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Pressão do Planalto foi decisiva para impedir a cassação
Walfrido informou presidente que tudo estava sob controle e que senador deveria ser absolvido; ele nega interferência
Governo avalia que, dos 12 petistas, 8 apoiaram Renan; Planalto pretende aguardar um pouco para sugerir que senador se licencie do cargo
KENNEDY ALENCAR
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A ação do Palácio do Planalto
e do PT foram decisivas para
evitar a cassação do presidente
do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), apurou a Folha.
Apesar do placar mais favorável a Renan do que o esperado, o governo e aliados do peemedebista vão insistir nos próximos dias na hipótese de licença da presidência do Senado. Desejam lhe propor saída
de cena temporária, enquanto
seriam reconstruídas relações
com a oposição para o governo
tentar aprovar a prorrogação
da CPMF (imposto do cheque).
Na prática, o governo considera que Renan obteve 46 votos a seu favor -40 contrários
à cassação e 6 abstenções. Os
senadores que votaram pela
cassação foram 35. Esse placar,
relevante numa casa de 81 integrantes na qual o governo Lula
sempre teve maioria estreita,
pode levar Renan a resistir à hipótese de licença, algo que ele
nega publicamente.
Por isso articuladores do governo dizem que é preciso esperar a repercussão da absolvição para medir a viabilidade da
licença de Renan. A estratégia
do senador era obter um placar
convincente, e conseguiu.
Desde a semana passada, o
ministro Walfrido dos Mares
Guia (Relações Institucionais)
e a líder do PT no Senado, Ideli
Salvatti (SC), atuaram para evitar a cassação. Walfrido disse a
senadores da base aliada que o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva não desejava a cassação. A
ação do governo lhe dá crédito
para cobrar de Renan um gesto
de apaziguamento no Senado.
Ontem, Walfrido passou boa
parte do dia na liderança do governo na Câmara. Sob o pretexto de negociar a prorrogação da
CPMF, falou com Ideli e o líder
do governo no Senado, Romero
Jucá (PMDB-RR), para ajudar
Renan e informar Lula.
No início da tarde, Walfrido
recebeu telefonema de Lula,
que estava na Suécia. Ele disse
ao presidente que estava tudo
"sob controle" e que a tendência era Renan ser absolvido.
Mais tarde, quando soube o resultado por um auxiliar, Lula
pediu que Walfrido e outros
ministros dissessem que a decisão era assunto do Senado.
Walfrido negou qualquer interferência do governo na absolvição de Renan e disse que
não sente "alívio" pela decisão
dos senadores. "Não posso dizer se a decisão foi a melhor ou
a pior, o governo não tem que
julgar a qualidade da decisão."
Ele também afirmou que a
permanência de Renan na presidência não prejudicará a
aprovação de projetos de interesse do Executivo. "Temos
maioria na Casa e mesmo a
oposição tem compromisso
com o Brasil", afirmou.
Ação direta
Ideli evitou defecções na
bancada petista. Exemplo:
Aloizio Mercadante (PT-SP),
que assumira posição dúbia para esconder o voto, agiu no plenário a favor de Renan. Após a
sessão secreta, disse que se absteve, o que ajudou Renan. Havia temor no Planalto de que
votasse a favor da cassação.
O governo avalia que, dos 12
senadores petistas, 8 (entre votos contra a cassação e abstenções) ficaram ao lado de Renan.
Nas palavras de um auxiliar de
Lula, o governo agiu para evitar
uma derrota política para a
oposição, e o PT ajudou nisso.
No PMDB, Jucá e o ex-presidente José Sarney (AP) alegaram que a cassação de Renan
resultaria no enfraquecimento
da sigla no governo. Na hipótese de cassação, o peemedebista
Jarbas Vasconcellos (PE) poderia ser candidato competitivo à presidência do Senado. Na
prática, Jarbas é oposicionista.
Articuladores do governo também consideram que palavras
ríspidas da ex-senadora Heloísa Helena (PSOL) ajudaram
Renan a obter apoio. Criaram
clima de vitimização de Renan.
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