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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONTABILIDADE SUSPEITA
Distribuidora de bebidas, a Santorine foi, a exemplo da campanha de Lula, contratada por tucanos de Mato Grosso e por outros petistas
Empresa de laranja também recebeu do PSDB
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
Além dos R$ 795,7 mil pagos pela campanha do petista Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, a empresa Santorine Comercial e Distribuidora também recebeu dinheiro do PSDB de Mato Grosso e
das campanhas a deputado federal do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias
(PT-MG), e de José Dirceu (PT),
cujo mandato foi cassado no dia
30 passado. A informação é do
TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
No domingo, a Folha revelou
que a Santorine -embora tenha
recebido da campanha de Lula
por serviço de "propaganda e publicidade"- possuía como objeto social declarado o ramo atacadista de alimentos e bebidas. Três
sócias, cujos nomes constam na
Junta Comercial do Estado de São
Paulo, negaram ter participação
na Santorine. Uma é dona-de-casa e outra está desempregada.
A empresa, criada em abril de
2000 e fechada em fevereiro de
2003, citou dois endereços de funcionamento em Campinas (SP).
Um era um terreno baldio, depois
ocupado por uma oficina mecânica. No outro, um galpão, não há
registro de contratos de aluguel
em nome da empresa.
Segundo o TSE, o comitê financeiro estadual do PSDB de Mato
Grosso pagou R$ 30.187,50 à Santorine em 6 de setembro de 2002.
A campanha de Patrus Ananias,
eleito deputado federal, desembolsou R$ 28.922,50 -sendo
R$ 18.055 em 11 de setembro daquele ano e mais R$ 10.867,50 no
dia 19. José Dirceu teve despesa de
R$ 3 mil paga no dia 3 de outubro
de 2002. A lista do TSE inclui o deputado estadual Enio Francisco
Tatto (PT-SP), que pagou R$ 2 mil
em 27 de setembro daquele ano.
Somando os valores com o pago
pela campanha de Lula, a empresa, que tinha capital social de
R$ 20 mil, recebeu R$ 859.810 durante as eleições. Segundo registros do TSE, os pagamentos se referem a serviço de "propaganda e
publicidade". O comitê estadual
do PSDB enviou ontem à reportagem cópia da nota fiscal emitida
pela Santorine, que descreve os
serviços prestados -entrega de
50 banners e 50 bandeiras.
Segundo o tesoureiro da campanha do PSDB em Mato Grosso,
Lourival Ribeiro Filho, o comitê
arrecadou R$ 3.009.423,12 em recursos e repassou "99%" desse dinheiro à campanha do candidato
derrotado ao governo estadual, o
senador tucano Antero Paes de
Barros, que presidiu a CPI do Banestado.
A nota fiscal está entre os documentos da prestação de contas do
PSDB feita no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Mato Grosso.
"Temos um convênio com a Receita Federal pelo qual nos informam se são válidos o CNPJ [Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica] e o CPF dos doadores e fornecedores da campanha", disse
Marli Osorski, chefe da Seção de
Contas Eleitorais do TRE-MT.
Na consulta à situação cadastral
da Receita, a Santorine aparece
como empresa baixada em 20 de
fevereiro de 2003, mas não há informação sobre o ramo de atividade dela nem o endereço. "Nós
não temos competência para fiscalizar empresas", afirma ela.
Notas frias
O presidente do PT, Ricardo
Berzoini, defendeu ontem o partido das acusações de irregularidades na prestação de contas.
"Quem tem obrigação de fiscalizar se uma empresa funciona adequadamente ou não é o fisco",
disse ele, ao se referir à Santorine.
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