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LAVOURA ARCAICA
Parlamentar defende dono de fazenda de onde 32 pessoas foram soltas
Deputado pressionou fiscais
do Trabalho, diz ministério
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O Ministério do Trabalho retirou 32 trabalhadores rurais de
uma das maiores fazendas de
criação de gado do país -a Agropecuária Roncador, em Barra do
Garças, MT- por se encontrarem em situação análoga à de escravo. A propriedade tem 103 mil
cabeças de gado.
Segundo o assessor especial da
Secretaria de Inspeção do Trabalho Marcelo Campos, o deputado
federal Marcelo Ortiz (PV-SP) esteve na fazenda durante a fiscalização -na condição de advogado do proprietário da fazenda Telerson Soares Penido, de São Paulo- e teria pressionado os fiscais.
Campos disse que o ministério
enviará cópia do relatório da fiscalização à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) para que ela
investigue a conduta do parlamentar. Segundo a consultoria jurídica da Câmara dos Deputados,
o estatuto da OAB proíbe que parlamentares advoguem em causas
contra a União.
O Ministério do Trabalho enviou o grupo de fiscalização à fazenda Roncador após denúncia
recebida pela Polícia Federal. A
fiscalização chegou ao local no último dia 4 e retirou 32 pessoas, entre elas seis adolescentes, que estão em pensões, na cidade de
Querência (MT), aguardando a
indenização trabalhista.
O fiscal Clóvis Tavares Emídio,
coordenador da operação, disse
que os trabalhadores dormiam no
chão, em barracos de plástico sem
paredes, e haviam sido aliciados
pelo "gato" -intermediário de
contratação de mão-de-obra-
Antônio da Rocha Morais. Disse
que eles não tinham água potável,
carteira assinada nem liberdade
para deixar a fazenda. A fiscalização considerou configurada a situação análoga à de escravo.
O deputado federal chegou à fazenda dois dias depois dos fiscais,
com procuração do proprietário
da fazenda para representá-lo em
qualquer juízo, instância ou tribunal e em qualquer ação ou defesa.
O deputado estava acompanhado
de outro advogado da empresa,
Henrique Vieira Santos.
A delegada da Polícia Federal
Amanda Souza e oito agentes da
PF acompanham os fiscais, que
ainda estão na região. Segundo o
coordenador da fiscalização, Clóvis Emídio, as indenizações trabalhistas foram calculadas em R$
240 mil, mas a fazenda teria admitido pagar apenas R$ 110 mil.
A fazenda tem 4.000 hectares
com plantação de soja, 300 hectares de plantação de milho e 100
hectares de arroz. O proprietário,
Telerson Soares Penido, é acionista da construtora Serveng-Civilsan e da empresa de ônibus Pássaro Marrom, ambas no Estado de
São Paulo.
A Secretaria de Inspeção do
Trabalho disse que não existe negociação de redução de indenizações trabalhistas. Marcelo Campos afirmou que o Ministério Público do Trabalho entrou com
ação cautelar para bloquear a
conta bancária da Agropecuária
Roncador e sacar os recursos para
as indenizações.
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