São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007

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Irmão de Geisel protegia Fleury, diz diplomata

Em telegrama de 1973, Crimmins declara que o delegado tinha o apoio do general Orlando Geisel, ministro de Médici

Para o brasilianista Kenneth Serbin, da Universidade de San Diego (EUA), esse é o primeiro documento que liga Fleury ao então ministro

DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos telegramas secretos liberados ao público pelos EUA revela que, segundo a opinião do embaixador John Hugh Crimmins, o delegado de polícia Sérgio Paranhos Fleury (1935-1975), uma das figuras centrais da repressão, tinha "apoio e proteção" do general Orlando Geisel (1905-1979), ministro do Exército de Emílio Médici (1969-1974) e irmão do ex-presidente Ernesto Geisel.
"Fleury desfruta de amplo respeito e admiração entre os militares e as forças de segurança por perseguir, sob considerável risco pessoal, líderes bem armados de grupos subversivos. A despeito de suas atividades relacionadas ao esquadrão da morte e de seus problemas com drogas, sua utilidade para o regime lhe valeu apoio e proteção [no original, "patronage"] de pessoas com cargos elevados, entre as quais o ministro do Exército Orlando Geisel, irmão do presidente que está por assumir", diz o relatório enviado por Crimmins em 24 de outubro de 1973.
O jornalista Percival de Souza, autor da mais completa biografia de Fleury, "Autópsia do Medo", disse que o documento é "muito importante". "Fleury era uma espécie de ídolo dos militares, mas [referência] tão explícita assim, nunca houve. Nunca tinha visto nada assim, no papel", disse Percival. "Salvo engano meu, é o primeiro documento que liga Fleury a Orlando Geisel", diz o professor Kenneth Serbin, de San Diego.
Fleury participara de operações para perseguir guerrilheiros da esquerda, como Carlos Lamarca, morto no sertão da Bahia, e Carlos Marighella, assassinado em São Paulo.
No mesmo telegrama de 1973, o embaixador manifesta sua torcida para que as relações influentes de Fleury não interferissem num processo recém-aberto contra o delegado por suposto homicídio. "Resta determinar se os poderosos amigos de Fleury permitirão que a lei siga seu curso."
O embaixador estava certo nas suas dúvidas: Fleury não só ficou impune como ainda conseguiu promoções na carreira, tornando-se, dois anos depois, delegado especial e titular da Delegacia Especializada de Ordem Social de São Paulo.
O filho do delegado, Paulo Sérgio Fleury, delegado do Departamento de Narcóticos da Polícia Civil paulista, não quis comentar o conteúdo do telegrama: "Isso faz 30 anos, eu tinha dez anos na época, e prefiro não comentar nada". (RV)


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