São Paulo, terça-feira, 14 de março de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Prefeito transfere ônus da decisão ao PSDB na esperança de reverter favoritismo de Alckmin

Serra admite candidatura à Presidência, mas sem prévia

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia após ser informado de que não detém o apoio de parcela expressiva do partido, o prefeito de São Paulo, José Serra, admitiu ontem, pela primeira vez publicamente, sua candidatura à Presidência. Mas, reafirmando que não enfrentará uma prévia, transferiu ao PSDB a responsabilidade de uma eventual opção pela candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que não apresenta o mesmo desempenho que ele nas pesquisas.
À espera do resultado de uma pesquisa que supostamente registraria sua recuperação na corrida presidencial, Serra tenta ganhar tempo com o gesto. Sua intenção é esperar até quinta-feira, quando devem ser divulgados os números de um levantamento do instituto Ibope.
Se não conseguir adiar a decisão do partido, o prefeito deve abrir espaço para que Alckmin seja declarado o candidato, provavelmente hoje. O prefeito deixou uma brecha para o desembarque da disputa ao afirmar que não aceitará uma prévia. "Decidi deixar à disposição do partido a minha indicação para disputar a presidência da República, mas sem realização de prévia. Se tiver disputa vamos ter de examinar", disse Serra, à porta de sua casa, um dia após uma longa conversa com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Interlocutores de Serra traduziram a declaração como uma tentativa de sair do corner e impor um xeque-mate ao partido, que terá de assumir o ônus da decisão. "A decisão não é minha, como muita gente vinha pensando. Não se trata de uma decisão, se trata de colocar à disposição. Se o partido entender que sim, poderei vir a ser o candidato", argumentou.
Ao saber das declarações de Serra, Alckmin afirmou que "todas as informações estão disponíveis para que o PSDB faça uma boa escolha". "Tenho certeza de que o PSDB vai chegar à eleição forte e unido pelo bem do Brasil."
Embora chamando de legítima a postulação do governador, Serra insinuou ainda que a insistência de Alckmin por uma disputa poderá provocar racha partidário. "Ele [Alckmin] fala inclusive de se fazer uma prévia, consulta prévia, coisas assim. Acho isso, no entanto, inadequado do ponto de vista da soma de forças que se necessita para uma campanha muito difícil como a que teremos pela frente."

Governadores
O triunvirato que coordena a escolha do candidato, formado por Tasso, FHC e Aécio, convidou os governadores do partido para um almoço hoje, em São Paulo, com a presença de Serra e de Alckmin.
Além de Aécio e Alckmin, o PSDB tem cinco governadores. A inclusão deles na reunião final busca, primeiro, criar um fórum maior para tentar um entendimento. Aécio, Tasso e FHC avaliam que passou a hora de uma palavra final do triunvirato bastar para a escolha do candidato.
Esse triunvirato já foi totalmente pró-Serra. FHC continua a apoiar o prefeito. Tasso era favorável a Alckmin, atuou em favor de Serra quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recuperou cacife nas pesquisas e voltou a preferir o governador diante da hesitação do prefeito, que descumpriu acordo para responder no início do mês se queria ser candidato. Como revelou ontem a Folha, Aécio, antes simpático a Serra, passou a apoiar Alckmin após a demora do prefeito em assumir sua pré-candidatura. Ontem, porém, Aécio telefonou a Serra, negando que apóie o governador.

Pesquisas
Serra disse que se apresentou ao PSDB em razão do fato de que as pesquisas, "há muitos meses", vêm apontando seu nome "como o mais forte para disputar com o presidente Lula neste ano". "Vejo, no entanto, que não há condições de fazer uma prévia no PSDB. Porque uma prévia vai acabar dividindo o partido, criando problemas, rivalidades, inclusive, no fundo, favorecendo o adversário", alegou.
O prefeito disse que pretende se candidatar porque "o Brasil precisa mudar". "O Brasil, nos últimos anos, foi tomado por uma onda de corrupção, perda de moralidade na vida pública, de economia estagnada, com desemprego alto e em elevação, que é o que vai acontecer nesse ano. Temos que dar outro rumo para o Brasil."
Cuidadosamente estudada e discutida com aliados, a declaração antecedeu um encontro de Serra com o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati, e o governador de Minas, Aécio Neves.
Na véspera, Serra saiu de uma reunião com FHC certo de que não contaria com o apoio de Minas e do Ceará numa disputa interna. O prefeito passou a madrugada analisando, com aliados, as chances de vitória numa consulta ao partido. Segundo os cálculos, ele poderia até ganhar, mas a disputa produziria traumas em São Paulo. Serra avalia que, se vencer, poderá ter a vitória pontual transformada em derrota mais à frente. Correrá o risco de ver Alckmin cruzar os braços no maior colégio eleitoral do país, com 22,36% do eleitorado.
Antes mesmo da conversa com FHC e aliados, os serristas tinham informações de que o prefeito não teria maioria nem em Minas nem no Ceará. Segundo reconheceu o governador do Ceará, Lúcio Alcântara, dos nove deputados federais do partido no Estado, apenas um apóia o prefeito.


Colaboraram KENNEDY ALENCAR, da Sucursal de Brasília, e CONRADO CORSALETTE, da Reportagem Local

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