civil do Distrito Federal, em que Roriz combina com o então presidente do BRB Tarcísio Franklin Moura -que ficou no cargo até abril- a logística para dividir o dinheiro. Nos diálogos, Roriz e Moura decidem que a partilha será feita no "escritório do Nenê".
Por meio da Operação Aquarela, o Ministério Público do DF investiga um esquema milionário de fraudes praticadas por meio do BRB, com desvio de dinheiro público, também na gestão de Moura. O episódio levou à renúncia de Roriz ao cargo de senador.

Troco
O "troco" do cheque teria sido entregue a Constantino, sempre segundo a versão contada por seu amigo, pelo ex-chefe de gabinete de Roriz no Senado, Valério Neves, em duas sacolas. Desde então, ainda segundo o amigo de Constantino relatou à Folha, o dinheiro teria ficado na casa do empresário, à espera de que alguma autoridade exigisse sua apresentação, o que não aconteceu.
O depósito foi feito em uma conta aberta especialmente para esse fim e na qual o montante permanecerá em aplicação financeira já firmada pelo prazo de um ano.
Segundo o relato do amigo, ele costumava guardar em casa entre R$ 2,5 milhões e R$ 3 milhões para pagar despesas e investimentos -o que deixou de fazer nos últimos dias por questão de segurança, passando a usar agora conta bancária. O dinheiro teria origem legal e estaria declarado ao fisco.
Ele também negou qualquer vinculação entre o dinheiro repassado por Constantino a Roriz e a negociação de compra e venda em Brasília de um terreno de 80 mil metros quadrados, na qual construtoras ligadas a Constantino tiveram lucro de 129% em um ano, o que em valores absolutos corresponde a R$ 72 milhões.


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