São Paulo, sábado, 14 de março de 2009

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Lula desperdiça chance para estreitar laços, diz especialista

Peter Hakim diz que muita gente queria ver o brasileiro, que só terá dois encontros

Presidente da organização Diálogo Interamericano diz que os EUA pretendem ouvir o Brasil sobre a crise, "mas eles não vão resolver nada"

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Com uma visita de poucas horas e só dois encontros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está desperdiçando sua ida a Washington, afirma Peter Hakim, presidente da organização Diálogo Interamericano. "Não há esforço em estender a mão para pessoas influentes em Washington... Por aqui ninguém entendeu [a pressa]." Além do presidente Barack Obama, Lula se reúne hoje com John Sweeney, da AFL-CIO, maior central sindical dos EUA. À tarde, partirá para Nova York, ignorando críticas de esnobar ministros e congressistas que "adorariam falar com o presidente brasileiro".

 

FOLHA - O que os EUA querem do Brasil neste momento?
PETER HAKIM
- Os EUA não querem nada do Brasil. O encontro é um reconhecimento de que o país atingiu uma influência regional significativa, que é muito importante para os EUA. Lula é claramente o mais importante dos líderes latino-americanos, e Obama quer conversar com ele para ver como o Brasil se posiciona em diversos temas. A crise financeira será o tópico principal. Os EUA estão preocupados com os efeitos da crise em mercados emergentes e querem ouvir o Brasil, mas eles não vão resolver nada concreto.

FOLHA - E da parte do Brasil?
HAKIM
- Meu palpite é que Lula não virá a Washington com nenhum pedido ou exigência real. O Brasil não tem hoje nenhum item que tem que ser resolvido com urgência com os EUA. Não vai chegar aqui para lavar a roupa suja. Será uma conversa muito genérica sobre assuntos bilaterais e regionais. Obama vai querer saber o que Lula pensa sobre Hugo Chávez e as relações no hemisfério. O que todos por aqui estão especulando é por que Lula não está aproveitando melhor sua vinda a Washington. Ele vai ficar poucas horas e só pretende ter outro encontro além de Obama, com sindicatos. Nem tentou conversar com legisladores, ministros e organizações civis que adorariam falar com ele. Por que não usar melhor essa oportunidade e sair correndo? Não há esforço em estender a mão para pessoas influentes em Washington. O Brasil se tornou uma marca em voga e poderia aproveitar isso melhor. Ninguém entendeu.

FOLHA - A expectativa é que Lula aborde as tarifas sobre o álcool brasileiro nos EUA e o protecionismo.
HAKIM
- Esses assuntos são politicamente muito sensíveis por aqui. Imagino que Lula dirá como é importante que os EUA evitem o protecionismo e as cláusulas "Buy American", mas não será na forma de uma exigência, e sim na apresentação de um ponto de vista. Obama e Lula deverão falar sobre o que esperam que aconteça em Londres [na cúpula do G20]. Podem tentar construir algum pano de fundo comum. Mas não acho que Obama fará nenhuma promessa forte, nem que Lula esteja pronto para se comprometer com posições dos EUA.

FOLHA - E sobre a Rodada Doha?
HAKIM
- Será dificílimo convencer Obama agora a fazer um esforço muito grande sobre Doha. O comércio internacional não é uma prioridade muito alta para este governo no momento. Obama vai ouvir. Mas não haverá avanços concretos.

FOLHA - Como é a relação dos dois?
HAKIM
- Acho muito difícil falar em uma relação. Os EUA e o Brasil nunca foram aliados próximos, exceto talvez na Segunda Guerra. Também não são adversários nem parceiros estratégicos. São dois países que reconhecem a importância um do outro e querem manter bons diálogos. A questão não é o relacionamento, mas os temas. Podem Brasil e EUA avançar em acordos sobre energia, biocombustíveis, o ambiente, a Amazônia? Isso sim é importante.


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