São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ A LISTA DE VALÉRIO

Segundo parlamentar acusado de envolvimento na crise a deixar Câmara, Carlos Rodrigues diz não querer "prolongar agonia"

Deputado do PL renuncia e evita cassação

SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ) renunciou ontem ao mandato para evitar enfrentar um processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara, afirmando não "querer prolongar uma agonia". Ele é o segundo parlamentar a deixar a Casa na esteira do escândalo do "mensalão" -o primeiro foi o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP).
A renúncia de Rodrigues, anunciada na semana passada pelo deputado João Caldas (PL-AL), foi protocolada ontem na secretaria-geral da Câmara às 11h59 e lida em plenário por volta das 14h, na abertura da sessão. O texto não apresenta justificativa. Rodrigues será substituído pelo suplente Reinaldo Gripp Lopes (PL-RJ).
Rodrigues aparece na lista dos 18 deputados acusados de quebra de decoro parlamentar pelas CPIs dos Correios e do Mensalão. Ele teria recebido R$ 400 mil do publicitário Marcos Valério.
O ex-deputado afirmou ontem ter recebido R$ 250 mil repassados por Valério, dinheiro que, segundo ele, foi utilizado para quitar dívidas referentes ao segundo turno da campanha que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. À época, Rodrigues já presidia o PL no Rio.
"No primeiro turno [em 2002], apoiei [Anthony] Garotinho para presidente. Depois, fui chamado pelo deputado Valdemar [Costa Neto] para que apoiasse o presidente Lula. Apoiei, fiz dívida do partido, e o Valdemar mandou que eu recebesse o dinheiro em dezembro de 2003", afirmou.
"Fiz a campanha do Lula, mas não saio magoado porque o presidente também não sabia nada disso. Acho que algumas pessoas no PT se comportaram sem a capacidade de gerir, digo que foram como donos de botequim gerindo a Petrobras."
Rodrigues evitou citar nomes, mas afirmou ter ficado surpreso com a atitude de petistas tidos como "proeminentes figuras". "Quem é que ia imaginar que um partido com pessoas que só falavam em ética e correção e que participaram de CPIs, quebraram sigilos, sabiam que jamais poderiam cometer um erro desses..."
Ele também procurou isentar o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil). "Gosto do Zé Dirceu, tenho muito respeito e amizade por ele e não posso fazer juízo de valor sobre se ele deve pagar ou não."
Ontem, Rodrigues passou o dia no Rio. Pela manhã, reuniu-se com correligionários e depois telefonou para Costa Neto. Disse que não pretendia fazer nenhum "desabafo" em plenário e encaminhou sua renúncia por meio de um assessor. "Com um julgamento político, você tem de tomar uma atitude política. Pelo que os líderes dos partidos estão falando, todos os 18 já estão condenados." "Ninguém vai querer saber porque todos já estão condenados, julgados e cassados", declarou.
Com a renúncia, Rodrigues poderá concorrer às eleições do próximo ano, embora afirme que deverá abandonar a vida pública.
Antes de ter seu nome envolvido no caso "mensalão", Rodrigues já havia sofrido desgaste político e perdera a condição de bispo da Igreja Universal por ter sido acusado de envolvimento com o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, flagrado negociando propinas. Até então, ele era conhecido como Bispo Rodrigues.
Ele também é acusado de ter recebido propina de empresários de jogos quando presidiu a Loterj (loterias do Rio), em 2001 e 2002.


Texto Anterior: Governo não vai interferir na crise, diz Dilma
Próximo Texto: Defesa de Jefferson articula para retardar votação contra o deputado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.