São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Reitor da UnB deixa o cargo após invasão de estudantes

Decisão foi anunciada depois da renúncia do vice-reitor e de pressão de Haddad

Reitor temporário deverá conduzir universidade, que vive crise por conta de desvio de dinheiro de pesquisa para móveis

SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O reitor licenciado da UnB (Universidade de Brasília), Timothy Mulholland, renunciou ao cargo ontem, por telefone, durante reunião entre o ministro da Educação, Fernando Haddad, representantes dos professores, servidores, estudantes e integrantes do Consuni (Conselho Universitário). O ministro deu prazo até amanhã às 18h para que a comunidade acadêmica apresente um nome para assumir o cargo a partir de quarta.
Cabe a Haddad a escolha de um reitor "pro tempore". Se não houver unanimidade entre professores, servidores e estudantes, o ministro fará a escolha. "Não podemos deixar a universidade acéfala. Há decisões importantes para serem tomadas." O substituto ficará no posto por até 180 dias, prazo em que terá de convocar e realizar eleição da nova diretoria da UnB.
Segundo a Folha apurou, um dos cotados é Antonio Carlos Pedroza, professor do Instituto de Física da universidade. Com 27 pessoas ligadas à UnB, a reunião de ontem tinha sido convocada por Haddad para tentar superar impasse iniciado em 3 de abril, quando alunos invadiram a reitoria.
Por conta do desvio de R$ 470 mil de verba de pesquisa para comprar móveis de luxo, eles queriam a saída de Timothy e de toda a direção, composta por um vice-reitor e cinco decanos. A situação se agravou no sábado, com a renúncia do vice-reitor, Edgar Mamyia.
A solução imediata seria então que o mais velho dos decanos assumisse como reitor, mas o telefonema de Timothy ao ministro às 15h30, renunciando "em nome da pacificação", fez com que toda a direção da UnB automaticamente caísse. "O mero afastamento do reitor parecia não resolver a crise porque estava mantida sua equipe de decanos. Em virtude deste descompasso, a solução era difícil", disse Haddad.
O ministro disse esperar que a comunidade acadêmica escolha um nome até terça-feira e também pediu aos estudantes que desocupem a UnB para garantir ao reitor "pro tempore" condições de trabalho.
"Os estudantes que estavam aqui estão levando pedido [para que deixem a reitoria]", afirmou Haddad. Ele disse concordar com as demais reivindicações dos estudantes (a principal é alterar o sistema de escolha de reitores, ampliando a participação dos alunos) e pediu que sejam negociadas sem que continuem a invasão.
A aparente coincidência na dupla renúncia do reitor e vice-reitor no fim de semana, conforme apurou a Folha, foi uma jogada ensaiada entre o MEC e a UnB para que o substituto tenha poder para chamar nova eleição. Se Timothy e Mamyia não abdicassem de seus cargos, o reitor "pro tempore" não poderia fazer a convocação.
No sábado, Mamya ligou para o ministério e pediu um encontro com Haddad. Ao chegar ao MEC, estava acompanhado de Timothy. O ministro ouviu do vice-reitor a decisão de renunciar e, segundo a Folha apurou, pressionou o reitor para que fizesse o mesmo.
A presidente da Associação dos Docentes da UnB, Raquel Cunha, afirmou que os participantes não entenderam a convocação do MEC como "intervenção" e que "possivelmente" haverá um nome de consenso. Os estudantes, professores, servidores e integrantes do Consuni se reúnem hoje para discutir o reitor temporário.


Colaboraram JOHANNA NUBLAT , da Sucursal de Brasília, e ELIANE CANTANHÊDE , colunista da Folha


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Assembléia: Alunos da UnB decidem hoje se deixam a reitoria
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.