São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 2002

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BASTIDORES

Sem opção, PT fica com sexto da lista

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ex-presidente mundial do BankBoston, Henrique Meirelles foi a sexta opção do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e do futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, para a presidência do Banco Central. O deputado federal e senador eleito, Aloizio Mercadante (PT-SP), foi um dos principais padrinhos da indicação no partido.
Antes de optar por Meirelles, o PT ouviu duas recusas a convites feitos para o cargo. Outros três nomes sondados afastaram a possibilidade de dizer sim a um eventual convite do partido.
Recusaram convites Fábio Barbosa, presidente do Banco ABN-Amro, e Pedro Bodin, presidente do Banco Icatu. Bodin era o preferido de Antonio Palocci.
Os três sondados que foram refratários são: Murilo Portugal, representante do Brasil no FMI (Fundo Monetário Internacional), Jair Ribeiro, ex-JP Morgan, e José Júlio Senna, sócio-diretor da MCM Consultoria.

Escolha em Washington
A pressão do mercado para conhecer o comandante do BC reforçou o cacife de Meirelles, especialmente depois de Portugal ter recusado no início da semana sondagem para ocupar o posto. Alegou problemas de saúde.
Em conversas com Mercadante e Palocci, que acompanhavam Lula nos Estados Unidos, o presidente eleito optou, então, por Meirelles, que, numa decisão de última hora, acompanhou o futuro ministro da Fazenda anteontem em um encontro com banqueiros em Nova York.
As dificuldades do PT para encontrar um presidente do Banco Central começaram já na campanha, na virada do primeiro para o segundo turno. Àquela altura, quando havia chance de Lula vencer na primeira rodada, cresceu a cotação de Fábio Barbosa, presidente do Banco ABN-Amro.
Barbosa, porém, alegou que preferia ajudar de fora. Começava a ficar evidente nessa recusa o temor de profissionais bem remunerados da iniciativa privada em assumir uma tarefa cheia de espinhos: baixo salário em comparação com seus empregos, temor de responder a processos judiciais caros após a saída do cargo e medo do chamado "fogo amigo" (críticas e obstáculos criados dentro do próprio PT).
Pedro Bodin, o preferido de Palocci, recebeu pressão do atual presidente do BC, Armínio Fraga, para aceitar o cargo. Bodin teve medo de não encontrar diretores fiéis e acabar em conflito com o partido de Lula. Ele preferiu ainda continuar com os rendimentos da iniciativa privada.
Jair Ribeiro e José Júlio Senna também não foram receptivos nas sondagens, feitas por emissários de Lula. Os motivos foram semelhantes aos alegados por Pedro Bodin e Fábio Barbosa.

Saída do PSDB
No começo do ano, Lula teve um encontro com Meirelles num hotel de Brasília. Saiu bem impressionado e com um convite para ir a Nova York falar com banqueiros. Lula acabou enviando assessores para um tour financeiro organizado por Meirelles.
Logo após a vitória de Lula no segundo turno, Mercadante se reuniu com Meirelles. Sondou-o sobre a possibilidade de integrar a equipe econômica do PT. Naquele momento, havia chance pequena de Mercadante ir para o Ministério da Fazenda.
Filiado ao PSDB e eleito deputado federal por Goiás, Meirelles tendia a sair de seu partido e começou a negociar a ida para o PL. Agora, isso está em suspenso.
Quando naufragaram as sondagens do PT, Mercadante voltou a defender o nome de Meirelles para o Banco Central. Lula e Palocci aceitaram a sugestão, até porque corriam contra o tempo e não tinham mais alternativa.


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