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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ EMPRÉSTIMOS SUSPEITOS
Ex-superintendente do banco afirma que dinheiro emprestado a Valério não era para ser pago; CPI vai convocá-lo para depor
Empréstimo do Rural foi farsa, diz executivo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO
O ex-superintendente do Banco
Rural Carlos Godinho disse em
entrevista à revista "Época" desta
semana que os empréstimos concedidos ao publicitário Marcos
Valério de Souza, depois repassados ao PT, foram de fachada.
A tese de que os empréstimos
não existiram de fato já havia sido
sustentada pela CPI dos Correios,
mas Godinho apresentou novos
indícios disso.
O ex-superintendente de "compliance", área encarregada de garantir o cumprimento das normas exigidas pelo sistema financeiro, diz que as operações de crédito eram uma "farsa", uma forma de ocultar a entrada de outros
recursos que iam para o partido e
para o publicitário.
Relatório parcial da CPI apresentado na quinta-feira também
considerou uma "farsa" as operações financeiras feitas com o banco BMG. Um dos argumentos foi
a ausência de contrato formal entre as empresas de Valério e o PT,
além de inconsistência na identificação de entradas e saídas de recursos nas agências, o que indicaria fraude contábil.
Em entrevista à revista "Época",
Godinho disse que os empréstimos ao PT eram "para mascarar a
entrada de recursos que vinham
de outras formas". "Você justifica
qualquer recurso que entrou via
empréstimo. Não era para pagar",
afirmou Godinho, que deixou o
banco em setembro.
Na reportagem, Godinho diz ter
informado por escrito a diretoria
do banco dos riscos das operações
de crédito com o PT e Valério.
Porém, segundo ele, foi pedido
para que os alertas fossem feitos
"verbalmente". "A gente tinha
boletins de "compliance", em que
a gente alertava por escrito. Assim
que o primeiro foi impresso, emitido e assinado, foi dada ordem
para não fazer mais, para comunicar ao diretor verbalmente",
disse à "Época".
Ainda segundo Godinho, esses
alertas foram feitos entre 2003 e
2005. A diretoria alega não ter sido comunicada dos riscos por
Godinho. E ainda culpa o ex-vice-presidente do banco José Augusto
Dumont, morto no ano passado,
pelo relacionamento do banco
com o PT e com Marcos Valério,
de quem Dumont era amigo e por
meio de quem conheceu o então
tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
No entanto, segundo documentos obtidos pela revista, mesmo
após a morte de Dumont, os empréstimos ao PT e a Marcos Valério continuaram sendo renovados. No total, foram mais de R$ 28
milhões concedidos pelo Rural ao
publicitário. Incluindo os empréstimos de Valério no BMG, foram cerca de R$ 56 milhões, repassados ao PT entre 2003 e 2004.
A revista diz que foram feitas
cinco operações de rolagem da dívida do PT com o Rural após a
morte de Dumont. As dívidas do
PT, que tinham como avalistas
Delúbio e o então presidente o
partido, José Genoino, eram renovadas a cada 90 dias.
No caso da agência SMPB, mesmo com a entrada de um grande
volume de recursos nas contas
que ela mantinha no Rural, os pagamentos não eram feitos, mas,
mesmo assim, os empréstimos foram renovados quatro vezes.
Segundo Godinho, o interesse
do banco em conceder os supostos empréstimos ao PT era obter
vantagens no governo.
Convocação da CPI
A CPI dos Correios vai convocar
Godinho para prestar depoimento. Integrantes da comissão acreditam que ele pode dar informações a respeito da verdadeira origem do dinheiro.
O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse
que o vice-presidente operacional
do Rural, Roberto Salgado, que
também aparece na matéria da
"Época", vai ser convocado.
Também foi citado pela CPI o
fato de contratos das agências de
publicidade com o Banco do Brasil, Eletronorte e Correios terem
sido dados como garantia para os
empréstimos. Esses contratos vedam a possibilidade de serem utilizados dessa forma.
O relatório parcial da CPI dos
Correios, que pediu o indiciamento por cinco crimes de Marcos Valério e do ex-tesoureiro do
PT Delúbio Soares, afirmou que
"também ficam sob suspeição as
diretorias responsáveis pelos bancos BMG e Rural, que autorizaram tais empréstimos".
De acordo com o documento, a
dívida contraída pelas empresas
de Valério junto ao Rural e ao
BMG corresponde a 55,87% de
sua receita bruta de 2003 e 2004.
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