|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Comissões expõem conflitos de interesses
Deputados indicados para presidir grupos de trabalho receberam doações eleitorais de empresas de setores ligados a eles
Situação, que não é vedada por regimento, afeta ao menos 6 das 20 comissões, mas parlamentares refutam possibilidade de conflitos
SILVIO NAVARRO
LETÍCIA SANDER
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A nova composição das comissões da Câmara sugere
eventuais conflitos de interesses entre alguns deputados escolhidos para comandar os trabalhos na nova legislatura e as
empresas que financiaram suas
campanhas nas eleições.
Segundo levantamento feito
pela Folha, esse é o caso dos indicados para presidir ao menos
seis das 20 comissões. Eles negam choque de interesses.
O número pode crescer, pois
o PT, até a conclusão desta edição, não havia oficializado seus
indicados para dirigir três comissões -o prazo expira hoje.
Além dos presidentes, os
membros das comissões geralmente têm atividade parlamentar correlata e, muitas vezes, recebem doações de empresas do setor. No regimento
da Câmara não há impedimento para essa situação.
Um dos casos é o de João
Campos (GO), escolhido pelo
PSDB para a Comissão de Segurança Pública e Combate ao
Crime Organizado.
Com carreira de delegado,
Campos teve parte de sua campanha bancada pela Companhia Brasileira de Cartuchos e
pela Taurus -total de R$ 35
mil. Recebeu também recursos
de empresas de segurança.
José Otávio Germano (PP-RS), que deverá controlar a Comissão de Minas e Energia, ganhou R$ 50 mil de empresas
petroquímicas, como a Ipiranga. Outros R$ 100 mil foram repassados pela Gerdau.
Júlio Semeghini (PSDB-SP)
comandará uma das comissões
preferidas da Casa, a de Ciência, Tecnologia e Comunicação.
Ele recebeu R$ 71 mil da Mude,
principal representante de
multinacionais na área de segurança da informação e informática. Também ganhou doações da Embraer (R$ 30 mil) e
do ramo de eletrônicos -da
Siemens e da Tec Toy.
Ministro dos Transportes de
FHC, Eliseu Padilha (PMDB-RS) chefiará a comissão que
cuida da área. Na eleição, ganhou ao menos R$ 380 mil de
empresas do ramo de transportes, construção e engenharia.
Favorita da bancada ruralista, a Comissão de Agricultura
será conduzida por Marcos
Montes (PFL-MG), que recebeu R$ 120 mil em doações de
agropecuárias e empresas de
fertilizantes, e mais R$ 120 mil
de usinas de álcool e açúcar.
Wellington Fagundes (PR-MT) comandará a Comissão de
Desenvolvimento Econômico,
Indústria e Comércio. Sua
campanha arrecadou R$ 154,5
mil de empresas desses ramos.
Função das comissões
Cabe às comissões permanentes a análise dos projetos
que tramitam na Casa. Cada comissão trata de um tema específico -agricultura, transportes, energia etc.
Nos bastidores, elas são o
principal alvo de lobistas no
Congresso. Além disso, os partidos têm interesse em comandá-las devido ao volume de
emendas parlamentares ao Orçamento que passam por elas.
Texto Anterior: Outro lado: Advogado de Duda espera reverter sanção Próximo Texto: PT: Disputa interna adia indicações a comissões sob o comando da legenda Índice
|