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Reitor da UnB deixa o cargo após invasão de estudantes
Decisão foi anunciada depois da renúncia do vice-reitor e de pressão de Haddad
Reitor temporário deverá
conduzir universidade,
que vive crise por conta
de desvio de dinheiro de
pesquisa para móveis
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O reitor licenciado da UnB
(Universidade de Brasília), Timothy Mulholland, renunciou
ao cargo ontem, por telefone,
durante reunião entre o ministro da Educação, Fernando
Haddad, representantes dos
professores, servidores, estudantes e integrantes do Consuni (Conselho Universitário).
O ministro deu prazo até
amanhã às 18h para que a comunidade acadêmica apresente um nome para assumir o cargo a partir de quarta.
Cabe a Haddad a escolha de um reitor
"pro tempore". Se não houver
unanimidade entre professores, servidores e estudantes, o
ministro fará a escolha. "Não
podemos deixar a universidade
acéfala. Há decisões importantes para serem tomadas."
O substituto ficará no posto
por até 180 dias, prazo em que
terá de convocar e realizar eleição da nova diretoria da UnB.
Segundo a Folha apurou, um
dos cotados é Antonio Carlos
Pedroza, professor do Instituto
de Física da universidade.
Com 27 pessoas ligadas à
UnB, a reunião de ontem tinha
sido convocada por Haddad para tentar superar impasse iniciado em 3 de abril, quando
alunos invadiram a reitoria.
Por conta do desvio de R$ 470
mil de verba de pesquisa para
comprar móveis de luxo, eles
queriam a saída de Timothy e
de toda a direção, composta
por um vice-reitor e cinco decanos. A situação se agravou no
sábado, com a renúncia do vice-reitor, Edgar Mamyia.
A solução imediata seria então que o mais velho dos decanos assumisse como reitor,
mas o telefonema de Timothy
ao ministro às 15h30, renunciando "em nome da pacificação", fez com que toda a direção da UnB automaticamente
caísse. "O mero afastamento do
reitor parecia não resolver a
crise porque estava mantida
sua equipe de decanos. Em virtude deste descompasso, a solução era difícil", disse Haddad.
O ministro disse esperar que
a comunidade acadêmica escolha um nome até terça-feira e
também pediu aos estudantes
que desocupem a UnB para garantir ao reitor "pro tempore"
condições de trabalho.
"Os estudantes que estavam
aqui estão levando pedido [para que deixem a reitoria]", afirmou Haddad. Ele disse concordar com as demais reivindicações dos estudantes (a principal é alterar o sistema de escolha de reitores, ampliando a participação dos alunos) e pediu que sejam negociadas sem
que continuem a invasão.
A aparente coincidência na
dupla renúncia do reitor e vice-reitor no fim de semana, conforme apurou a Folha, foi uma
jogada ensaiada entre o MEC e
a UnB para que o substituto tenha poder para chamar nova
eleição. Se Timothy e Mamyia
não abdicassem de seus cargos,
o reitor "pro tempore" não poderia fazer a convocação.
No sábado, Mamya ligou para o ministério e pediu um encontro com Haddad. Ao chegar
ao MEC, estava acompanhado
de Timothy. O ministro ouviu
do vice-reitor a decisão de renunciar e, segundo a Folha
apurou, pressionou o reitor para que fizesse o mesmo.
A presidente da Associação
dos Docentes da UnB, Raquel
Cunha, afirmou que os participantes não entenderam a convocação do MEC como "intervenção" e que "possivelmente"
haverá um nome de consenso.
Os estudantes, professores,
servidores e integrantes do
Consuni se reúnem hoje para
discutir o reitor temporário.
Colaboraram JOHANNA NUBLAT , da Sucursal
de Brasília, e ELIANE CANTANHÊDE , colunista
da Folha
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