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GOVERNO
Em 90, o atual presidente chamou a prática de "abuso da paciência"
FHC ultrapassa Collor em
nº de medidas provisórias
WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso editou mais medidas
provisórias do que o ex-presidente
Fernando Collor de Mello. Até o
final de fevereiro, FHC havia editado 108 MPs, alcançando média
de 2,84 por mês. Collor editou 84,
numa média de 2,75 por mês.
Quando era senador, FHC atacou o excesso de MPs do governo
Collor. Em junho de 1990, na coluna semanal que publicava na Folha, criticou o "abuso da paciência
e da inteligência do país" representado pela constante edição de
medidas provisórias. Em dois meses e meio, Collor havia editado 42
medidas provisórias.
"O Executivo (...) insiste em editar medidas provisórias sob o pretexto de que, sem sua vigência
imediata, o Plano Collor vai por
água abaixo e, com ele, o combate
à inflação", escreveu o então senador do PSDB de São Paulo.
"Com esse ou com pretextos semelhantes, o governo afoga o
Congresso numa enxurrada de
medidas provisórias. O resultado é
lamentável: Câmara e Senado nada mais fazem do que apreciá-las
aos borbotões."
FHC também é o recordista em
reedição de medidas provisórias.
Em 38 meses de governo, reeditou
1.839 MPs, cinco vezes mais que
seu antecessor, Itamar Franco, e
24 vezes mais do que Collor.
As medidas provisórias são reeditadas quando não são votadas
pelo Congresso no prazo de 30
dias. Se não fossem reeditadas,
perderiam a validade. Elas podem
ser mudadas entre uma reedição e
outra.
Criada em 1988 em substituição
ao decreto-lei, a medida provisória tem valor de lei a partir do momento de sua publicação pelo
"Diário Oficial" da União.
Real provisório
Fernando Henrique Cardoso, no
artigo publicado na Folha, também criticou o ex-presidente José
Sarney. "(Ele) foi o primeiro a
abastar tal entendimento", afirmou FHC.
Sarney editou 116 MPs. "Elas
passaram a ser editadas como se
fossem os antigos decretos-leis",
completou FHC.
A diferença entre os dois presidentes é que, embora Sarney tenha editado em média 6,71 MPs
por mês de governo, ele conseguiu
que elas fossem aprovadas no
Congresso rapidamente. Tanto,
que só reeditou 22 delas.
O artigo do então senador Fernando Henrique Cardoso foi escrito antes de ele se tornar ministro do governo Itamar Franco -o
presidente que mais editou MPs
(141, em dois anos e três meses).
O Plano Real, lançado quando
FHC era ministro da Fazenda de
Itamar Franco, foi colocado em
prática por meio de medida provisória, ato criticado por ele em seu
artigo.
A medida provisória que criou a
atual moeda, em julho de 1994,
tramitou durante 14 meses no
Congresso Nacional até ser aprovada e se tornar a lei 9.069/95.
Urgência e relevância
Atualmente, há 62 medidas provisórias tramitando no Congresso.
Para cada uma delas foi criada
uma comissão mista (de deputados e senadores) que deve dizer se
a proposta é admissível ou não.
Ou seja, se é constitucional, urgente e relevante.
A medida provisória que tramita
há mais tempo é a que trata do uso
das Notas do Tesouro Nacional
(NTN) para aquisição de bens do
Programa Nacional de Desestatização. Ela está sendo reeditada há
51 meses, ou seja, há quatro anos e
três meses.
As regras das mensalidades escolares em vigor também foram
criadas por medida provisória que
ainda não foi aprovada. São originárias do governo Itamar Franco e
estão sendo reeditadas há 46 meses.
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