São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 2002

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NO AR

Terrorismo

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Lula já fala em fragilidade da democracia brasileira.
Fragilidade que se manifestaria a cada eleição. Ou a cada campanha em que é alvo de "terrorismo barato", expressão dele para a vinculação das suas chances crescentes de vitória à queda na Bolsa etc.
- Um absurdo.
Era ele, na Jovem Pan. Absurdo ou não, em conversa com correspondentes estrangeiros, Lula tratou de vestir o terno novo, garantindo estabilidade e pagamento da dívida.
O terrorismo retórico que assustou Lula explodiu logo cedo, num diálogo do presidente do Banco Central com o Bom Dia Brasil. Primeira pergunta da Globo:
- O governo considera que os programas dos outros pré-candidatos são tão bons ou tranquilizadores quanto o do candidato do governo?
E Armínio Fraga, no Bom Dia e no Jornal Nacional:
- Não está claro que seja assim... Minha leitura tem a ver com a sensação de dúvida sobre se as coisas continuarão no caminho certo... Os fundamentos da economia brasileira estão bem e no caminho certo, mas isso pode mudar. É essa dúvida que paira no ar.
Ele não parou por aí. Mais Fraga, em campanha:
- O receio que paira no ar, hoje no mundo, tem a ver com a experiência atual na Argentina e não é de que haverá um rompimento imediato. O medo é que se entre numa trajetória onde se vão dando pequenos passos na direção errada. Aí, um belo dia, você acorda e se dá conta de onde está.
Na Argentina -era o que ele queria dizer. Daí a pergunta da Globo, explícita:
- Há risco de o Brasil se transformar num caso como o da Argentina?
- O risco é remoto, mas sempre existe esse risco.
Fosse propaganda eleitoral e a retórica do presidente do Banco Central seria enquadrada como parte de um esforço de demonização de Lula.
Demonização de que também fez uso José Serra, com destaque no mesmo JN -depois de Lula, editado com som grosseiro e em close, prometer demitir Fraga. De Serra:
- É preciso manter a casa arrumada se não o Brasil vira Argentina.
 
O alvo de Fraga era Lula, em parte. Em outra parte, era o PFL, responsável pelo "caos" do Congresso, que retarda "coisas importantes das quais depende o futuro do país".
No caso do PFL, o terror teve efeito imediato. Como destacou o JN, o relator da CPMF no Senado, o pefelista Bernardo Cabral, já "vai antecipar" o calendário de votação.



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