São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2007

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"Cassadores falam; defensores votam", diz renanzista antes do resultado final

DO PAINEL, EM BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"Os cassadores falam; os defensores votam." A frase, proferida já no final da sessão de seis horas que absolveu Renan Calheiros por um de seus principais aliados, Gilvam Borges (PMDB-AP), traduz o clima do que ocorreu a portas fechadas no plenário do Senado. Constrangimento, tensão, bate-boca e provocações mútuas.
A tônica dos discursos de Renan e de sua tropa de choque foram os ataques à imprensa. O primeiro a usar desse argumento foi Almeida Lima (PMDB-SE), que chamou a mídia de "abjeta, impudica e desqualificada". "Qual o Senado que desejamos? Livre e autônomo ou uma imprensa que pretenda nos substituir? A imprensa com interesses escusos", discursou Almeida Lima.
Os 13 deputados que obtiveram liminar do STF (Supremo Tribunal Federal) para acompanhar a sessão foram alvo de hostilidade, ironias e desconfiança. Sentados na tribuna de honra, o grupo atendia a seus telefones celulares. Eram repórteres ligando.
Os peemedebistas Gilvam Borges e Wellington Salgado (MG) passaram a sessão caminhando pelo plenário e cochichando. Salgado, notabilizado pela defesa de Renan no Conselho de Ética, chegou a se irritar com o discurso de Marisa Serrano (PSDB-MS) pela cassação: "Não consigo mais ouvir! Só mentira!". Ele e Valdir Raupp (PMDB-RO) protestaram contra o pedido dos tucanos para que fossem usados os microfones durante os discursos.
Sem microfones ligados, havia dificuldade em acompanhar os discursos, muitos dos quais foram ignorados. Jefferson Peres (PDT-AM) abandonou a sessão por cerca de uma hora para ir almoçar bacalhau e refrigerante light.
O pepista Francisco Dornelles (RJ) calou o plenário ao dizer que questões fiscais, "que poderiam atingir qualquer senador", não são suficientes para configurar quebra de decoro. Apenas cinco renanzistas discursaram: além de Dornelles, Almeida Lima (PMDB-SE), João Tenório (PSDB-AL), Sibá Machado (PT-AC) e Ideli Salvatti (PT-SC) -os dois últimos discretamente.
Grande parte da tropa de choque de Renan, confiante na vitória, optou pelo silêncio. Valdir Raupp (PMDB-RO), Romero Jucá (PMDB-RR), Wellington Salgado e José Sarney (PMDB-AP) ficaram mudos.
Aloizio Mercadante (PT-SP), que se absteve na votação, inscreveu-se para falar após o fim do prazo e não teve permissão para usar o microfone. Em comparação, 15 senadores pediram a cassação.
Renan só se alterou quando foi acusado de "burrice" por Demóstenes Torres (DEM-GO). "Não admito falta de respeito", retrucou o presidente do Senado. Torres desculpou-se e mudou o termo para "pouca inteligência". Ao receber o veredicto, às 17h17, Renan levantou-se e sorriu. Logo uma fila de cumprimentos se formou. A líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA), não conteve algumas lágrimas. Ela foi a anfitriã da comemoração renanzista à noite.
(VERA MAGALHÃES, FÁBIO ZANINI E SILVIO NAVARRO).

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