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Irmão de Geisel protegia Fleury, diz diplomata
Em telegrama de 1973, Crimmins declara que o delegado tinha o apoio do general Orlando Geisel, ministro de Médici
Para o brasilianista Kenneth Serbin, da Universidade de San Diego (EUA), esse é o primeiro documento que liga Fleury ao então ministro
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos telegramas secretos
liberados ao público pelos EUA
revela que, segundo a opinião
do embaixador John Hugh
Crimmins, o delegado de polícia Sérgio Paranhos Fleury
(1935-1975), uma das figuras
centrais da repressão, tinha
"apoio e proteção" do general
Orlando Geisel (1905-1979),
ministro do Exército de Emílio
Médici (1969-1974) e irmão do
ex-presidente Ernesto Geisel.
"Fleury desfruta de amplo
respeito e admiração entre os
militares e as forças de segurança por perseguir, sob considerável risco pessoal, líderes
bem armados de grupos subversivos. A despeito de suas atividades relacionadas ao esquadrão da morte e de seus problemas com drogas, sua utilidade
para o regime lhe valeu apoio e
proteção [no original, "patronage"] de pessoas com cargos
elevados, entre as quais o ministro do Exército Orlando
Geisel, irmão do presidente que
está por assumir", diz o relatório enviado por Crimmins em
24 de outubro de 1973.
O jornalista Percival de Souza, autor da mais completa biografia de Fleury, "Autópsia do
Medo", disse que o documento
é "muito importante". "Fleury
era uma espécie de ídolo dos
militares, mas [referência] tão
explícita assim, nunca houve.
Nunca tinha visto nada assim,
no papel", disse Percival. "Salvo
engano meu, é o primeiro documento que liga Fleury a Orlando Geisel", diz o professor Kenneth Serbin, de San Diego.
Fleury participara de operações para perseguir guerrilheiros da esquerda, como Carlos
Lamarca, morto no sertão da
Bahia, e Carlos Marighella, assassinado em São Paulo.
No mesmo telegrama de
1973, o embaixador manifesta
sua torcida para que as relações
influentes de Fleury não interferissem num processo recém-aberto contra o delegado por
suposto homicídio. "Resta determinar se os poderosos amigos de Fleury permitirão que a
lei siga seu curso."
O embaixador estava certo
nas suas dúvidas: Fleury não só
ficou impune como ainda conseguiu promoções na carreira,
tornando-se, dois anos depois,
delegado especial e titular da
Delegacia Especializada de Ordem Social de São Paulo.
O filho do delegado, Paulo
Sérgio Fleury, delegado do Departamento de Narcóticos da
Polícia Civil paulista, não quis
comentar o conteúdo do telegrama: "Isso faz 30 anos, eu tinha dez anos na época, e prefiro
não comentar nada".
(RV)
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