São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

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BRASIL PROFUNDO

São pelo menos 30 sindicalistas e ativistas que ainda sofrem ameaças de morte, de acordo com a CPT

Só uma pessoa tem proteção policial no Pará

"O Estado do Tapajós"/AE
O corpo da missionária norte-americana Dorothy Stang, na estrada de terra em que foi morta


RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pelo menos 30 sindicalistas e ativistas de entidades de defesa de trabalhadores rurais estão hoje sob ameaça de morte no sudeste e no sul do Pará, segundo levantamento da CPT (Comissão Pastoral da Terra), mas somente uma, a viúva de um sindicalista de Rondon do Pará assassinado em 2004, está sob proteção policial.
A segurança funciona apenas 12 horas por dia e é feita por um único soldado da Polícia Militar do Pará - um voluntário, que se ofereceu para fazer o trabalho depois que vários colegas seus de batalhão recusaram correr o risco.
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rondon do Pará, Maria Joel Dias da Costa, 41, conhecida como Joelma, se diz marcada para morrer. Além de seu marido, outro dirigente do mesmo sindicato, ameaçado de morte diversas vezes, foi morto no ano passado.
Tesoureiro da entidade e amigo de Joelma, José de Ribamar Pereira Nunes, 47, foi assassinado em fevereiro de 2004 com um tiro na nuca disparado por um homem numa motocicleta. O crime continua insolúvel.
O marido de Joelma, José Dutra da Costa, o Dezinho, então presidente do sindicato, foi morto em 21 de novembro de 2000. Após receber um tiro no coração, ele ainda conseguiu se atracar com o atirador, Wellington de Jesus Silva, na época com 20 anos, e empurrá-lo para um buraco. Vizinhos cercaram o buraco, prenderam Silva e o entregaram para a Polícia Militar. Silva segue aguardando julgamento na Penitenciária de Marabá, e é um dos dois únicos acusados de crime de pistolagem contra sindicalistas que estão atrás das grades no sudeste do Pará.
Dois fazendeiros chegaram a ser presos sob acusação de terem encomendado a morte de Costa, mas acabaram soltos e respondem ao processo em liberdade.
Em entrevista concedida à Folha na sede da CPT de Marabá há três semanas, Maria Joel explicou que não pensa em desistir da suas funções no sindicato. "Tenho medo de morrer, mas vou seguir na luta", disse Joelma. A sindicalista afirmou que as ameaças de morte chegam por recados de moradores da cidade.
O nome de Joelma já constava de uma lista de pessoas ameaçadas de morte entregue pela CPT ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva em 2003. Na época, a CPT queria proteção da Polícia Federal para Joelma, mas só o governo do Pará decidiu destinar um único soldado da PM para o trabalho.
Segundo a CPT, o pedido de proteção federal nunca foi respondido formalmente pelo governo federal.

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