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Propriedade das terras do garimpo é disputada
Suposto dono da área cobra comissão de garimpeiros
Alberto César Araújo/Folha Imagem
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Garimpeiros trabalham no local, na margem esquerda do rio Juma; para o Incra, por enquanto, não há provas de que o explorador da reserva seja o dono da área
DA AGÊNCIA FOLHA, EM APUÍ (AM)
As terras do garimpo ilegal
são disputadas por comerciantes, políticos e garimpeiros patrocinados por mineradoras. A
briga se acirrou após comerciantes de Rondônia e Mato
Grosso sobrevoarem o rio Chocolate para pesquisar a existência de ouro em uma serra.
Para coibir possível confronto e impedir o avanço na área, o
governo federal interveio. O
DNPM (Departamento Nacional de Pesquisa Mineral) bloqueou requerimentos para estudo de viabilidade da reserva.
"É preciso controlar a situação para conseguir desenvolver
um garimpo ambientalmente
correto, economicamente viável e com retorno justo aos garimpeiros", diz Walter Lins Arcoverde, do DNPM.
José Ferreira da Silva Filho,
44, o Zé Capeta, que se diz dono
das terras, cobra de 8% a 10%
de comissão pela exploração do
garimpo. Ele proibiu a utilização de mercúrio para o rio Juma não ser contaminado e contratou um geólogo em Manaus.
Também controlam as frentes de extração os garimpeiros
Donato Dias da Silva (o Goiano), Paulo Sérgio Leite (o Paulo
Metralha), Humberto Cesar de
Andrade Reis e o vice-prefeito
de Apuí, Aminadal de Sousa
(sem partido).
À Folha Zé Capeta, analfabeto, mostrou cópia de suposta
escritura pública de declaração
de direito de posse registrada
no cartório de Apuí.
Ele disse que adquiriu a posse dos 2.497 hectares em 2004,
por R$ 17 mil. Afirmou que juntou a área com as terras do cunhado José Luiz de Araújo e do
amigo Donizete Silva Freitas,
totalizando 29.205 ha.
Nascido em São Miguel do
Mutum (MG) e criado em
Goiânia, disse que ganhou o
apelido de Zé Capeta por nunca
recusar trabalho como roceiro
e trabalhador rural. Antes de
saber da existência de ouro nas
terras, trabalhava em São Miguel do Gurupá (RO).
Há dez dias, assumiu a principal frente do garimpo no rio
Juma e fundou a Coodersam
(Cooperativa de Desenvolvimento do Sul do Amazonas).
Já ganhou em ouro R$ 70
mil. "Eu não posso deixar a minha terra invadida. Eu preciso
de uma ajuda, e eles estão me
dando uma pequena porcentagem do ouro que está saindo lá,
que não chega a 2% do total."
Donato Dias da Silva, o Goiano, 56, garimpeiro há 28, disse
que foi um dos primeiros a chegar ao "novo eldorado". Ele
agora lidera uma frente de ao
menos 150 homens.
"Nós achamos o ouro e estamos trabalhando. O que está
complicado é esse negócio da
cooperativa. Nós estamos pagando, mas queremos saber se
a terra é dele [Zé Capeta]."
Para o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), o "novo eldorado"
é ilegal até que seja confirmada
se a posse é de Zé Capeta e se a
área está regularizada.
"Eles estão à revelia do Incra.
Oficialmente não há nada que
prove que a terra é dele, mas
vamos tomar as providências
para solucionar o problema",
disse o procurador do Incra no
Amazonas, Bianor Saraiva.
(KB)
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