São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2007

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Pressão do Planalto foi decisiva para impedir a cassação

Walfrido informou presidente que tudo estava sob controle e que senador deveria ser absolvido; ele nega interferência

Governo avalia que, dos 12 petistas, 8 apoiaram Renan; Planalto pretende aguardar um pouco para sugerir que senador se licencie do cargo

KENNEDY ALENCAR
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A ação do Palácio do Planalto e do PT foram decisivas para evitar a cassação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), apurou a Folha.
Apesar do placar mais favorável a Renan do que o esperado, o governo e aliados do peemedebista vão insistir nos próximos dias na hipótese de licença da presidência do Senado. Desejam lhe propor saída de cena temporária, enquanto seriam reconstruídas relações com a oposição para o governo tentar aprovar a prorrogação da CPMF (imposto do cheque).
Na prática, o governo considera que Renan obteve 46 votos a seu favor -40 contrários à cassação e 6 abstenções. Os senadores que votaram pela cassação foram 35. Esse placar, relevante numa casa de 81 integrantes na qual o governo Lula sempre teve maioria estreita, pode levar Renan a resistir à hipótese de licença, algo que ele nega publicamente.
Por isso articuladores do governo dizem que é preciso esperar a repercussão da absolvição para medir a viabilidade da licença de Renan. A estratégia do senador era obter um placar convincente, e conseguiu.
Desde a semana passada, o ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) e a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), atuaram para evitar a cassação. Walfrido disse a senadores da base aliada que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não desejava a cassação. A ação do governo lhe dá crédito para cobrar de Renan um gesto de apaziguamento no Senado.
Ontem, Walfrido passou boa parte do dia na liderança do governo na Câmara. Sob o pretexto de negociar a prorrogação da CPMF, falou com Ideli e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), para ajudar Renan e informar Lula.
No início da tarde, Walfrido recebeu telefonema de Lula, que estava na Suécia. Ele disse ao presidente que estava tudo "sob controle" e que a tendência era Renan ser absolvido. Mais tarde, quando soube o resultado por um auxiliar, Lula pediu que Walfrido e outros ministros dissessem que a decisão era assunto do Senado.
Walfrido negou qualquer interferência do governo na absolvição de Renan e disse que não sente "alívio" pela decisão dos senadores. "Não posso dizer se a decisão foi a melhor ou a pior, o governo não tem que julgar a qualidade da decisão."
Ele também afirmou que a permanência de Renan na presidência não prejudicará a aprovação de projetos de interesse do Executivo. "Temos maioria na Casa e mesmo a oposição tem compromisso com o Brasil", afirmou.

Ação direta
Ideli evitou defecções na bancada petista. Exemplo: Aloizio Mercadante (PT-SP), que assumira posição dúbia para esconder o voto, agiu no plenário a favor de Renan. Após a sessão secreta, disse que se absteve, o que ajudou Renan. Havia temor no Planalto de que votasse a favor da cassação.
O governo avalia que, dos 12 senadores petistas, 8 (entre votos contra a cassação e abstenções) ficaram ao lado de Renan. Nas palavras de um auxiliar de Lula, o governo agiu para evitar uma derrota política para a oposição, e o PT ajudou nisso.
No PMDB, Jucá e o ex-presidente José Sarney (AP) alegaram que a cassação de Renan resultaria no enfraquecimento da sigla no governo. Na hipótese de cassação, o peemedebista Jarbas Vasconcellos (PE) poderia ser candidato competitivo à presidência do Senado. Na prática, Jarbas é oposicionista. Articuladores do governo também consideram que palavras ríspidas da ex-senadora Heloísa Helena (PSOL) ajudaram Renan a obter apoio. Criaram clima de vitimização de Renan.


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