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País deve lembrar heróis em vez de xingar algozes, diz Lula
Após ser vaiado em evento da UNE, Serra afirma que "2010 ainda está longe"
Presidente não menciona polêmica sobre a punição aos torturadores durante solenidade de apresentação de novos generais no DF
Danilo Verpa/Folha Imagem
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Manifestantes mostram fotos de vítimas da ditadura de SP |
DA SUCURSAL DO RIO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Lula disse ontem que o país se preocupa
mais em "xingar" os que mataram militantes contrários à ditadura do que em reverenciar
os que morreram lutando contra o regime. No Rio, ele assinou projeto de lei, a ser enviado
ao Congresso, que indeniza a
União Nacional dos Estudantes
pela invasão e demolição de sua
sede durante a ditadura.
O presidente evitou fazer referências diretas ao debate deflagrado pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, sobre eventuais punições para torturadores do regime militar. Tarso,
que até ontem estava confirmado no evento, não foi.
"Precisamos tratar um pouco
melhor os nossos mortos. Toda
vez que falamos dos estudantes
e operários que morreram, falamos xingando alguém que os
matou, quando, na verdade, esse martírio nunca vai acabar se
a gente não aprender a transformar nossos mortos em heróis, e não em vítimas, como
tratamos todas as vezes", disse.
Ele mencionou os exemplos
da Nicarágua e de Cuba para reforçar sua argumentação:
"Imagine se a Frente Sandinista ficasse só lamentando os que
[Anastasio] Somoza derrubou.
Imagine se Fidel Castro ficasse
só lamentando os que [Fulgêncio] Batista matou", afirmou.
"Precisamos fazer com que
essas pessoas que tombaram
lutando por alguma coisa em
que acreditavam se transformem em heróis, que sejam símbolos da nossa luta. A UNE precisa colocar em sua sede a fotografia e a história dos que morreram. Os sindicatos também.
Nós os transformamos apenas
em vítimas, mas não contamos
sua história. Ninguém sabe
quem são", declarou Lula.
Presidente da UNE em 1964,
ano em que a entidade foi incendiada, o governador paulista José Serra disse que "o momento não é adequado para esse tipo de debate" e que não
competia ao Executivo tratar
do assunto, mas sim ao Judiciário. Quando começou a discursar, Serra foi vaiado por alguns
estudantes, mas brincou dizendo que "2010 ainda está longe".
As vaias pararam. O governador do Rio, Sérgio Cabral, também foi vaiado no discurso.
Militares
Recebidos pelo presidente
Lula no Planalto, os comandantes das Forças Armadas deram
ontem por encerrada a polêmica, iniciada pelo ministro Tarso
Genro, sobre eventuais punições de crimes da ditadura.
Não houve clima de embaraço na cerimônia de apresentação dos novos generais, no final
da manhã. Lula chegou ao salão
nobre do Planalto acompanhado do ministro Nelson Jobim
(Defesa) e dos comandantes do
Exército, general Enzo Peri, da
Aeronáutica, Juniti Saito, e da
Marinha, almirante Júlio Soares de Moura Neto. Lula não
discursou nem deu entrevista.
No fim da cerimônia, os três
comandantes disseram que a
entrevista dada na véspera pelo
ministro Tarso Genro colocou
um ponto final na celeuma. "O
assunto está encerrado", disse
Peri. "Estamos exatamente seguindo o caminho orientado
pelo presidente da República,
que declarou que não é um assunto para ser tratado pelo
Executivo. Essa é a posição do
presidente da República e qualquer coisa que se diga será redundante", completou o comandante da Marinha, almirante Moura Neto. "O presidente sempre sabe o que faz",
limitou-se a comentar Saito.
(ANTÔNIO GOIS E LETÍCIA SANDER)
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