São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

País deve lembrar heróis em vez de xingar algozes, diz Lula

Após ser vaiado em evento da UNE, Serra afirma que "2010 ainda está longe"

Presidente não menciona polêmica sobre a punição aos torturadores durante solenidade de apresentação de novos generais no DF


Danilo Verpa/Folha Imagem
Manifestantes mostram fotos de vítimas da ditadura de SP


DA SUCURSAL DO RIO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Lula disse ontem que o país se preocupa mais em "xingar" os que mataram militantes contrários à ditadura do que em reverenciar os que morreram lutando contra o regime. No Rio, ele assinou projeto de lei, a ser enviado ao Congresso, que indeniza a União Nacional dos Estudantes pela invasão e demolição de sua sede durante a ditadura.
O presidente evitou fazer referências diretas ao debate deflagrado pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, sobre eventuais punições para torturadores do regime militar. Tarso, que até ontem estava confirmado no evento, não foi.
"Precisamos tratar um pouco melhor os nossos mortos. Toda vez que falamos dos estudantes e operários que morreram, falamos xingando alguém que os matou, quando, na verdade, esse martírio nunca vai acabar se a gente não aprender a transformar nossos mortos em heróis, e não em vítimas, como tratamos todas as vezes", disse.
Ele mencionou os exemplos da Nicarágua e de Cuba para reforçar sua argumentação: "Imagine se a Frente Sandinista ficasse só lamentando os que [Anastasio] Somoza derrubou. Imagine se Fidel Castro ficasse só lamentando os que [Fulgêncio] Batista matou", afirmou.
"Precisamos fazer com que essas pessoas que tombaram lutando por alguma coisa em que acreditavam se transformem em heróis, que sejam símbolos da nossa luta. A UNE precisa colocar em sua sede a fotografia e a história dos que morreram. Os sindicatos também. Nós os transformamos apenas em vítimas, mas não contamos sua história. Ninguém sabe quem são", declarou Lula.
Presidente da UNE em 1964, ano em que a entidade foi incendiada, o governador paulista José Serra disse que "o momento não é adequado para esse tipo de debate" e que não competia ao Executivo tratar do assunto, mas sim ao Judiciário. Quando começou a discursar, Serra foi vaiado por alguns estudantes, mas brincou dizendo que "2010 ainda está longe". As vaias pararam. O governador do Rio, Sérgio Cabral, também foi vaiado no discurso.

Militares
Recebidos pelo presidente Lula no Planalto, os comandantes das Forças Armadas deram ontem por encerrada a polêmica, iniciada pelo ministro Tarso Genro, sobre eventuais punições de crimes da ditadura.
Não houve clima de embaraço na cerimônia de apresentação dos novos generais, no final da manhã. Lula chegou ao salão nobre do Planalto acompanhado do ministro Nelson Jobim (Defesa) e dos comandantes do Exército, general Enzo Peri, da Aeronáutica, Juniti Saito, e da Marinha, almirante Júlio Soares de Moura Neto. Lula não discursou nem deu entrevista.
No fim da cerimônia, os três comandantes disseram que a entrevista dada na véspera pelo ministro Tarso Genro colocou um ponto final na celeuma. "O assunto está encerrado", disse Peri. "Estamos exatamente seguindo o caminho orientado pelo presidente da República, que declarou que não é um assunto para ser tratado pelo Executivo. Essa é a posição do presidente da República e qualquer coisa que se diga será redundante", completou o comandante da Marinha, almirante Moura Neto. "O presidente sempre sabe o que faz", limitou-se a comentar Saito.
(ANTÔNIO GOIS E LETÍCIA SANDER)


Texto Anterior: Eleitor e eleições
Próximo Texto: Ministros dizem que debate sobre tortura seguirá
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.