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ÍNDIOS
Mortes ocorreram nos últimos 30 dias em São Gabriel da Cachoeira
No AM, 3 jovens indígenas se enforcam e 4 tentam suicídio
TALITA FIGUEIREDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Nos últimos 30 dias três jovens
indígenas cometeram suicídio
por enforcamento em São Gabriel
da Cachoeira (AM), cidade na
fronteira com a Colômbia e a Venezuela, localizada a 850 km de
Manaus. Outros quatro jovens
tentaram suicídio durante esse
período. Uma lista com adesão de
pelo menos outros 20 adolescentes que também cometeriam suicídio circula na cidade.
Cerca de 90% da população da
cidade de 30 mil pessoas é indígena, tendo entre as etnias os tukanos, barés, werekena e baniwas.
O motivo dos suicídios e das
tentativas de suicídio ainda não
foi identificado. Há duas versões
em investigação: a existência de
uma seita de jovens que se encontra em cemitérios à noite e que teria feito um pacto de morte e a de
que um homem, que se faria passar por um pastor, estaria incentivando os jovens a se matar.
A polícia, a Funai (Fundação
Nacional do Índio), Funasa (Fundação Nacional de Saúde), governo municipal e representantes de
organizações da cidade montaram comissões para investigar o
caso e também para dar apoio aos
jovens e suas famílias.
Os três índios que se mataram
estudavam na escola Irmã Inês
Penha. O primeiro suicídio, de
uma menina de 13 anos, foi em 11
de outubro. O segundo, dia 24, de
uma menina de 12 anos. O último,
de um jovem de 14 anos. Os nomes não foram divulgados.
Titular da delegacia local, Prudência Brisolla Corrêa disse acreditar que os suicídios foram casos
isolados. "A primeira menina tinha problemas com a família. O
garoto era viciado em pasta base
[de cocaína]. Não vejo relacionamento entre as mortes, apenas
porque eram da mesma escola.
Mas vamos investigar", disse.
Uma equipe de psicólogos e
educadores do Programa Sentinela, do governo federal, está
atendendo a famílias das vítimas e
dos jovens que tentaram se suicidar, segundo a coordenadora do
programa, Franciele Broda de
Oliveira. Hoje, haverá uma caminhada pela vida. "O que estamos
notando é que o jovem não dá
mais importância para a vida, não
a valoriza mais", disse Oliveira.
A Funai deve receber um relatório do posto da fundação na cidade sobre os suicídios. O órgão deverá divulgar ações para a cidade
na semana que vem. Segundo a
assessoria de imprensa, o governo
federal liberou verba em outubro
do ano passado para projetos
com jovens. O programa acabou
em junho deste ano.
O padre Nilton César de Paula,
hoje na paróquia de Barcelos
(AM), mas que por 30 anos atuou
em São Gabriel da Cachoeira, diz
acreditar que o caso de suicídio se
dá "por um desequilíbrio socioambiental e cultural e que se
deve procurar entender o mundo
dos jovens, indígenas ou não,
dentro dos movimentos de mudança". "A maior parte dos jovens da cidade é indígena e perde
suas raízes. Isso pode confundi-los. Há uma perda de identidade.
Aliado a isso, a cidade é muito pequena e não tem muito recurso."
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