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ELIO GASPARI
O trem-bala pode atropelar Dilma
A marquetagem e os interesses quase provocaram um desastre e ameaçam a fama de competência da ministra
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A MINISTRA Dilma Rousseff orgulha-se de ser a "Mãe do PAC" e
do projeto de construção de um
trem de alta velocidade ligando o Rio
de Janeiro a São Paulo e Campinas. Se
ela não tomar cuidado, o trem-bala será um exemplo de sua descoordenação administrativa.
Os transportecas insistem em dizer
que o trem-bala rodará a tempo de
servir às torcidas da Copa do Mundo
de 2014. Mentira. Esse prazo explodiu, mas o comissariado do Planalto
ainda não achou a porta de saída para
a chefona.
Dilma e seus assessores sabem o tamanho do desastre que foi a primeira
fase das negociações do trem. De 2004
a 2007, o projeto esteve nas mãos de
burocratas incapazes e empresários
simpáticos. Projetavam um trem que
iria do Rio a São Paulo sem paradas
(maluquice), não precisaria de investimentos públicos (mentira) e seria viabilizado por uma demanda de 32,6 milhões de passageiros/ano (fantasia). A
obra custaria cerca de US$ 9 bilhões e
estava mai$ ou meno$ combinado
que ficaria com um con$órcio italiano.
Em 2007, descobriu-se que não havia projeto de trem-bala, mas de CPI.
O assunto foi entregue à racionalidade
do BNDES e a linha foi projetada até
Campinas com seis paradas no trecho
Rio-São Paulo. O preço foi para US$ 12
bilhões e hoje, numa conta pessimista,
teme-se que chegue a US$ 20 bilhões. O
governo deverá ficar com até 70% do investimento e suspeita-se que acabará garantindo a demanda. A tarifa, que começou com uma estimativa empulhadora
de R$ 100, está em R$ 246. Um sábio
chegou a dizer que uma tarifa barata
quebraria as empresas aéreas, como se
coubesse à choldra financiar o trem e pagar bilhetes caros para preservar o
mercado dos aerocratas ineptos.
Há a suspeita de que, por conta da
demanda e do baixo custo de construção, a linha rentável não é a Rio-São
Paulo, mas a que irá de São José dos
Campos a São Paulo e Campinas. É
mais fácil começar uma guerra civil do
que botar a Viúva federal para pagar
uma obra dessas.
Se a doutora Dilma tirar do trem-bala as cascas da pressa marqueteira e
das pressões dos fornecedores de créditos, equipamentos e obras físicas,
poderá administrar uma bonita obra.
Se usar o trem para fazer propaganda,
candidata-se ao título de "Viúva do
PAC".
A VISÃO PETISTA DA SEGUNDA GUERRA
Há uma semana, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, ministro de Assuntos Estratégicos, defendeu a
reforma do Conselho de Segurança da ONU durante
uma palestra no Instituto de
Pesquisa de Relações Internacionais do Itamaraty. Defendeu a admissão, como
membros permanentes, de
Brasil, Índia, Alemanha e Japão. Ia tudo muito bem até
que ele explicou a exclusão,
em 1946, da Alemanha e do
Japão do centro de decisões
da ONU. Numa versão-companheira da Segunda Guerra
Mundial, os dois países penaram "tantos anos de purgatório, de punição, por terem desafiado a liderança anglo-saxônica do mundo". (A repórter Claudia Antunes ouviu,
anotou e noticiou.)
A menos que Nosso Guia
indique outro caminho, a
Alemanha e o Japão não desafiaram "a liderança anglo-saxônica". Eles invadiram
seus vizinhos, montaram
economias baseadas no trabalho escravo e máquinas de
extermínio nunca antes vistas na história. Na conta da
Alemanha havia cerca de 10
milhões de mortos em campos de extermínio. Na do Japão, 6 milhões de coreanos,
chineses e filipinos.
