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SUCESSÃO NO ESCURO
Pernambucano é tratado como "guerreiro do povo", Mão Santa, como "lenda viva'; lei exige impessoalidade
Sites oficiais são usados para autopromoção
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Sites de Estados na internet estão sendo usados para a promoção pessoal de seus respectivos
governadores, que devem ser candidatos na eleição de 2002.
Alguns também aproveitam as
páginas dos Estados, que deveriam servir apenas à divulgação
de atos administrativos, para tratar de política partidária.
Segundo entendimento de especialistas em direito eleitoral e
administrativo, a prática viola a
Lei Eleitoral e o artigo 37 da Constituição, que exigem "impessoalidade" na administração pública.
O assunto veio à tona no mês
passado, quando o juiz João André de Vincenzo determinou a retirada de fotos e menções ao nome do governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), do site oficial do governo, porque haveria
"autopromoção". A liminar foi
posteriormente cassada.
Levantamento feito pela Folha
em 23 sites oficiais de governos
constatou que praticamente todos divulgam à exaustão atos, discursos, artigos e fotos dos governadores. Em alguns casos, a promoção política e pessoal é bastante evidente. Entre os exemplos
mais notórios estão os sites de
Mato Grosso, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí e Tocantins.
No caso pernambucano, o governador Jarbas Vasconcelos
(PMDB), cotado para ser vice em
eventual coligação com os tucanos, é tratado como "o guerreiro
do povo" na seção do site que
apresenta sua biografia.
"Lenda viva"
No Piauí, o site oficial relata como o governador Francisco de
Moraes Souza (PMDB), que pode
disputar o Senado, ganhou o apelido de Mão Santa. "Ele transformou-se numa lenda viva como
resultado de sua extraordinária
habilidade nas centenas de felizes
intervenções cirúrgicas das quais
participou", diz.
Até a semana passada, o caso
mato-grossense seguia na mesma
linha. Dante de Oliveira, que sonha ser o candidato tucano ao
Planalto, era descrito na página
oficial do governo como dono de
"uma trajetória política que pouco homens públicos podem ostentar no Brasil". Nos últimos
dias, alertado pela decisão que retirou do ar o site paulista, o governo alterou a página, produzindo
um texto mais sóbrio.
Já a página virtual do governo
de Tocantins coloca o governador
Siqueira Campos (PFL) como algo próximo de um mártir da
emancipação do Estado. Siqueira,
que deve concorrer ao Senado, foi
o autor da emenda que separou o
território de Goiás. "Para dar ênfase ao sentido prioritário da criação do Estado do Tocantins, Siqueira Campos submeteu-se até
mesmo a uma greve de fome, determinado a ir às últimas consequências", diz a página.
Para o ex-ministro do TSE
Eduardo Alckmin, a legislação
permite a publicidade de atos oficiais, desde que de forma "neutra,
impessoal e sem adjetivações".
"Ocorrem irregularidades
quando se usa um instrumento
oficial de divulgação do governo,
como o site, para, em tom laudatório, falar da trajetória pessoal da
autoridade", disse ele, que não
quis comentar o caso de Mão Santa, em razão de o governador
piauiense ser seu cliente.
O jurista Caio Tácito, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, não vê problema na divulgação de fotos e textos destacando
atos administrativos. "Mas há clara violação se a propaganda for
pessoal, não institucional."
O presidenciável Itamar Franco
(PMDB-MG) é descrito no site do
governo mineiro como tendo "sólida formação humanística" e "capacidade de gerenciar crises",
atributos que "contribuíram para
que o povo brasileiro voltasse a
ter esperança". Itamar também
usa o site para fazer ataques velados ao governo federal. "Muitos
se esquecem das causas realmente
brasileiras em funções [sic" de interesses internacionais", diz, na
reprodução de um discurso.
Outro que trata de política em
seu site é Zeca do PT (MS). "É
bom para MS ter FHC como amigo", dizia uma das manchetes da
página. Também presidenciável,
Anthony Garotinho (PSB-RJ) diz
no site do governo que o que o
motivou a entrar na vida pública
foi "o amor ao próximo".
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