São Paulo, domingo, 13 de novembro de 2005

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ÍNDIOS

Mortes ocorreram nos últimos 30 dias em São Gabriel da Cachoeira

No AM, 3 jovens indígenas se enforcam e 4 tentam suicídio

TALITA FIGUEIREDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Nos últimos 30 dias três jovens indígenas cometeram suicídio por enforcamento em São Gabriel da Cachoeira (AM), cidade na fronteira com a Colômbia e a Venezuela, localizada a 850 km de Manaus. Outros quatro jovens tentaram suicídio durante esse período. Uma lista com adesão de pelo menos outros 20 adolescentes que também cometeriam suicídio circula na cidade.
Cerca de 90% da população da cidade de 30 mil pessoas é indígena, tendo entre as etnias os tukanos, barés, werekena e baniwas.
O motivo dos suicídios e das tentativas de suicídio ainda não foi identificado. Há duas versões em investigação: a existência de uma seita de jovens que se encontra em cemitérios à noite e que teria feito um pacto de morte e a de que um homem, que se faria passar por um pastor, estaria incentivando os jovens a se matar.
A polícia, a Funai (Fundação Nacional do Índio), Funasa (Fundação Nacional de Saúde), governo municipal e representantes de organizações da cidade montaram comissões para investigar o caso e também para dar apoio aos jovens e suas famílias.
Os três índios que se mataram estudavam na escola Irmã Inês Penha. O primeiro suicídio, de uma menina de 13 anos, foi em 11 de outubro. O segundo, dia 24, de uma menina de 12 anos. O último, de um jovem de 14 anos. Os nomes não foram divulgados.
Titular da delegacia local, Prudência Brisolla Corrêa disse acreditar que os suicídios foram casos isolados. "A primeira menina tinha problemas com a família. O garoto era viciado em pasta base [de cocaína]. Não vejo relacionamento entre as mortes, apenas porque eram da mesma escola. Mas vamos investigar", disse.
Uma equipe de psicólogos e educadores do Programa Sentinela, do governo federal, está atendendo a famílias das vítimas e dos jovens que tentaram se suicidar, segundo a coordenadora do programa, Franciele Broda de Oliveira. Hoje, haverá uma caminhada pela vida. "O que estamos notando é que o jovem não dá mais importância para a vida, não a valoriza mais", disse Oliveira.
A Funai deve receber um relatório do posto da fundação na cidade sobre os suicídios. O órgão deverá divulgar ações para a cidade na semana que vem. Segundo a assessoria de imprensa, o governo federal liberou verba em outubro do ano passado para projetos com jovens. O programa acabou em junho deste ano.
O padre Nilton César de Paula, hoje na paróquia de Barcelos (AM), mas que por 30 anos atuou em São Gabriel da Cachoeira, diz acreditar que o caso de suicídio se dá "por um desequilíbrio socioambiental e cultural e que se deve procurar entender o mundo dos jovens, indígenas ou não, dentro dos movimentos de mudança". "A maior parte dos jovens da cidade é indígena e perde suas raízes. Isso pode confundi-los. Há uma perda de identidade. Aliado a isso, a cidade é muito pequena e não tem muito recurso."


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