São Paulo, domingo, 13 de julho de 2008

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"Não peçam ao pobre para comer menos", diz Lula na Indonésia

Presidente afirma que países ricos querem responsabilizar emergentes pela alta no preço dos alimentos e do petróleo

Lula diz que ricos não querem discutir crise imobiliária dos EUA e prejuízos dos bancos europeus e que resposta à inflação pode sair em Doha


RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A JACARTA (INDONÉSIA)

"Não peçam aos pobres do mundo para comer menos", discursou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem em sua visita à Indonésia. Foi uma de suas várias críticas aos países ricos, que, segundo ele, querem culpar os emergentes pela inflação nos preços dos alimentos e do petróleo.
Ao comentar sua participação na reunião do G8 no Japão, Lula disse que os ricos não querem "discutir a crise imobiliária dos Estados Unidos ou os prejuízos dos bancos europeus e procuram jogar a culpa nos países em desenvolvimento".
Lula pediu uma urgente discussão com números e base científica sobre qual é a "verdadeira incidência" do preço do petróleo no preço dos alimentos do mundo. "Ninguém fala sobre a especulação, sobretudo nas Bolsas de futuros, e culpam a China por consumir. Não é o etanol que é responsável pela alta do preço do petróleo."
Para o presidente, uma boa resposta à crise alimentar pode sair nas discussões na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio. "Um bom acordo na Rodada Doha, que abrisse o mercado da Europa e diminuísse os subsídios americanos, incentivaria a produção de alimentos. Graças a Deus temos terra, sol, água e tecnologia para produzir mais."
Brasil e Indonésia assinaram acordos de cooperação em biocombustíveis. Em entrevista no palácio presidencial de Jacarta, Lula desviou da pergunta sobre a defesa do etanol na Indonésia -que produz o combustível a partir da palma e onde as florestas tropicais são devastadas em ritmo maior que o da Amazônia. "Cada país sabe exatamente como plantar", disse. "Ninguém tem mais interesse em preservar as florestas que nós mesmos", afirmou.
Lula contemporizou a defesa das florestas. "Se um dia houver equilíbrio no padrão de consumo da humanidade, seremos menos culpados pelos estragos que já fizemos ao planeta."
Em resposta a um jornalista local, Lula afirmou que o Brasil é "sui generis", que "não tem, nem terá crise energética a curto prazo". O presidente disse que 85% da energia elétrica no país é renovável e limpa, que 87% dos carros produzidos no pais são flexíveis e que o etanol emite menos gases.

Comércio e muros
Como no Vietnã, o presidente repetiu várias vezes que há uma crise nos países ricos e o quão importante é o comércio Sul-Sul "contra a lógica ultrapassada de dependência das economias do Norte".
Mas a relação comercial entre os dois países ainda é bem pequena. A soma de exportações e importações entre eles é de US$ 1,5 bilhão (o equivalente a 0,5% do comércio exterior brasileiro).
A Indonésia é o quarto país mais populoso do mundo, com 237 milhões de habitantes, mas seu PIB é de apenas US$ 437 bilhões -menos que a metade da economia do México.
Questionado sobre o apoio da Indonésia à pretensão brasileira de assumir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, algo que a diplomacia brasileira repete em cada visita, o presidente indonésio, Susilo Bambang Yudhoyono, disse que concordava que o conselho deveria ser reformulado. Ele afirmou que o Brasil tem as condições para ser novo membro, mas aproveitou para lançar a candidatura da própria Indonésia, "como o país muçulmano mais populoso do mundo".


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