São Paulo, domingo, 13 de dezembro de 2009

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Outro lado

Comerciante nega ter oferecido dinheiro a Turner

DIMITRI DO VALLE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O comerciante Mouthi Ibrahim, 53, negou ter feito ofertas de dinheiro a Hal Turner e se disse "revoltado" com a revelação de que ele era um agente a serviço do FBI: "Ele me usou".
Ibrahim, que aos 15 anos migrou da Síria para Curitiba, a convite de parentes, confirmou ter conhecido Turner no final de 2005. Ibrahim disse que o norte-americano foi quem o procurou no Paraná: "Antes disso, nunca tinha ouvido falar desse cidadão. Estou indignado pelo envolvimento do meu nome. Sou um cidadão de bem, detesto violência e radicalismo. Defendo a paz e o diálogo".
O comerciante tem uma loja de roupas e calçados no centro de Curitiba e preside a Sociedade Árabe Brasileira. Segundo Ibrahim, Turner identificou-se como líder da "National Alliance". A organização, que defende ideais racistas, queria estabelecer uma filial no Brasil com o apoio da comunidade árabe.
"Nós não concordamos porque as ideias dele eram muito racistas. Tenho amigos judeus, faço negócios com eles, e não odiamos negros", disse Ibrahim, que se declarou "simpatizante" de Barack Obama.
"O Hal Turner chegou dizendo que era antissemita e que a aliança com ele deveria defender isso. Quando ele falou isso, não gostei, porque eu, como árabe, também sou semita. Afinal, judeus e árabes descendem do mesmo pai, Abraão", disse.
Amigo de Ibrahim, o jornalista José Gil, dono do "Jornal da Água Verde", afirmou que testemunhou a conversa que o comerciante teve com Turner. "Ele parecia querer nos provocar com as declarações raivosas e racistas. Por isso, não houve possibilidade de contato ou parceria com esse homem", disse Gil, que publicou em janeiro de 2006 uma nota sobre a visita de Turner. Nela, Ibrahim recusa a proposta de união com a National Alliance: "O movimento National Alliance é racista, eles odeiam os judeus. Nós não discriminamos raças, embora apoiemos a causa palestina", declarou ele ao jornal.
Ibrahim, que é cristão ortodoxo, afirmou que só ficou sabendo que Turner trabalhava para o FBI pela Folha: "Estou revoltado. Esse cara veio me investigar aqui no Brasil, e eu não devo nada a ninguém. Em 40 anos de Brasil, nunca respondi a um processo na polícia".


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