E em 1945, depois da abertura dos campos de concentração da Europa e da Ásia,
nem mesmo os precursores
da defesa do nazismo e da
Grande Esfera de Co-Prosperidade do Império Japonês
falavam mais em desafio à "liderança anglo-saxônica".
Na dúvida, basta reler
"Mein Kampf", de Adolf
Hitler.
GRANDE STAUB
As derrotas são órfãs, mas o empresário Eugenio (Gradiente)
Staub deu uma lição aos seus pares. Numa sucessão de tropeços,
tinha 2.000 funcionários e ficou
com 250 e deve R$ 385 milhões.
Anunciando um plano de recuperação de sua empresa, Staub poderia ter recorrido à empulhação
convencional culpando: 1) A carga
tributária. 2) Os chineses. 3) A globalização. 4) A taxa de juros. 5) A
herança escravocrata.
Preferiu um caminho exemplar:
"Os erros cometidos foram meus,
de mais ninguém".
DEMÓFOBOS
Na contramão de Staub, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, informou aos contribuintes
que as enchentes foram consequência "da chuva". Já o governador José Serra explicou que os dilúvios decorrem, inclusive, de "um
problema geral, de comportamento da população" que joga lixo onde não deve. (Parte da inundação
resultou de defeitos em bombas de
escoamento do rio Tietê, onde o
tucanato gastou R$ 1,7 bilhão numa obra de drenagem.) Serra pode
formar uma frente com o prefeito
do Rio, Eduardo Paes, para quem
"as pessoas precisam ser menos
porcas e parar de jogar coisas na
areia [da praia]". Os dois poderiam
adotar um slogan em suas campanhas: "Não aceito voto de porco".
LULA LEMBRA
Os estudantes de Brasília que
pretendem processar o coronel da
PM José Belizário Silva Filho devem arrolar Nosso Guia como testemunha. Lula poderá contar que,
durante a greve de 1979, em plena
ditadura, o enorme coronel Dauterdimas Rigonatto comandou os
soldados no ABC e não saiu no tapa com os trabalhadores. Ruim de
briga, o coronel de Arruda avançou
num manifestante, foi ao chão e só
recuperou a valentia quando os
soldados dominaram sua vítima.
EROS GRAU X MARX
Durante a sessão do Supremo
Tribunal que preservou a censura imposta pelo afortunado Fernando Sarney ao jornal "O Estado de S. Paulo", o ministro Eros
Grau tornou-se mais uma vítima
do marxismo. Ele amparou-se
em Karl Marx para dizer que,
havendo lei, não pode haver censura. Nesse caso, o Supremo,
amparado na lei, preservava o silêncio do jornal, mas não o censurava. Grau achou essa ideia de
Marx no seu primeiro e longo artigo publicado na "Gazeta Renana", em maio de 1842, quando
ele tinha 24 anos. O contexto em
que Grau citou o jovem Karl virou-o pelo avesso. O barbudo
alemão fez uma erudita e caótica
defesa da lei como instrumento
para a eliminação da censura.
Na Gazeta, o homem da tesoura
chamava-se Dolleschall e Marx
queria livrar-se de sua raça. Nas
palavras do "corifeu da praxis":
"A lei de imprensa pune o abuso
da liberdade. A lei da censura
pune a liberdade como se fosse
um abuso". Nesse caso, havendo
lei, não haveria censura. Em
abril passado a corte onde Grau
apresentou o argumento de
Marx mandou para o lixo a Lei
de Imprensa da ditadura. Portanto, no caso do silêncio do "Estadão", não havia lei, mas o Supremo manteve a censura.
VIVO MUITO VIVA
A operadora Vivo entrou no
mercado de vidas. Uma de suas
clientes recebeu uma conta com
uma linha da qual ela nunca ouvira falar, ligou para a empresa e
deram-lhe uma informação categórica:
- A senhora não conhece sua
dependente de nome ...? (o nome da mãe da vítima). Por um
breve instante a cliente da Vivo
achou que a operadora ressuscitara sua mãe, morta há 15 anos.
Enganou-se, era apenas uma pequena tunga, coisa de R$ 8.
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