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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ A LISTA DE VALÉRIO
Segundo parlamentar acusado de envolvimento na crise a deixar Câmara, Carlos Rodrigues diz não querer "prolongar agonia"
Deputado do PL renuncia e evita cassação
SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O deputado Carlos Rodrigues
(PL-RJ) renunciou ontem ao
mandato para evitar enfrentar um
processo de cassação no Conselho
de Ética da Câmara, afirmando
não "querer prolongar uma agonia". Ele é o segundo parlamentar
a deixar a Casa na esteira do escândalo do "mensalão" -o primeiro foi o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP).
A renúncia de Rodrigues, anunciada na semana passada pelo deputado João Caldas (PL-AL), foi
protocolada ontem na secretaria-geral da Câmara às 11h59 e lida
em plenário por volta das 14h, na
abertura da sessão. O texto não
apresenta justificativa. Rodrigues
será substituído pelo suplente
Reinaldo Gripp Lopes (PL-RJ).
Rodrigues aparece na lista dos
18 deputados acusados de quebra
de decoro parlamentar pelas CPIs
dos Correios e do Mensalão. Ele
teria recebido R$ 400 mil do publicitário Marcos Valério.
O ex-deputado afirmou ontem
ter recebido R$ 250 mil repassados por Valério, dinheiro que, segundo ele, foi utilizado para quitar dívidas referentes ao segundo
turno da campanha que elegeu o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. À época, Rodrigues
já presidia o PL no Rio.
"No primeiro turno [em 2002],
apoiei [Anthony] Garotinho para
presidente. Depois, fui chamado
pelo deputado Valdemar [Costa
Neto] para que apoiasse o presidente Lula. Apoiei, fiz dívida do
partido, e o Valdemar mandou
que eu recebesse o dinheiro em
dezembro de 2003", afirmou.
"Fiz a campanha do Lula, mas
não saio magoado porque o presidente também não sabia nada
disso. Acho que algumas pessoas
no PT se comportaram sem a capacidade de gerir, digo que foram
como donos de botequim gerindo
a Petrobras."
Rodrigues evitou citar nomes,
mas afirmou ter ficado surpreso
com a atitude de petistas tidos como "proeminentes figuras".
"Quem é que ia imaginar que um
partido com pessoas que só falavam em ética e correção e que
participaram de CPIs, quebraram
sigilos, sabiam que jamais poderiam cometer um erro desses..."
Ele também procurou isentar o
ex-ministro José Dirceu (Casa Civil). "Gosto do Zé Dirceu, tenho
muito respeito e amizade por ele e
não posso fazer juízo de valor sobre se ele deve pagar ou não."
Ontem, Rodrigues passou o dia
no Rio. Pela manhã, reuniu-se
com correligionários e depois telefonou para Costa Neto. Disse
que não pretendia fazer nenhum
"desabafo" em plenário e encaminhou sua renúncia por meio de
um assessor. "Com um julgamento político, você tem de tomar
uma atitude política. Pelo que os
líderes dos partidos estão falando,
todos os 18 já estão condenados."
"Ninguém vai querer saber porque todos já estão condenados,
julgados e cassados", declarou.
Com a renúncia, Rodrigues poderá concorrer às eleições do próximo ano, embora afirme que deverá abandonar a vida pública.
Antes de ter seu nome envolvido no caso "mensalão", Rodrigues já havia sofrido desgaste político e perdera a condição de bispo da Igreja Universal por ter sido
acusado de envolvimento com o
ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, flagrado negociando
propinas. Até então, ele era conhecido como Bispo Rodrigues.
Ele também é acusado de ter recebido propina de empresários de
jogos quando presidiu a Loterj
(loterias do Rio), em 2001 e 2002.
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