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Marinho bancou campanha de 242 candidatos à Câmara
Prefeito eleito de São Bernardo, que doou R$ 5 milhões, é quinto maior doador do país
Repasses aos candidatos de
11 partidos somam 45% dos
R$ 11,2 mi arrecadados por
petista, que diz que doações
fizeram parte de estratégia
ALAN GRIPP
FERNANDA ODILLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O prefeito eleito de São Bernardo do Campo (SP), Luiz Marinho (PT), bancou parte das
campanhas de 242 candidatos a
vereador do município, mais da
metade dos 480 postulantes ao
cargo na cidade, revelam dados
das prestações de contas disponibilizados pelo TSE (Tribunal
Superior Eleitoral).
A campanha de Marinho injetou R$ 5 milhões nas contas
de candidatos de 11 partidos
que compuseram sua coligação,
alçando o petista à condição de
quinto maior doador geral das
eleições, desbancando bancos e
empreiteiras.
Os repasses a outros candidatos representam 45% dos
R$ 11,2 milhões arrecadados
por Marinho -façanha que lhe
conferiu o status de campanha
proporcionalmente mais cara
do PT. Segundo relato feito à
Justiça Eleitoral, o dinheiro financiou cerca de um milhão de
"impressos", além de carros de
som e combustível.
Marinho disse ontem que as
doações foram parte de sua estratégia para vencer as eleições.
Ele afirmou que decidiu "assumir" as campanhas dos 242
candidatos, que, na prática, tornaram-se cabos eleitorais de
peso. Marinho venceu, mas na
outra ponta o plano naufragou:
a coligação conquistou apenas
6 das 21 cadeiras da Câmara de
São Bernardo do Campo. Todos
os vitoriosos são petistas.
Legalidade
A prática de doar recursos a
candidatos de outros partidos
não é ilegal. No caso de Marinho, chama atenção por dois
pontos. O primeiro é o alto valor dos repasses. Para se ter
uma idéia, a campanha de Gilberto Kassab (DEM), usou do
mesmo expediente, mas repassou R$ 14,3 mil a comitês de
quatro partidos aliados.
O segundo ponto é o uso da
conta do candidato, e não a do
comitê financeiro, fato raro entre os candidatos majoritários.
Os comitês financeiros existem
justamente para organizar a
movimentação financeira de
uma campanha e, em caso de
doações, emitir os recibos.
Marinho também lançou
mão do expediente das doações
ocultas. Dos R$ 11,2 milhões recebidos por ele, R$ 6 milhões
vieram do PT e sua origem não
pode ser identificada. Essa artifício é adotado pelas legendas
para proteger os colaboradores
de exposição. As empresas
doam para o partido, que repassa o dinheiro para os comitês.
Além disso, dos R$ 6 milhões
oriundos do PT, R$ 4,7 milhões
(78%) vieram do diretório nacional do partido. Isso mostra a
importância dada pelo partido
à eleição em São Bernardo, berço político do presidente Lula.
Técnicos da 174ª Zona Eleitoral de São Bernardo constataram irregularidades nas planilhas de doações, como a ausência de recibos. No início do mês,
após explicações da campanha,
as contas foram aprovadas.
Empreiteiras
Beneficiárias de investimentos públicos, as empreiteiras
foram as maiores financiadoras
das eleições. Considerando a
lista dos 30 maiores doadores,
que despejaram R$ 88 milhões
nas campanhas, R$ 36 milhões
vieram das construtoras.
A OAS encabeça a relação.
Distribuiu R$ 11,5 milhões,
contemplando candidatos de
sete Estados e pulverizando as
doações entre os principais
candidatos -estratégia seguida
pelos maiores doadores.
Tradicionais doadores, apenas dois bancos estão na lista: o
Itaú, que doou R$ 3 milhões; e o
BMG, envolvido no escândalo
do mensalão, com contribuições de R$ 2,7 milhões. Entre
as siglas, PMDB e PT receberam quantias semelhantes do
grupo dos maiores doadores:
R$ 9,78 milhões e R$ 9,76 milhões, respectivamente. PSDB
(R$ 7,2 milhões) e DEM (R$ 6,4
milhões) vêm em seguida.
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