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Lula desperdiça chance para estreitar laços, diz especialista
Peter Hakim diz que muita gente queria ver o brasileiro, que só terá dois encontros
Presidente da organização Diálogo Interamericano diz que os EUA pretendem ouvir o Brasil sobre a crise, "mas eles não vão resolver nada"
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Com uma visita de poucas
horas e só dois encontros, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva está desperdiçando sua
ida a Washington, afirma Peter
Hakim, presidente da organização Diálogo Interamericano.
"Não há esforço em estender
a mão para pessoas influentes
em Washington... Por aqui ninguém entendeu [a pressa]."
Além do presidente Barack
Obama, Lula se reúne hoje com
John Sweeney, da AFL-CIO,
maior central sindical dos
EUA. À tarde, partirá para Nova York, ignorando críticas de
esnobar ministros e congressistas que "adorariam falar
com o presidente brasileiro".
FOLHA - O que os EUA querem do
Brasil neste momento?
PETER HAKIM - Os EUA não querem nada do Brasil. O encontro
é um reconhecimento de que o
país atingiu uma influência regional significativa, que é muito
importante para os EUA. Lula é
claramente o mais importante
dos líderes latino-americanos,
e Obama quer conversar com
ele para ver como o Brasil se
posiciona em diversos temas. A
crise financeira será o tópico
principal. Os EUA estão preocupados com os efeitos da crise
em mercados emergentes e
querem ouvir o Brasil, mas eles
não vão resolver nada concreto.
FOLHA - E da parte do Brasil?
HAKIM - Meu palpite é que Lula
não virá a Washington com nenhum pedido ou exigência real.
O Brasil não tem hoje nenhum
item que tem que ser resolvido
com urgência com os EUA. Não
vai chegar aqui para lavar a roupa suja. Será uma conversa
muito genérica sobre assuntos
bilaterais e regionais. Obama
vai querer saber o que Lula
pensa sobre Hugo Chávez e as
relações no hemisfério.
O que todos por aqui estão
especulando é por que Lula não
está aproveitando melhor sua
vinda a Washington. Ele vai ficar poucas horas e só pretende
ter outro encontro além de
Obama, com sindicatos. Nem
tentou conversar com legisladores, ministros e organizações
civis que adorariam falar com
ele. Por que não usar melhor
essa oportunidade e sair correndo? Não há esforço em estender a mão para pessoas influentes em Washington. O
Brasil se tornou uma marca em
voga e poderia aproveitar isso
melhor. Ninguém entendeu.
FOLHA - A expectativa é que Lula
aborde as tarifas sobre o álcool brasileiro nos EUA e o protecionismo.
HAKIM - Esses assuntos são politicamente muito sensíveis por
aqui. Imagino que Lula dirá como é importante que os EUA
evitem o protecionismo e as
cláusulas "Buy American", mas
não será na forma de uma exigência, e sim na apresentação
de um ponto de vista. Obama e
Lula deverão falar sobre o que
esperam que aconteça em Londres [na cúpula do G20]. Podem tentar construir algum pano de fundo comum. Mas não
acho que Obama fará nenhuma
promessa forte, nem que Lula
esteja pronto para se comprometer com posições dos EUA.
FOLHA - E sobre a Rodada Doha?
HAKIM - Será dificílimo convencer Obama agora a fazer um
esforço muito grande sobre Doha. O comércio internacional
não é uma prioridade muito alta para este governo no momento. Obama vai ouvir. Mas
não haverá avanços concretos.
FOLHA - Como é a relação dos dois?
HAKIM - Acho muito difícil falar em uma relação. Os EUA e o
Brasil nunca foram aliados próximos, exceto talvez na Segunda Guerra. Também não são
adversários nem parceiros estratégicos. São dois países que
reconhecem a importância um
do outro e querem manter bons
diálogos. A questão não é o relacionamento, mas os temas. Podem Brasil e EUA avançar em
acordos sobre energia, biocombustíveis, o ambiente, a Amazônia? Isso sim é importante.
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