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Renata Lo Prete
A curva pró-Lula
ASSIM COMO se revelou infundada a expectativa oposicionista de que o desempenho de Alckmin no debate
pudesse reativar o movimento ascendente que o
colocou no segundo turno,
também carece de base
real a teoria lulista segundo a qual o programa de
domingo passado seria o
responsável pela ampliação da vantagem do presidente, detectada pelo Datafolha e endossada ontem pelo Ibope.
Vá lá que o tucano tenha
incorrido em algum exagero no tom escolhido para se dirigir ao adversário,
impressão potencializada
pelo contraste com a imagem polida que projetou
ao longo de sua trajetória
política. Ainda que não admita de público, a própria
campanha identificou esse estranhamento, especialmente nos dois primeiros blocos, em pesquisa com grupos que acompanharam o programa.
No essencial, porém, o
debate serviu para o que
geralmente serve esse gênero de confronto televisivo: cristalizar percepções
prévias do eleitor. As respostas à bateria de perguntas do Datafolha sobre
atributos dos candidatos
mostram que qualidades e
defeitos conferidos a Lula
e a Alckmin se acentuam
na ótica dos eleitores que
assistiram ao programa.
Assim, o desempenho
de Alckmin tende a ser
considerado "firme" por
quem já o aprovava e/ou
desaprovava Lula e "autoritário" ou mesmo "fascista" -na propaganda do
ministro Tarso Genro-
por quem está com o presidente e não abre.
Debate serve também
como matéria-prima para
o horário gratuito, no qual
seu conteúdo é editado ao
gosto do freguês. Ontem,
na hora do almoço, Lula
estreou com um condensado em que não havia
vestígio de seu atordoamento inicial, evidente até
para aliados presentes no
estúdio da Band, com as
perguntas do adversário.
Pelo contrário, parecia ter
todas as respostas.
O "clipe" de Alckmin,
por sua vez, manteve o
bordão principal de sua
ofensiva ("Lula, de onde
veio o dinheiro para pagar
o dossiê fajuto?"), mas deixou de fora outros momentos de cobrança em
troca de enfatizar o que
não havia sido a tônica do
candidato no programa:
dizer o que fará se chegar à
Presidência da República.
Menos do que um ponto
de inflexão, contra Alckmin ou a favor de Lula, o
primeiro debate do segundo turno aconteceu dentro de uma onda que já vinha favorável ao petista
-vide o Datafolha anterior-, basicamente devido ao esfriamento do escândalo do dossiê.
Completando o quadro
de dificuldades de Alckmin, sua campanha se viu
obrigada pelo discurso do
adversário a recuar para
uma atitude defensiva.
Neste momento, gasta boa
parte do tempo negando
que vá privatizar, cortar
benefícios sociais e seqüestrar crianças.
A esperança de Alckmin
é que a pergunta-mãe do
caso do dossiê volte para o
centro do noticiário.
RENATA LO PRETE é editora do Painel
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