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Leia o texto do embaixador britânico
da Agência Folha
Leia a íntegra do despacho,
enviado em 17 de dezembro de
1835 e classificado como "confidencial e sigiloso", do embaixador britânico no Brasil, H. S.
Fox, ao ministro das Relações
Exteriores de seu país, H. J. T.
Palmerston
"Meu senhor,
O senhor Pontois, embaixador francês na corte do Brasil, e
eu fomos convidados, alguns
dias atrás, a uma reunião particular com o regente Feijó, na
qual ele nos fez o seguinte comunicado, em caráter confidencial:
Ele disse que o governo brasileiro calcula que poderá reunir
no Pará, no mês de abril próximo ou por volta dessa época,
uma força de 3.000 homens,
constituída de 2.000 soldados
regulares e 1.000 marinheiros;
que ele estima que essa força será suficiente para garantir a retomada da cidade do Pará (atual
Belém) e das estações vizinhas;
mas que, não obstante, para tornar mais certas as chances de
sucesso e para privar os insurgentes de qualquer possibilidade de resistência, ele desejaria
que a Inglaterra, a França e Portugal fizessem com que se reunissem no Pará, mais ou menos
à mesma época e como que por
acaso, uma esquadra de navios
de guerra contendo uma força
de cerca de mil soldados regulares em condições de travar combate em terra, isto é, cerca de 300
ou 400 de cada país. Ele propõe
que essa força seja mantida de
prontidão para cooperar com as
tropas brasileiras, a pedido e a
critério das autoridades civis e
militares brasileiras em comando; e que ela deva empregar-se
mais especificamente em ocupar temporariamente os postos
de Marajó, Cametá e outros locais próximos à cidade do Pará;
tal cooperação, avalia, seria suficientemente justificada, segundo as aparências, pelos interesses gerais da humanidade e da
civilização, e também pelo objetivo específico de proteger nossos respectivos conterrâneos e
restituir a eles a posse de suas residências e bens, sem que viesse
a público o fato de as medidas
terem sido tomadas a pedido do
governo brasileiro.
O senhor Pontois e eu concordamos imediatamente em afirmar ao regente que estávamos
dispostos a transmitir seu pedido a nossos respectivos governos, mas que não prevíamos
que ele tivesse qualquer resultado, a não ser que o comunicado
nos fosse feito por escrito (algo
que poderia ser feito de forma
igualmente confidencial) para
que pudéssemos transmitir a
nossos governos, com precisão,
a quantidade de cooperação que
ele deseja obter, seus limites e
seus objetivos específicos; e,
mais ainda, para justificar tal
cooperação no caso de ela ser
concretizada, e posteriormente
merecer objeções por qualquer
parte no Brasil. O regente nos
respondeu que como a Constituição do Império proíbe terminantemente a admissão de tropas estrangeiras no território do
Brasil sem o consentimento da
Assembléia Geral (que não poderá mais ser obtida a tempo),
lhe é impossível formular sua
proposta por escrito, e que, ademais, seria motivo de descrédito
para o governo se fosse divulgado oficialmente o fato de que,
sem ajuda externa, ele não é capaz de derrotar um punhado de
insurgentes miseráveis; que,
portanto, ele podia apenas solicitar que comunicássemos a
nossos governos o que se passara nessa reunião, como sendo o
conteúdo de uma conversa reservada com o regente, deixando a cargo de nossos governos
basear nisso as instruções que
lhes pareçam convenientes aos
comandantes de suas respectivas forças navais.
Assim, o senhor Pontois e eu
prometemos ao regente transmitir o comunicado a nossos
governos da forma confidencial
que ele desejava; mas não lhe
demos nenhuma esperança, no
que diz respeito à nossa opinião,
de que seu pedido de cooperação será atendido. O regente
afirmou, respondendo a uma
indagação minha, que nem os
embaixadores brasileiros residentes na Inglaterra e na França, nem o marquês de Barbacena, que no momento cumpre
uma missão especial na Inglaterra, serão informados do comunicado que ele nos fez em caráter confidencial.
O acima transcrito reproduz a
essência da conversa mantida
com o regente, da qual o senhor
Pontois e eu, em conjunto, redigimos um resumo, após a conclusão da entrevista. Evidentemente, não posso deixar de
transmitir o comunicado ao senhor, mas não prevejo que exista a menor probabilidade de o
governo de Sua Majestade ou o
governo francês anuírem com
os desejos do regente, ou consentirem em ordenar uma operação militar, com base em um
pedido formulado de maneira
tão imprecisa e informal. Como
o próprio regente reconheceu,
sua proposta viola diretamente
as leis e a Constituição do país; e,
é claro, seria desmentida de
imediato, e a culpa pela intervenção não autorizada seria
atribuída às potências estrangeiras, se isso fosse visto como
conveniente.
Devo observar, também, que
não penso que exista a menor
probabilidade de que o governo
brasileiro consiga, nem agora
nem em qualquer momento,
reunir diante do Pará uma força
regular tão grande quanto aquela com que o regente afirmou
contar.
O embaixador português não
foi convidado pelo regente a
participar do mesmo encontro
com o embaixador francês e comigo; mas fui informado de que
um comunicado semelhante já
lhe foi feito, ou lhe será feito, em
separado.
O emprego, no Pará, de uma
força inglesa e francesa, em conjunto com uma portuguesa, tornaria o procedimento ainda
mais questionável, levando em
conta o ciúme forte que ainda
existe neste país com relação à
influência e aos desígnios de
Portugal.
Atrevo-me a sugerir, para fazer justiça ao regente Feijó, cuja
conversa com o senhor Pontois
e comigo foi reservada e confidencial, que talvez seja prudente
não fazer qualquer menção a este assunto ao marquês de Barbacena, que provavelmente irá
comunicar-se com o senhor para tratar de outras questões.
Tenho a honra de seu fiel criado,
H. S. Fox"
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