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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ FUNDOS DE PENSÃO
Apesar de não haver referência a partidos na investigação, suspeita-se de desvio de recursos para atender a interesses políticos
BC aponta fraude em fundos de 98 a 2002
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Banco Central, Comissão de Valores Mobiliários e Secretaria de
Previdência Complementar identificaram uma série de operações
fraudulentas no mercado financeiro que atingem pelo menos 14
fundos de pensão, entre 1998 e
2002. As investigações começaram em 2003, a partir de uma devassa nas contas de corretoras e
distribuidoras de valores suspeitas de irregularidades.
O período analisado coincide
com o segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, mas há ao menos um
fundo ligado ao PT: a Rioprevidência (de funcionários estaduais
do Rio), na breve gestão da ex-governadora Benedita da Silva.
Em dois relatórios do BC, um da
CVM e dois da SPC, obtidos pela
Folha, os órgãos listam pessoas
aparentemente usadas "como laranjas" e "um grande número de
agências de turismo, o que pode
indicar um vínculo do esquema
com o mercado não-institucional
(paralelo) de dólar".
Apesar de não haver referências
a partidos nos documentos, autoridades envolvidas nas investigações suspeitam de que possa ter
havido desvio de recursos para
atender a interesses políticos, segundo apurou a Folha.
Em um dos expedientes do BC,
de setembro de 2004, técnicos da
instituição destacaram a existência de uma série de operações
com títulos públicos e privados
que poderiam ser enquadradas na
lei 9.613/98, que dispõe sobre os
crimes de lavagem de dinheiro.
Tanto o BC como a CVM enviaram os documentos ao Coaf
(Conselho de Controle de Atividades Financeiras) -órgão encarregado de combater lavagem
de dinheiro e evasão de divisas-,
à Receita e ao Ministério Público.
Entre os 14 fundos de pensão, há
muitos que são alvo da CPI dos
Correios, como Centrus (funcionários do Banco Central), Real
Grandeza (Furnas Centrais Elétricas) e Prece (Cedae). Dois fundos
que não estão na lista de investigação da Comissão Parlamentar
de Inquérito, Rioprevidência e Infraprev (Infraero), tiveram grande número de operações fraudulentas mapeadas pelos órgãos de
fiscalização do governo.
No caso da Infraprev, entre os
supostos "laranjas" ou beneficiários do esquema mencionados
pelo BC e pela CVM, a reportagem identificou dois operadores
de câmbio do Rio: Paulo Roberto
Caneca e André Santos Pereira,
ex-sócios na corretora Miata. De
acordo com profissionais do mercado financeiro ouvidos pela reportagem, Caneca e Pereira são
conhecidos na praça carioca como doleiros, o que eles negam.
Há também entre esses beneficiários um nome muito recorrente nas investigações da CPI dos
Correios: a Guaranhuns Ltda,
apesar do pequeno valor recebido
(R$ 4.037). O BC identificou ainda
que alguns beneficiários eram comuns a mais de uma das instituições financeiras analisadas.
A Guaranhuns é a empresa de
fachada (seu endereço é um terreno baldio) que o publicitário Marcos Valério Fernandes diz ter sido
indicada pelo PL para que fosse
repassado ao partido R$ 10 milhões em recursos de caixa dois.
Numa investigação da CVM sobre a Centrus (período avaliado
de 1997 a 2001), a Guaranhuns
aparece embolsando R$ 527 mil
por ter intermediado uma operação para a fundação.
Parte do relatório da CVM é dedicado a analisar transações realizadas por um grupo restrito de
corretoras e distribuidoras para a
Infraprev. Em apenas uma operação, no dia 11 de julho de 2000, o
fundo de pensão teve um prejuízo
de R$ 9,59 milhões.
O formato da operação que gerou a perda para a Infraprev é o
mesmo identificado pelo BC e a
CVM no caso de outros fundos de
pensão -compram ou vendem
títulos públicos e privados, quase
sempre por meio das mesmas
corretoras e distribuidoras, por
preços acima (na aquisição) ou
abaixo (venda) dos de mercado.
Na ponta oposta aos fundos, estão empresas conveniadas com as
corretoras e distribuidoras que
realizam as transações. Praticamente em todos os casos analisados, essas empresas lucram contra os fundos, tanto na venda como na compra dos papéis.
A perda de R$ 9,59 milhões da
Infraprev representou lucro de
mesmo valor para uma empresa
chamada ISTR Assessoria Financeira e Comercial Ltda.
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