São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 2000


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GOVERNO
PF e general interpretam de forma diferente a revisão de decreto que criou a Secretaria Nacional Antidroga
FHC muda Senad, mas polêmica segue

AUGUSTO GAZIR
da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso determinou a revisão do decreto de criação da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) para tentar acabar com a disputa entre a secretaria e a Polícia Federal.
Declarações de membros do governo demonstram, no entanto, que a mudança no texto não deve encerrar o conflito de poderes que resultou, nesta semana, na queda do ministro da Justiça, José Carlos Dias, e do secretário nacional Antidrogas, Wálter Maierovitch.
O general Alberto Cardoso, da Secretaria de Segurança Institucional, disse ontem que as alterações no texto "não vão mudar em nada as atribuições" da Senad.
"Sem mudar o mérito do decreto, ou seja, sem mudar a finalidade, a destinação e as atribuições da Senad, vamos verificar que verbos ali estão suscitando dúvidas e definir bem o significado deles, para que não haja condições para ter dúvidas", disse.
Ele disse que será alterada a parte do decreto que fala sobre "controle" da repressão .
"O verbo controlar causa dúvidas. Controlar é fiscalizar uma determinada operação para evitar que haja desvio do que foi planejado. A Senad só vai controlar operações que ela planejou."
Numa demonstração de que a polêmica continua, o diretor-geral da PF, Agílio Monteiro Filho, deu outra interpretação às mudanças no decreto. Para ele, a decisão reforça a primazia da PF nas operações de repressão ao tráfico.
"A Constituição está em vigor. A Polícia Federal tem uma missão constitucional. Ficou claro que função de polícia é da PF. Afinal de contas, a Senad não é uma delegacia de polícia", disse.
"O decreto da Senad será revisto para que sejam esclarecidas as dúvidas. Vai ficar bem definido e bem claro que a missão de repressão é da Polícia Federal", completou.
A alteração é, porém, vista no próprio Planalto como uma mudança "cosmética".
Aposta-se agora na habilidade de Gregori, visto como uma pessoa com bom jogo de cintura, para evitar novos embates com o general Cardoso. Na prática, Cardoso continuará coordenando as ações contra o narcotráfico.
A disputa pelo controle da repressão ao narcotráfico entre a PF e a Senad causou a saída dos dois últimos ministros da Justiça. Na última terça-feira, José Carlos Dias saiu do governo depois de conflito com o general Cardoso. Wálter Maierovitch também caiu por causa da briga.
Ontem, Gregori, Cardoso e Monteiro Filho chamaram os fotógrafos para registrar um encontro no Ministério da Justiça. Na noite anterior, os três haviam se reunido com FHC e o ministro Pedro Parente (Casa Civil) no Palácio da Alvorada.
O porta-voz da Presidência, Georges Lamazière, afirmou ontem que, por determinação de FHC, as mudanças deverão ser feitas em até um mês.
Segundo o general Cardoso, quando a PF tiver de atuar sozinha -como faz na maioria dos casos-, a Senad "não tem de entrar, não tem nada o que coordenar, como nunca fez e nem quis fazer". Ele faz uma exceção: "Só se a Polícia Federal solicitar".
Caberá à secretaria antidrogas, segundo o general, coordenar ações em que a PF esteja atuando com outros órgãos.
Cardoso negou que esteja havendo sobreposição de funções no combate ao narcotráfico entre a Senad e a PF. "A Senad foi criada para ocupar um espaço que não era ocupado, que é o de coordenar ações conjuntas. Essas ações isoladas da PF continuam."
Segundo Cardoso, o nome do substituto do ex-secretário está sendo analisado. Ele disse que Denise Frossard é um bom nome, mas que não há decisão.


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