|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cabral se diz "amigo de infância" de Lula
Em entrevista à Folha, o governador do Rio tece elogios a petista, a Serra e a Aécio; "fazer amigos é uma bênção", afirma
Peemedebista, que se define como "pragmático", começa governo sem metas e fala que administrar o Estado é "um gerúndio"
PLÍNIO FRAGA
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Nem situação nem oposição.
Muito pelo contrário. O governador do Rio de Janeiro, Sérgio
Cabral (PMDB), que, durante o
primeiro turno da eleição presidencial, cunhou a "neutralidade radical", define-se como um "pragmático".
Afirma que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) é seu
"mais novo amigo de infância"
e, rindo, imita o seu jeito de falar, com voz rouca e língua presa. Trata o governador de São
Paulo, José Serra (PSDB), por
"meu líder" e o qualifica como
"o maior gestor do Brasil".
Amigo há 26 anos do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), louva-o também como administrador e provoca:
"É muito ciumento".
"Sou um pragmático. Estou
próximo de quem está próximo
do Rio. Fazer amigos é um dom,
uma bênção. O carioca tem essa
característica, não é litigioso",
afirma Cabral, nascido no Engenho Novo, zona norte do Rio.
Ele não quer se comprometer
com metas, mas diz que seis
meses é um prazo razoável para
que o Estado esteja melhor.
"É um gerúndio, não tem
prazo determinado. Escolhi as
pessoas certas. Meu papel é liderar. Não sou big brother."
Formado em jornalismo,
Sérgio Cabral de Oliveira Santos Filho, 43, tornou-se o oitavo
governador do Rio de Janeiro
após a fusão do antigo Estado
do Rio com a Guanabara, em
1975, e, em 14 dias, mostrou-se
o mais midiático deles.
No discurso de posse, pediu
um minuto de silêncio às vítimas dos ataques de traficantes
na última semana de dezembro. Nos dias seguintes, fez vistorias, acompanhado pela imprensa, aos hospitais públicos.
Apontou o horror no atendimento e demitiu um diretor,
nomeado 24 horas antes, por
supostamente estar acomodado com o mau atendimento.
Fez duas reuniões com os governadores do Sudeste, visitou
cidades atingidas pela chuva,
deu entrevistas diariamente e
apareceu até no "New York Times", que destacou que o governador trabalha tendo como companheiros um laptop Sony
e uma lata de Coca-Cola light.
Cabral falou à Folha no seu
gabinete no Palácio da Guanabara na quarta-feira. A entrevista foi interrompida em dois momentos. Para mostrar sua
boa relação com Serra, localizou o governador em Ribeirão
Preto (interior de São Paulo) e
trocou amenidades por telefone. Antes, havia se dirigido ao
fotógrafo: "Faz uma foto minha
falando com o Serra".
Em outro momento, a primeira-dama Adriana Ancelmo,
advogada, 36 anos, foi despedir-se do marido. "Oi, riqueza
minha", saudou o governador.
Ela beijou-o. O fotógrafo da
Folha não conseguiu registrar
o momento. Cabral pediu que a
mulher repetisse o gesto: "Dá
um beijo aqui para a Folha".
FOLHA - O presidente Lula de um
lado e Serra e Aécio de outro. Se o sr.
tivesse de escolher uma companhia,
ficaria com quem?
SÉRGIO CABRAL - Eu sou amigo
de todos. Sou amicíssimo. Aliás,
o Serra me ligou.
FOLHA - O Aécio chegou a fazer
uma piada na reunião dos governadores na quarta-feira, dizendo que o
sr. fala com o Lula todos os dias.
CABRAL - Aécio é um ciumento
há mais de 25 anos. [Dirige-se a
um assessor.] Liga para o governador Serra. Ele andou me
ligando e eu estava num evento
no Maracanã. Liga para ele. Sou
amigo do Aécio há 26 anos.
FOLHA - Muito mais do que do presidente Lula.
CABRAL - O Lula é o meu mais
recente amigo de infância. O
Serra foi meu candidato a presidente em 2002. Eu entrei de
cabeça na campanha dele. Fui
visitá-lo antes de tomar posse
porque o Serra é um craque da
gestão. É um dos quadros de
gestão mais qualificados do
Brasil. E o Aécio se revelou
também. [Um assessor entrega
um pires com pílulas.]
É só ortomolecular. Doutora
Luísa me receitou. Não tem nenhuma bola aqui. Só natureba:
catuaba, vitamina E, óleo de
oliva. Fiz a campanha toda com
isso. Ela queria colocar uma
quimicazinha, eu disse não.
FOLHA - Em 2010, o sr. terá de optar entre Lula e Serra ou Aécio.
CABRAL - O Lula tem dado demonstrações extraordinárias
de apreço pelo Rio de Janeiro.
Não é por mim não, é pelo Rio.
Sou apenas um instrumento.
FOLHA - O sr. teve de segurar o Aécio e o Serra na reunião dos governadores? As declarações que o Serra
deu no aeroporto foram mais incisivas do que a nota conjunta que vocês soltaram, que evitava fazer críticas diretas ao Lula.
CABRAL - Como é que você soube? [Ri] Não... Não tive de segurar ninguém. Quem sou eu para
segurar o Serra? Fizemos um
documento, pensando no país.
Muito diálogo...
FOLHA - O sr. vai acabar o governo
amigo de todo mundo?
CABRAL - Fazer amigos é um
dom, uma bênção. A não ser
que fira seus valores, fazer amigos é muito bom. O carioca tem
essa característica. O carioca
não é litigioso.
Texto Anterior: Egydio relata suspeita sobre Herzog e faz crítica a d. Paulo Próximo Texto: Frase Índice
|