|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUESTÃO AGRÁRIA
Um vereador do PT está entre os presos; MST e ouvidoria agrária acusam Estado e Justiça de perseguirem movimento
Justiça ordena prisão de 8 sem-terra em SE
Thiago Zanolo/"Jornal Regional Dracena"
|
Os deputados João Paulo Cunha e Luiz Eduardo Greenhalgh (centro) ao chegarem a Dracena |
EDUARDO SCOLESE
MAURO ALBANO
DA AGÊNCIA FOLHA
Com a ordem de prisão emitida
ontem em Sergipe contra oito integrantes do MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra), subiu para 34 o número de
decisões judiciais deste tipo contra sem-terra somente nas duas
últimas semanas em todo o país.
Destes, 17 estão presos, e os demais, foragidos.
De janeiro a junho de 2003, a
CPT (Comissão Pastoral da Terra) registrou a prisão de 39 pessoas de movimentos sem-terra.
O MST e os demais movimentos sociais falam em perseguição
política de setores da Justiça. A
ouvidora agrária nacional substituta, Maria de Oliveira, vai além:
"Há uma decisão fechada no país
de combate aos trabalhadores rurais". Para o Judiciário, existe apenas o cumprimento da lei, e não a
"criminalização" do movimento.
Ontem, o juiz Rinaldo Salvino
Nascimento, de Canindé de São
Francisco (190 km de Aracaju),
ordenou a prisão de oito integrantes do MST por participação
em saques ocorridos na semana
passada. Sete foram presos, entre
eles uma mulher. Entre os presos,
o vereador Roberto Araújo (PT),
do município de Poço Redondo.
O juiz afirmou na decisão que
eles saquearam um caminhão de
soja e sequestram o motorista.
Até o final da tarde de ontem, o
agricultor José Gomes de Lima
não havia sido preso. Na semana
passada, durante o saque que resultou na ordem de prisão, Lima
foi baleado de raspão no braço direito por policiais militares.
Advogados do MST já entraram
com pedidos de relaxamento de
prisão preventiva no Fórum de
Canindé de São Francisco e de habeas corpus no Tribunal de Justiça de Sergipe.
"Não há dúvidas de que existe
uma articulação entre o governo
do Estado e o Judiciário contra os
trabalhadores rurais. O governador [João Alves Filho, do PFL]
não tem vontade de resolver a situação de miséria e fome, por isso
prefere se articular e criminalizar
o movimento", diz João Daniel,
da coordenação nacional do MST.
O secretário estadual da Justiça,
Emanuel Cacho, nega: "Isso não
existe. O que não pode é virar baderna. O governador quer apenas
manter a ordem".
Segundo dados parciais do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), existem hoje no Estado cerca de 10 mil
famílias acampadas.
A região onde ocorreram as prisões (norte do Estado, na divisa
com Alagoas e Bahia) é área atingida pela seca.
"O clima é de tensão absoluta.
Parece haver uma ação consorciada [entre governo do Estado e Judiciário], pois várias integrações
[de posse] têm sido cumpridas
nas áreas às margens das rodovias", disse a ouvidora agrária regional, Gilda Diniz.
Seis integrantes do movimento
foram levados no final da tarde de
ontem à sede da Superintendência da Polícia Civil em Aracaju,
onde permanecerão presos em
cela separada. Já a sem-terra Maria Inês dos Santos ficará num
presídio feminino em Aracaju.
Assim que foram presos, os
sem-terra foram levados para o
IML (Instituto Médico Legal) de
Aracaju para fazer exames de corpos de delito. Em seguida, seguiram para o Complexo Penitenciário Carvalho Neto, na região metropolitana da cidade.
A intenção do governo estadual,
em princípio, era mantê-los na
penitenciária. Mas o governador
mudou de posição, autorizando a
prisão na superintendência, ao
ser pressionado por deputados
estaduais e federais, além de lideranças do MST.
Texto Anterior: Crianças esperam mais de 6 horas por presidente Próximo Texto: Frases Índice
|