São Paulo, terça-feira, 13 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONTABILIDADE SUSPEITA

Distribuidora de bebidas, a Santorine foi, a exemplo da campanha de Lula, contratada por tucanos de Mato Grosso e por outros petistas

Empresa de laranja também recebeu do PSDB

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

Além dos R$ 795,7 mil pagos pela campanha do petista Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, a empresa Santorine Comercial e Distribuidora também recebeu dinheiro do PSDB de Mato Grosso e das campanhas a deputado federal do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias (PT-MG), e de José Dirceu (PT), cujo mandato foi cassado no dia 30 passado. A informação é do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
No domingo, a Folha revelou que a Santorine -embora tenha recebido da campanha de Lula por serviço de "propaganda e publicidade"- possuía como objeto social declarado o ramo atacadista de alimentos e bebidas. Três sócias, cujos nomes constam na Junta Comercial do Estado de São Paulo, negaram ter participação na Santorine. Uma é dona-de-casa e outra está desempregada.
A empresa, criada em abril de 2000 e fechada em fevereiro de 2003, citou dois endereços de funcionamento em Campinas (SP). Um era um terreno baldio, depois ocupado por uma oficina mecânica. No outro, um galpão, não há registro de contratos de aluguel em nome da empresa.
Segundo o TSE, o comitê financeiro estadual do PSDB de Mato Grosso pagou R$ 30.187,50 à Santorine em 6 de setembro de 2002.
A campanha de Patrus Ananias, eleito deputado federal, desembolsou R$ 28.922,50 -sendo R$ 18.055 em 11 de setembro daquele ano e mais R$ 10.867,50 no dia 19. José Dirceu teve despesa de R$ 3 mil paga no dia 3 de outubro de 2002. A lista do TSE inclui o deputado estadual Enio Francisco Tatto (PT-SP), que pagou R$ 2 mil em 27 de setembro daquele ano.
Somando os valores com o pago pela campanha de Lula, a empresa, que tinha capital social de R$ 20 mil, recebeu R$ 859.810 durante as eleições. Segundo registros do TSE, os pagamentos se referem a serviço de "propaganda e publicidade". O comitê estadual do PSDB enviou ontem à reportagem cópia da nota fiscal emitida pela Santorine, que descreve os serviços prestados -entrega de 50 banners e 50 bandeiras.
Segundo o tesoureiro da campanha do PSDB em Mato Grosso, Lourival Ribeiro Filho, o comitê arrecadou R$ 3.009.423,12 em recursos e repassou "99%" desse dinheiro à campanha do candidato derrotado ao governo estadual, o senador tucano Antero Paes de Barros, que presidiu a CPI do Banestado.
A nota fiscal está entre os documentos da prestação de contas do PSDB feita no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Mato Grosso.
"Temos um convênio com a Receita Federal pelo qual nos informam se são válidos o CNPJ [Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica] e o CPF dos doadores e fornecedores da campanha", disse Marli Osorski, chefe da Seção de Contas Eleitorais do TRE-MT.
Na consulta à situação cadastral da Receita, a Santorine aparece como empresa baixada em 20 de fevereiro de 2003, mas não há informação sobre o ramo de atividade dela nem o endereço. "Nós não temos competência para fiscalizar empresas", afirma ela.

Notas frias
O presidente do PT, Ricardo Berzoini, defendeu ontem o partido das acusações de irregularidades na prestação de contas. "Quem tem obrigação de fiscalizar se uma empresa funciona adequadamente ou não é o fisco", disse ele, ao se referir à Santorine.


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