São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2004

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Professor crê que processo deve ser em etapas

DA SUCURSAL DO RIO

Além de professor universitário, Erik Reinert é membro da fundação The Other Canon (O Outro Cânone), da Noruega, cujo objetivo é, segundo ele, "reintroduzir a história na economia".
Para ele, os formuladores econômicos atuais desprezam a ótica da produção e desconsideram experiências históricas. Prevalece, segundo Reinert, apenas a visão do livre mercado.
Estudioso dos processos de integração econômica e comercial entre países, Reinert acredita que esses processos devem ocorrer em etapas. Primeiro, um país tem de promover sua indústria, para obter vantagens comparativas. O segundo passo é se integrar com "iguais" -as integrações simétricas.
Só depois dessa etapa, quando a industrialização já está consolidada, é que os países devem partir para a integração assimétrica -ou seja, com as nações com um grau de desenvolvimento diferente.
Sem esse processo, há o risco de surgirem problemas que já se notam na Europa e podem, de acordo com Reinert, se agravar no futuro. O mesmo ele imagina que pode acontecer com os países latino-americanos com a Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Em seu estudo focado na produção, Erik Reinert pesquisa a situação dos antigos países socialistas, tanto do Leste da Europa como da antiga União Soviética.
Verificou que, na contracorrente da tendência mundial, em alguns desses países a desindustrialização resultou na migração de mais trabalhadores para a agricultura, num processo que chama de "primitivização" da economia.
Na Letônia, por exemplo, o percentual de trabalhadores rurais subiu de 17,4% para 18% entre 1990 a 2001. Já o de empregados da indústria caiu de 37,4% para 25,6%.
Pior acontece em países que não estão na União Européia, mas ficam na "periferia" do bloco, como a Armênia, onde os empregados rurais passaram de 17,7% para 44,4% do total e os da indústria caíram de 30,4% para 14,1%.
Para Reinert, só um modelo de integração assimétrico deu certo: o asiático. Lá, afirma ele, o processo se desenvolveu com o mais rico "puxando" o crescimento dos demais, no que ele chama de "vôo de ganso" (que tem um formado de um V deitado). O mais rico, no caso o Japão, produz primeiro um produto de grande conteúdo tecnológico, que depois passa a ser fabricado pelos demais.

Conferência
O economista norueguês participa amanhã da Conferência Brasil e União Européia, na UFRJ. O seminário reúne acadêmicos brasileiros e europeus de várias áreas.
Na abertura de hoje, às 9h30, estão previstas as presenças do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e do embaixador do Brasil na União Européia, José Alfredo Graça Lima.

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