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47% do eleitorado diz ter posição política de direita
Pesquisa Datafolha mostra que perfil conservador do brasileiro continua forte
Questões sobre aborto, pena de morte, maconha e maioridade penal revelam mentalidade ainda mais fortemente conservadora
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisa Datafolha revela
que 47% do eleitorado brasileiro se define com sendo de "direita". Outros 23% de "centro"
e apenas 30% de "esquerda".
Apesar de menos da metade
se definir como de "direita", é
esmagadora a maioria que adota posições geralmente associadas ao conservadorismo, como
a condenação ao aborto, às drogas e a defesa de medidas mais
duras de combate ao crime.
A pesquisa mostra que são
contra a descriminalização da
maconha 79%. Do aborto, 63%.
Outros 84% defendem a redução da maioridade penal de 18
para 16 anos e 51% querem a
instituição da pena de morte.
Os percentuais gerais acima
não diferem muito mesmo isoladamente em cada um dos
grupos de eleitores ("direita",
"centro" e "esquerda"). Exemplo: entre os que se dizem de
"esquerda", 87% (mais do que a
média) são favoráveis à redução da maioridade penal.
Em alguns temas, como
aborto, drogas e pena de morte,
os eleitores mais jovens se mostram até um pouco mais conservadores que os mais velhos.
No geral, também são pequenas as diferenças de opinião entre os eleitores de Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) e de Geraldo
Alckmin (PSDB). Os simpatizantes ao tucano são ligeiramente mais conservadores
apenas em relação à maioridade penal e à pena de morte.
A pesquisa, feita na semana
passada, ouviu 6.969 eleitores
pelo país. Comparados aos resultados de levantamentos semelhantes nos últimos anos, os
dados mostram que o perfil
conservador do eleitor permanece forte desde a década de 90.
Para o cientista político
Leôncio Martins Rodrigues,
embora boa parte do eleitorado
não consiga discernir exatamente o que vem a ser "esquerda" ou "direita", o posicionamento mais conservador do
brasileiro "faz sentido".
"Há elementos culturais que
mudam com muita dificuldade
no Brasil. Entre as pessoas menos sofisticadas, a busca de "soluções simples", como a redução da maioridade penal, têm
muitos atrativos", afirma.
Walter Maierovitch, ex-secretário nacional antidrogas no
governo FHC e especialista em
assuntos de segurança, vê nos
resultados da pesquisa "uma
falta de informação generalizada" entre a população.
"O brasileiro é muito mal informado sobre esses temas polêmicos e geralmente acaba se
alinhando com posições que
emanam dos EUA, onde essas
discussões são mais profundas
e conservadoras", diz.
O cientista político norte-americano David Fleischer,
professor da Universidade de
Brasília, concorda. "A televisão
é a grande fonte de informação
do brasileiro. O imperialismo
cultural e de costumes norte-americano, que ficou muito
conservador nos últimos 20
anos, é uma forte referência."
Newton Bignotto, professor
de filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais, afirma
que os resultados contraditórios da pesquisa atestam "a cacofonia da sociedade brasileira". "Causa perplexidade a desconexão entre a percepção sobre os costumes, os costumes
de fato e a cultura política."
Para o psicanalista e colunista da Folha Contardo Calligaris "causa surpresa" o alto percentual (47%) dos que se dizem
de "direita". "Ser de "esquerda"
geralmente traz uma posição
mais gloriosa de si mesmo.
Mas, que o brasileiro seja conservador, apenas confirma o fato de ele, em geral, não tomar
posições de enfrentamento."
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